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Primeiro vinho elétrico-solar de Portugal chega em 2025

O primeiro vinho em Portugal produzido a partir de um projeto agrivoltaico vai ser vindimado em 2025. Apesar de só terem sido instalados em maio, a vindima ocorreu duas semanas mais tarde face ao habitual, o que pode ser um bom indício. Galp diz que vai esperar pelos resultados do projeto piloto para decidir se aposta em mais projetos agrivoltaicos.
22 Outubro 2024, 07h30

O primeiro vinho elétrico-solar de Portugal chega em 2025. Este vinho vai nascer do projeto piloto de tecnologia agrivoltaica que está a ser desenvolvido na Tapada da Ajuda na vinha do Instituto Superior de Agronomia (ISA) em parceria com a Galp.

Os painéis foram instalados em maio, e permitiram uma vindima mais tardia na respetiva zona. Mas os efeitos completos só serão sentidos na vindima de 2025, quando for concluído um ciclo biológico completo. O piloto prevê estudar os resultados nos próximos dois anos, ao longo de dois ciclos biológicos.

As vinhas produzidas na Tapada da Ajuda servem de apoio para os estudos de viticultura e enologia do ISA que também conta com uma Adega Experimental para apoiar precisamente o estudo, prática e investigação da enologia, e onde é vinificada grande parte das uvas destas vinhas.

Estes vinhos vão vendidos “como vinhos de ensaios aos funcionários do ISA”, explicou o professor Carlos Lopes desta faculdade ao JE.

Quais as vantagens destes painéis sobre as vinhas? “Protegem a cultura do calor excessivo, da chuva intensa, do granizo”, disse Carla Tavares da Galp, diretora para as energias renováveis. “Reduz também a evapotranspiração do solo, reduz substancialmente o consumo de água, e o bago tem uma maturidade mais lenta”.

Ao mesmo tempo, o projeto solar permite “produzir energia limpa renovável e trazer uma fonte de rendimento adicional ao agricultor”.

“Nos próximos dois anos vamos testar de forma rigorosa todos estes parâmetros. Ainda é cedo para tirar conclusões, mas só com algumas semanas de painéis, a vindima atrasou cerca de duas semanas, um efeito bastante promissor”, acrescentou na apresentação do evento que teve lugar na segunda-feira no ISA.

Já Thayná Camões, gestora deste projeto pela Galp, disse que a ideia foi respeitar as “condições existentes na vinha, procurando ter o menor impacto possível quer na cultura, quer na qualidade”.

A Galp não revelou os valores de investimento neste projeto.

Por sua vez, o professor Carlos Lopes do ISA sublinhou que a Tapada da Ajuda tem uma “influência mediterrânica” com “dias muito quentes no verão, radiação a mais. Num dia normal de verão temos o dobro, esta radiação a mais não contribui para nada”, apontando para efeitos negativos: “escaldão das folhas, escaldão dos cachos. Tudo contribui para efeitos negativos nas nossas plantas, com perda de produção” e com impacto negativo no “bolso” do produtor.

“As consequências parecem positivas”, mas apontou que é preciso mais “dois ou três anos para ter dados mais robustos”, apontando que os painéis foram instalados numa fase já tardia do ciclo biológico.

O especialista em viticultura com quarenta anos de experiência, apontou que antes as vindimas tinham lugar no “final de setembro, princípio de outubro”, mas agora “temos castas que vindimamos na última semana de julho. É extremamente precoce. Isto implica maturações desequilibradas: excessiva acumulação de açúcar e excessiva acumulação de acidez. Estes primeiros dados dão-nos pistas interessantes”.

O administrador da Galp Georgios Papadimitriou, por seu turno, prometeu regressar ao ISA em 2025 para vindimar a primeira colheita deste vinho “fotovoltaico” e “elétrico” e para dar o nome ao mesmo.

Questionado pelo JE se a ideia será replicar o conceito agrivoltaico noutros projetos da Galp, o gestor disse que depende do desenvolvimento deste projeto e que ainda é muito cedo para avaliar. “Demora três anos, e precisamos de ver o desempenho da tecnologia e das estruturas. No final, vamos ver os benefícios e como a tecnologia agrivoltaica desenvolveu e vamos tomar decisões”.

Teoricamente, o agrivoltaico tem várias vantagens. Primeiro, promove o uso dual da terra, para a produção agrícola e de energia; depois, gera mais rendimento para o agricultor; em terceiro, pode gerar energia a partir de fontes renováveis para autoconsumo; em quarto, é uma medida polivalente de adaptação às alterações climáticas: proteção da videira contra as ondas de calor, granizo e chuvas intensas, redução da evapotranspiração e consequente poupança de água, maturações mais lentas e equilibradas, entre outras.

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