Durante a conferência Money Summit, no painel sobre “Inovação e Tecnologia na Banca”, os CEO do Banco Montepio, Pedro Leitão; CEO do Banco Santander Portugal, Pedro Castro e Almeida; CEO da Caixa Geral de Depósitos, Paulo Macedo; o CEO do Banco Millennium BCP, Miguel Maya; e o CEO do BPI, João Pedro Oliveira e Costa, puseram a regulação como o “elefante na sala”. Isto numa altura em que o Banco de Portugal decretou que, a partir de janeiro de 2026, os bancos vão ter de constituir uma almofada contracíclica no rácio de capital, que corresponderá a 0,75% sobre a exposição dos bancos ao setor privado não financeiro em Portugal.
Os custos da regulação e da inovação, e ambos relacionados, marcou o debate.
Pedro Castro e Almeida, CEO do Santander Totta trouxe o tema para o debate de “Bruxelas ser o Silicon Valley da regulação e Frankfurt ser o Silicon Valley na regulação dos bancos”.
“Enquanto nos Estados Unidos saem três a quatro mil regulações, na Europa saem 15 mil”, disse o CEO do Santander.
“Quando oiço a supervisão a dizer que quer simplificar, tenho algum medo do que vem aí”, disse o banqueiro que trouxe o número de 600 mil milhões de euros que a banca, a nível mundial, investe em tecnologia, dos quais mais de metade vai para regulação. “A regulação é o elefante na sala”, disse Pedro Castro e Almeida.
Depois, o presidente do Banco Montepio concordou dizendo que na instituição que preside 35% da capacidade de investimento em IT (Tecnologia de Informação) e em Dados é consumida por projetos regulatórios.
“Há um custo escondido que é o investimento em tecnologia”, defendeu ainda.
Já Paulo Macedo salientou que as reservas anticíclicas imobilizam capital com prejuízo para os acionistas e lembrou que atualmente os bancos estão com níveis históricos de capital, ao contrário do tempo das crises passadas.
“Os bancos absorvem esse valor” e a CGD “tem capital suficiente para cumprir as regras”, foi a mensagem deixada pelo CEO da CGD.
O banqueiro defendeu que as reservas de capital são no entanto importantes para o turnaround que alguns bancos fizeram, pois “o mais importante é termos bancos saudáveis”.
“Mas até onde é que se vai” nas exigências de capital, questionou Paulo Macedo.
O CEO do BCP concordou que “a própria regulação cria entraves à criação de valor” e lembrou o fenómeno de deslocação dos serviços tradicionalmente bancários para os chamados shadow banks.
Miguel Maya preferiu optar por falar das contribuições para o Fundo de Resolução nacional que os bancos são obrigados a pagar o que é uma fatura que só recai sobre os bancos e filiais de bancos, mas não sobre sucursais de bancos estrangeiros ou fintechs. “Enquanto estiver à frente do BCP não me vou conformar que essa falta de level playing field”, disse o CEO do BCP.
A este propósito Pedro Castro e Almeida lembrou que essa realidade é um incentivo a que as filiais de bancos estrangeiros passem a sucursal para evitar esses custos.
Sobre alterações no horizonte à contribuição extraordinária e ao adicional de solidariedade impostos à banca, o Pedro Castro e Almeida diz que não há incentivos políticos, pois os governantes governam em função do que o “mainstream da rua pensa”.
Em contraposição Paulo Macedo, da CGD, lembrou que “não há só um lado da história”, porque o Fundo de Resolução também vai passar a receber dividendos do Novobanco. “É preciso ter em conta com o que foi devolvido e com o que ainda vai ser devolvido”.
Mais à frente no debate, Paulo Macedo revelou mesmo que a Caixa paga 4,5 milhões de euros por dia ao Estado, entre dividendos e impostos.
Já Pedro Leitão disse que 2% do ROE do Montepio vai para “custos com taxas”.
João Pedro Oliveira, do BPI, lembrou que o adicional de solidariedade e a contribuição extraordinária “são faturas ideológicas”.
O CEO do BPI, João Pedro Oliveira e destacou que a “inovação não poupa custos, pelo contrário” e “o regulador está sempre a pedir coisas novas”. João Pedro Oliveira e Costa salientou que o investimento que a banca faz em inovação é para criar segurança.
O banqueiro disse ainda que “é impossível as lideranças de bancos hoje não terem conhecimentos tecnológicos e de inovação, não basta perceber de finanças e de clientes”.
O presidente do BPI também não considera que a banca esteja a perder atratividade para a retenção e captação de talento.
Fintechs ameaças ou parceiras?
Na conferência organizada pela EY (com a SIC, Expresso e Iberinform) os CEO dos principais bancos portugueses foram questionados pela “ameaça” das fintechs à banca.
O CEO do BPI lembrou o dever fiduciário dos bancos (de salvaguardar o dinheiro dos outros), que nunca foi substituído por novos entrantes. “Os bancos têm um papel muito importante para a economia”, defendeu João Pedro Oliveira e Costa.
“As poupanças dos portugueses não estão nas fintechs, estão nos bancos”, disse o CEO do BPI que acrescentou que “as fintech que conheci ou desapareceram ou foram compradas pelos bancos”.
“A verdade é que a sociedade não vive sem os bancos”, rematou.
Miguel Maya, do Millenium BCP, defendeu que os bancos vão permanecer enquanto criarem valor para a sociedade.
Mas lembrou que há um conjunto de requisitos regulatórios que não são aplicados a todos os intervenientes.
Miguel Maya defendeu ainda que hoje em dia as pessoas vão mais ao banco, ainda que seja via digital. “Antes iam uma vez por mês, hoje em dia vão em média 32 vezes por mês ao banco”, disse o CEO do BCP que lembrou que 80% das vendas do banco já são via digital.
“O papel da banca vai ser diferente, mas há espaço para os balcões, porque temos de nos situar entre a proximidade e a tecnologia. Eu não acredito na sobrevivência da banca sem balcões”, disse Miguel Maya.
Já Paulo Macedo lembrou que a CGD tem várias parcerias com as fintechs. “Preocupa-me mais as big techs na parte do sistema de pagamentos”, disse o CEO do banco do Estado.
O banqueiro diz que as fintechs ocupam nichos que a banca não tem oferecido, mas não querem ter depósitos porque isso implica ter regulação e capital.
O presidente da Caixa diz que estamos a ver “as fintechs a perder gás” a nível internacional e são as ‘big techs’ as grandes concorrentes dos bancos.
Sobre a inovação, Paulo Macedo é optimista porque a automatização do IRS e a digitalização das receitas médicas são a prova que as pessoas adaptam-se claramente à tecnologia.
Os bancos são cada vez mais tecnológicos e estão focados em melhorar a experiência do cliente.
“Os bancos têm de ser mais eficientes para os clientes pagarem menos comissões”, disse o CEO da CGD que defendeu a cobrança de comissões, “porque todos os serviços, desde que tenham valor, têm de se pagar incluindo o jornalismo”, disse.
Pedro Castro e Almeida, CEO do Santander Totta, lembrou que “as fintechs atuam na fronteira da regulação” mas não estão no centro das preocupações do setor”.
“Uma Revolut e um Neobank não têm a rentabilidade de um banco” disse o banqueiro que sublinhou que “o modelo de negócio das fintechs, à medida que ganham dimensão, fica em perigo por causa da regulação”.
Pedro Castro e Almeida considera que nas ‘big techs’ a capacidade de investir em tecnologia, de atrair talento, e ter relação personalizada com o cliente, são as suas vantagens. O CEO do Santander Portugal antecipa o aparecimento de App globais, “um ecossistema que inclui telecomunicações, media, utilities e serviços financeiros”.
Já o CEO do Banco Montepio diz que um dos desafios para a banca é ter capacidade de investimento em tecnologia, como têm as ‘big techs’, admitindo algum atraso da banca.
Pedro Leitão explicou que o tema dominante na Europa é a “regulação antes de inovação”.
Por sua vez, Miguel Maya, CEO do BCP, falou da Inteligência Artificial e admitiu que a tecnologia optimiza processos e “quase destrói algumas áreas”, mas “cria outras”.
Sobre a IA Generativa, o CEO do BCP disse que “tem implicações grandes porque entra no domínio da criatividade”. Os bancos têm de saber aproveitar o potencial da IA.
Pedro Leitão, por sua vez, lembrou que o price-to-book value está abaixo do par e isso significa que “a longo prazo os investidores não acreditam que tenham esse valor”.
Fusões na banca
O presidente do Montepio não considera que exista um tema de dimensão na banca europeia, em comparação com os Estados Unidos.
A propósito do anunciado IPO (Oferta Pública Inicial) do Novobanco, Miguel Maya lembrou o que tem dito várias vezes “a nossa prioridade é o crescimento orgânico e se houver oportunidades analisaremos”.
Pedro Castro e Almeida, CEO do Santander Portugal, criticou o “conceito cross-border”, quando se fala de fusões bancárias no espaço do euro.
“Não há incentivos à aquisição de bancos dentro da Europa”, disse. Quando questionado sobre a ofensiva do Unicredit sobre o Commerzabank, Pedro Castro e Almeida lembrou que o banco italiano liderado por Andrea Orcel está já presente na Alemanha pois o UniCredit é dono do Hypovereinsbank desde 2005.
“Não estar presente no país e comprar um banco no país é difícil”, disse.
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