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Vitória de Donald Trump não tira peso à visita de Joe Biden a Angola, refere analista

O analista de relações internacionais angolano Osvaldo Mboco considerou que a visita a Angola do Presidente norte-americano, Joe Biden, prevista para dezembro, continua a ter peso, defendendo que dificilmente serão descontinuados os acordos firmados.
6 Novembro 2024, 16h53

O analista de relações internacionais angolano Osvaldo Mboco considerou que a visita a Angola do Presidente norte-americano, Joe Biden, prevista para dezembro, continua a ter peso, defendendo que dificilmente serão descontinuados os acordos firmados.

Osvaldo Mboco disse acreditar que o vencedor das eleições norte-americanas e próximo chefe de Estado dos EUA, Donald Trump, “não irá descontinuar aquilo que têm sido as relações entre Angola e os EUA sobre determinadas matérias”, estando consciente que poderá alterar unicamente a forma de abordagem.

“Claramente que não vai ter a mesma euforia que (…) Joe Biden levou, dizendo que Angola era o país mais importante agora para América em África, mas penso que ainda assim vamos observar que vários interesses estarão aí em cima da mesa”, disse Osvaldo Mboco à Lusa.

O especialista em relações internacionais destacou que a circunstância e o contexto em que Trump regressa ao poder não são as mesmas do que quando assumiu o cargo em 2017.

O académico argumentou que hoje as circunstâncias obrigam os norte-americanos a equacionarem melhor os seus interesses no continente africano.

“Por uma razão muito simples. O ocidente sofreu uma crispação política ao nível da região do Sahel, com os golpes de Estado e mudanças inconstitucionais, e temos estado a assistir a um aproximar cada vez mais da África do Sul aos BRIC [sigla que se refere ao Brasil, Rússia, Índia e China, países emergentes do mundo e do sul global]”, sustentou.

Segundo Osvaldo Mboco, esta mudança de paradigma “implica que os americanos devem identificar novos ‘players’, novos atores, a nível do continente africano para contrabalançar a presença chinesa e a russa no continente”.

“Penso que pela expressão de Angola em África, a sua posição geográfica estratégica, pela sua estabilidade política, (…) é um desses países elegíveis dentro desta estratégia americana”, frisou, realçando a presença do consórcio europeu e americano no Corredor do Lobito, para “contrabalançar ou complicar aquilo que era o projeto inicial dos chineses quanto à [nova] Rota da Seda [mega-projeto de infraestruturas global para ligar a China a outros países]”.

Também a saída dos norte-americanos do Níger, onde exploravam mineiros estratégicos para a sua indústria, levou à identificação de novos fornecedores, “e um deles é sem sombra de dúvidas a República Democrática do Congo”, acrescentou.

“E o corredor que temos mais próximo e mais barato para os EUA é a partir do Corredor do Lobito, que vai dar ao Atlântico. Observando todos estes elementos, estou em crer que o Presidente Trump não irá descontinuar” o que têm sido “as relações entre Angola e os EUA sobre determinadas matérias”, vincou.

O também docente universitário enfatizou que Joe Biden é Presidente dos EUA até janeiro, por isso a sua visita “não deixa de ter peso”.

“Claramente que, do ponto de vista de garantias, do ponto de vista de assumir determinados compromissos, há aqui também uma certa cautela – que o próximo pode, até certo ponto, descontinuar -, mas penso que os acordos que vão ser firmados são do interesse americano, (…) e dificilmente vamos assistir à descontinuidade, ainda há este peso e há esta relevância”, observou.

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