Na apresentação de resultados trimestrais, o presidente da Caixa Geral de Depósitos, Paulo Moita de Macedo, traçou os desafios para o futuro do banco.
Na lista de 14 desafios definidos está incluída a queda dos proveitos a partir de 2026. Os motivos expostos num slide apresentado pelo banco na passada quinta-feira estão relacionados com a queda das comissões relativas aos meios de pagamento; a queda da margem financeira por causa da descida das taxas de juros do BCE e a criação do Eurodigital.
Os analistas têm alertado para a possibilidade de os clientes dos bancos passarem parte do seu dinheiro em depósitos para contas em euros digitais.
É esperado um potencial impacto do euro digital na margem financeira (através de possíveis levantamentos dos depósitos), nas comissões (devido aos pagamentos com cartão, transferências bancárias e contas à ordem) e nos custos.
Recorde-se que em 18 de outubro de 2023, o Conselho do BCE aprovou a passagem para a fase de preparação do projeto do euro digital, por forma a garantir que o Eurosistema está preparado para emitir o euro digital assim que o Conselho do BCE decida avançar com a emissão.
Entre os desafios elencados pelo CEO para o futuro da CGD está o facto de o banco não ter ainda rating A em todas as agências.
A digitalização é outro dos desafios, bem como a automatização através da Inteligência Artificial.
Por outro lado a CGD tem de continuar a melhorar o nível de serviço ao cliente.
A CGD quer ainda incrementar o negócio da relação, ou seja o contato personalizado com os clientes. “Temos de materializar esta obsessão com o cliente e deixar de ser só chavão”, disse Paulo Macedo que reconheceu “que temos imenso para fazer e para melhorar”.
Outro dos desafios está em como manter os rácios de transformação de depósitos em crédito (loans-to-deposits) por causa da redução dos volumes de crédito.
Na lista de desafios consta ainda a “organização do apetite de risco relativamente às participações no estrangeiro”.
“A sustentabilidade não é questão de moda”, disse o CEO da CGD que vê neste tema mais um desafio. “A sustentabilidade impõe-nos regras sobre o portfólio de clientes”, lembrou Paulo Macedo que acrescentou que “a Caixa, a única coisa que faz é reduzir alguns basis points quando tem projetos de ESG, mas não sei no futuro o que é que a União Europeia na sua regulação dirá”.
A competitividade e a criação de valor de forma sustentada são outros dos desafios apontados pela Caixa.
Na lista surge ainda o desafio da concorrência dos shadow banks e das instituições financeiras “não reguladas”.
Por ser um estrutura paralela aos mercados tradicionais, o shadow banking está sujeito a pouca ou nenhuma regulação. São, por exemplos, fundos de crédito, que conseguem realizar financiamentos de forma indireta, sem passar por nenhuma supervisão ou regulação, ou os chamados empréstimos descentralizados (peer-to-peer lending). O P2P Lending é uma forma de empréstimo que elimina intermediários tradicionais, como bancos e instituições financeiras, e permite que investidores emprestem dinheiro diretamente a mutuários por meio de plataformas online.
A CGD identificou como desafio também a retenção de talento. O que não é novidade pois o presidente da Caixa tem dito em vários fóruns que a contratação e retenção de talento no sistema financeiro já são um desafio maior do que a regulação.
“Neste momento em Portugal temos falta de mão de obra especializada e não especializada. Há uns anos tínhamos só falta de mão de obra especializada”, defende o CEO da Caixa Geral de Depósitos.
O último desafio da lista é o facto de os bancos estarem abaixo de 1 no price-to-bookvalue (rácio entre a capitalização bolsista e o valor contabilístico dos capitais próprios). O valor contabilístico dos capitais próprios dos bancos é superior ao seu valor de mercado. Isto é, a banca está avaliada pelo mercado num valor muito mais baixo do que o seu valor patrimonial. Essa é evidência que se encontra para os principais bancos da Zona Euro.
O resultado líquido da Caixa Geral de Depósitos nos nove meses disparou 38,7% para 1.369 milhões de euros, sendo que a libertação de provisões para crédito malparado, que se revelaram excessivas, contribuiu com 106 milhões de euros.
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