Os governos populistas prejudicam as economias no médio e longo prazo. Num momento em que Donald Trump prepara o seu regresso ao poder, a Allianz Global Investors (GI) alerta para os riscos económicos da sua chegada ao poder.
A introdução, ou o aumento, de tarifas alfandegárias, o recuo no comércio internacional ou a falta de liberdade provocam o aumento da inflação, o crescimento da dívida e prejudicam o crescimento económico.
“No longo prazo, os governos populistas não são bons para o crescimento e não são bons para os investidores”, disse o economista-chefe da gestora de ativos alemã num encontro com jornalistas em Lisboa.
Stefan Hofrichter cita as conclusões de um estudo de três economistas da Universidade alemã de Kiel, que analisaram dezenas de governos populistas, para exemplificar o que pode acontecer à economia dos EUA nos próximos anos.
“O PIB per capita sofre uma quebra de 0,5 a um ponto percentual por ano”, apontando como causas: “tarifas mais elevadas, menos comércio, maior inflação, mais dívida governamental em relação ao PIB e menos liberdade, o que significa menos dinamismo na economia”, provocando “menos crescimento per capita no longo prazo”.
O responsável aponta que a quebra acontece a partir do segundo ou terceiro ano no poder. “Depois de dois anos, o crescimento tem tendência a enfraquecer. Depois de 5/10/15 anos, há um crescimento pior, em média.”
“Alguns dos populistas analisados no estudo eram ditadores, fascistas, e há quem pergunte se faz sentido usar estes dados num mundo diferente, mas acredito que ainda faz sentido e que ajuda a prever o que pode acontecer daqui para a frente”, defendeu, citando o estudo de autoria de M. Funke, M. Schularick e C. Trebesch (2023): Populist Leaders and the Economy.
“As economias sob governos populistas crescem menos”, sublinhou, apontando que a premissa “com que chegaram ao poder, de tornar a vida melhor para as pessoas normais, não se materializa. A distribuição de rendimentos permanece inalterada. Depois de dois anos, o crescimento começa a divergir.”
E dá um exemplo: “na primeira administração Trump, o crescimento esteve dentro da média, nada de espetacular.”
Olhando para o impacto das eleições norte-americanas nos mercados, sublinhou os cortes de impostos que podem ter um custo de quase oito biliões de dólares no espaço de uma década e aumentar a dívida para mais de 140% do PIB.
E que as tarifas alfandegárias previstas por Trump (20%) irão colocar o país de regresso ao praticado na década de 1930, durante a Grande Depressão.
Sobre a política de migração, com Trump a querer deportar mais migrantes, apontou que as empresas no setor da hospitalidade já se vieram queixar do impacto no seu negócio desta medida. “O mercado laboral vai apertar muito, provocando um aumento dos salários. Isto não será bom para as empresas, pois significa pressão nas margens.”
Analisando a situação na Alemanha, aponta que é o “doente da Europa, não apenas por razões cíclicas, mas também estruturais. O modelo alemão dedicou-se a tentar exportar o máximo que podia para a China, comprar energia barata da Rússia e confiar na proteção dos EUA. Todos estes três fatores já não se aplicam.”
Em relação à crise que afeta a indústria automóvel alemã, que pesa 5% no PIB, destacou que “fez os seus próprios erros. Culpar a crise energética de tudo não faz sentido. Chegaram tarde a este mercado e estão a apostar nos grandes carros elétricos com margens maiores, onde não há grande procura. Os chineses subsidiam a produção, têm melhor acesso a baterias e os carros são mais baratos.”
No caso das eleições alemãs, marcadas para fevereiro, prevê que um governo de “centro-direita”, dos cristãos conservadores da CDU, seja eleito, pois é o que surge melhor colocado nas sondagens.
A grande dúvida será a quem se vai aliar para conseguir governar, com o responsável a apontar que o SPD, centro-esquerda, está “bastante fraco” nas sondagens, ou com os Verdes, restando saber se esta última aliança funcionaria, dadas as divergências ideológicas. Sobre os alemães do AFD, extrema-direita, aponta que têm apenas um terço dos votos, sem poder para bloquear decisões.
E quais as medidas que fariam sentido para um governo tomar para tirar a Alemanha da crise? Stefan Hofrichter acredita que deveria haver um alívio no travão alemão da dívida, conhecido por Schuldenbremse, um tema que provocou a queda do atual governo alemão, após os liberais do FDP terem batido com a porta da coligação com o SPD e os Verdes, por se oporem às mexidas pretendidas pelo SPD.
“O travão da dívida deve ter mais flexibilidade”, afirmou, defendendo que o dinheiro deve ser usado para aumentar o investimento público, apontando para a necessidade de reforçar as infraestruturas ferroviárias, por exemplo. “A CDU e o provável próximo chanceler opõem-se a mexidas, mas as coisas estão a mudar rapidamente.”
Outras medidas a serem tomadas são a redução da carga fiscal e a burocracia sobre as empresas, defendeu.
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