Mário Ferreira e a Lusiaves têm aumentado discretamente, nos últimos meses, as suas participações no capital da Savannah Resources, a companhia britânica que detém o projeto da mina de lítio de Boticas, no distrito de Vila Real.
A empresa anunciou na quarta-feira que o empresário reforçou a sua posição no capital da companhia. Ao aumentar a sua participação para 10%, tornou-se, numa só jogada, no terceiro maior acionista da empresa e o maior a título individual.
A sua participação vale agora 8,69 milhões de libras, tendo entrado na companhia a 5 de março, passando a deter 4,26%. Desde então, aumentou por várias vezes a sua participação para os atuais 10%.
Já o grupo Lusiaves entrou no capital da companhia no final de maio, ao passar a deter uma participação de 3,20%. Tal como Mário Ferreira, tem vindo a subir gradualmente a sua participação, que vale agora 4,55 milhões de libras, detendo 5%. O grupo agroalimentar fundado por Avelino Mota Gaspar tem sede em Marinha das Ondas, Figueira da Foz.
Somadas as duas participações, os dois acionistas portugueses contam agora com 15% do capital da empresa mineira, valendo 13,24 milhões de libras (15,91 milhões de euros).
A companhia conta com uma capitalização bolsista de cerca de 87 milhões de libras (104 milhões de euros). No espaço de um ano, já valorizou mais de 70%.
O maior acionista da companhia são os alemães da AMG Lithium, empresa especializada na refinação de lítio, com quase 16% da companhia. Segue-se a Al Marjan, um fundo privado de investimento de Omã, acionista desde 2015 e que já chegou a ter 30% da companhia, fruto da sua anterior aposta em minas de cobre no país do Golfo Pérsico.
Na terceira posição, surge Mário Ferreira com 10%, seguido dos também portugueses do Grupo Lusiaves com 5%, com os dois maiores acionistas portugueses a deterem já 15% da companhia, conforme referido.
Na quinta posição, os australianos da Slipstream Resources International contam com 3% do capital.
“O futuro das baterias não passa apenas pelos automóveis, mas terá também um importante impacto na forma como será gerida toda a energia, exemplo da energia solar que precisa de ser armazenada, em determinadas horas do dia, criando assim uma maior estabilidade nos preços da energia, que têm que ser cada vez mais baixos para que o país possa prosperar”, segundo Mário Ferreira.
“O lítio continuará a ter um papel importante como um dos principais componentes das baterias modernas. Por isso, achei importante que um português entrasse também como investidor neste projeto, que até agora era apenas liderado por estrangeiros”, acrescentou em publicação nas redes sociais.
Conhecido do grande público no programa ‘Shark Tank’, ganhou a alcunha de ‘tubarão do Douro’ à boleia dos cruzeiros fluviais neste rio, mas já se expandiu para os mares de todo o mundo com a Mystic Cruises. É dono da TVI e dos cruzeiros Douro Azul. Agora, Mário Ferreira aposta na fileira do lítio e na transição energética.
O projeto prevê a criação de 300 empregos diretos e entre mil a dois mil indiretos na região, segundo a empresa. A produção está prevista para arrancar em 2027.
Num relatório divulgado em julho, o CaixaBI arrancou com a cobertura da Savannah com um preço-alvo de 7,80 cêntimos de libra, com um potencial de valorização de 95% face ao preço atual.
O projeto do Barroso “é um dos poucos na Europa com dimensão suficiente para fazer a diferença em termos de ser uma alternativa para a exploração de lítio, nomeadamente com as novas gigafábricas planeadas para serem construídas na Europa”, escreveram os analistas na altura.
“A Savannah também se tem tornado cada vez mais portuguesa e mais próxima da região em que desenvolve o seu projeto. É com orgulho que registamos um interesse cada vez maior de investidores portugueses – já acima de 25 investidores diferentes com quem temos contacto direto, além de certamente muitos outros investidores de retalho. A Savannah é cada vez mais portuguesa no terreno também, sendo que a sua contribuição para a economia e também para os esforços europeus de transição energética é cada vez mais clara”, disse em comunicado na quarta-feira, por sua vez, Emanuel Proença, CEO da Savannah.
Maiores acionistas Savannah
Nome do Acionista | Número de ações | Percentagem do capital social emitido |
---|---|---|
AMG Lithium B.V. | 342,612,420 | 15.77% |
AL Marjan Ltd | 275,762,589 | 12.69% |
Mário Nuno Dos Santos Ferreira | 217,277,421 | 10.00% |
Grupo Lusiaves SGPS, S.A. | 113,855,179 | 5.24% |
Slipstream Resources International Pty Ltd | 73,274,045 | 3.37% |
Tal como o JE escreveu a 14 de outubro, os parceiros da Savannah no projeto de lítio de Boticas, no distrito de Vila Real, têm Portugal no radar para a construção de uma refinaria de lítio.
Os alemães da AMG inauguraram recentemente uma refinaria na Alemanha, mas podem vir a abrir outra em Portugal, revelou o CEO da mineira britânica.
“É em Portugal que temos mais anúncios de projetos para refinarias de lítio, potencialmente quatro. Em Portugal, foram anunciadas quatro refinarias: a da Aurora, a da Lifthium, outra potencial refinaria, e uma potencial refinaria da AMG a prazo”, disse Emanuel Proença em outubro, numa call com analistas. “Para um país pequeno e no extremo da Europa, é relevante”.
O responsável deixou elogios ao seu parceiro alemão, pois foi o “primeiro a abrir uma refinaria de grande escala na Europa”. Esta unidade tem a capacidade para refinar o lítio suficiente para fornecer 500 mil baterias por ano, o equivalente a 20 mil toneladas por ano. Até 2030, a previsão é expandir a capacidade desta unidade para produzir 100 mil toneladas por ano de hidróxido de lítio para carros elétricos (o equivalente a 14% da quota de mercado projetada para 2030). A procura anual por lítio para baterias na Europa deverá atingir as 700 mil toneladas cúbicas até 2030.
O gestor destacou a localização da mina como sendo crucial para o sucesso do projeto, apontando para a necessidade ibérica de lítio. “Um em mais de cada cinco carros produzidos na União Europeia é produzido em Portugal e Espanha”.
Destacou os projetos próximos para a construção de carros elétricos – um exemplo é a Stellantis em Mangualde, ou o projeto para o carro elétrico da Autoeuropa – mas também o projeto dos chineses da CALB para uma fábrica de baterias em Sines. “Esta é uma grande oportunidade para Portugal e a Península Ibérica”, resumiu.
Sobre a produção, admite que vão ter de fechar “acordos adicionais”, pois, por agora, entre 50% a 75% da produção não está alocada, tendo já sido contactado pelo setor da cerâmica, que também usa o lítio na sua produção.
Já sobre o envelope do PRR para a Cadeia de Valor das Baterias (Agenda CVB), que conta com 19 empresas a bordo, disse que “não houve desenvolvimentos”. A Savannah esteve reunida com o IAPMEI recentemente, mas não houve avanços devido à mudança recente de presidente. “Esperávamos que o processo estivesse despachado até agora. Gostaríamos de ter o processo a avançar, isto permitiria ter mais financiamento para projetos”.
Em relação a novas áreas de exploração, se vierem a ser abertas pelo Estado, Emanuel Proença disse que estão “atentos a outras oportunidades”, mas que o “mais importante” é o projeto atual, que tem o “melhor recurso”. Considera também que a entrada em operação do seu projeto será “importante para o Governo português mostrar que o projeto avançou para leiloar as outras áreas”.
Sobre o potencial da área de concessão e se pretende alargar a área de exploração, rejeitou a possibilidade: “existe potencial”, mas o foco agora é a execução do projeto.
E sinalizou que a casa de investimento CaixaBI iniciou recentemente a cobertura da Savannah, fixando a recomendação em “comprar” com o preço-alvo de 7,8 cêntimos de libra (GBx). A companhia disse que conta com o registo de cash mais elevado de sempre: 20 milhões de libras.
Entre os principais investidores na companhia, encontram-se a AMG (16%), o empresário Mário Ferreira (9%) e a Lusiaves (4%).
Sobre os preços do lítio no mercado mundial, apontou que estão “deprimidos” e que a duração desta baixa tem sido “maior do que o esperado”. Olhando para as vendas de carros elétricos, apontou que o mercado mundial cresceu 22% na primeira metade de 2024. Já a procura global de lítio deverá subir 2,6 vezes com a “necessidade crescente de bons carros elétricos e a procura explosiva” deste tipo de veículos. “A Europa vai precisar de muito lítio”.
A companhia disse já contar com mais de 100 propriedades na sua área de concessão, admitindo que poderão haver expropriações, mas no “menor número possível”, dando o exemplo de terrenos sem “dono definido” ou “heranças indivisas”.
A produção deve arrancar em 2027, apontando que a partir desta data “arranca o jogo” e a companhia vai começar a ter “outras oportunidades para gerar valor”.
Questionado sobre os protestos locais ao projeto, disse que “nenhum projeto conta com apoios a 100%”, mas que a “maioria da população local percebe hoje o projeto”.
Sobre o panorama geral no país, disse que existe um “bom número de projetos para refinarias e de uma fábrica de baterias. Temos visto interesse de muitas empresas em investir muito no país. Estou muito positivo que Portugal tenha sucesso em construir uma cadeia de valor do carro elétrico”, rematou.
Tal como o JE escreveu a 1 de outubro, a mina de lítio de Boticas, no distrito de Vila Real, viu derrapar o arranque da produção para 2027 devido à mudança de Governo, anunciou a Savannah na altura.
“Depois de a Licença Ambiental ter sido concedida em maio de 2023 e do Estudo de Definição do Âmbito ter confirmado o potencial económico do projeto em junho de 2023, o início da produção está agora previsto para 2027”, revelou a companhia na apresentação dos resultados referentes ao primeiro semestre deste ano.
A empresa mineira britânica destacou que a “mudança de Governo provocou um atraso de mais de meio ano no desenvolvimento do projeto”, devido ao tempo necessário para resolver o “processo burocrático para a conclusão do processo da Servidão Administrativa” que “infelizmente” foi “mais demorado do que o previsto”, obrigando ao ajuste de calendário.
Antes disso, espera concluir o estudo de viabilidade económica no segundo semestre de 2025. Por volta desta altura, a previsão é também terminar o processo de licenciamento ambiental.
“O comissionamento e a primeira produção do projeto decorrerão ainda assim o mais cedo possível ao longo do ano de 2027”, pode-se ler. A empresa prevê investir até 350 milhões de euros no projeto.
Sobre a chegada ao poder do novo Governo, a companhia liderada por Emanuel Proença destaca que vários procedimentos foram “acelerados e normalizados” nas respetivas entidades estatais. “Isto é uma boa notícia, não só para a Savannah, mas também para Portugal continuar a colher os benefícios dos seus recursos naturais para uma maior prosperidade”.
Quando a produção arrancar em pleno, a empresa vai começar a produzir lítio suficiente para mais de meio milhão de baterias de veículos por ano, o equivalente a mais de três vezes as compras totais anuais de automóveis no país.
A decisão final de investimento (FID) está prevista somente após a “conclusão de todos os trabalhos de campo”, o que vai acontecer depois de a empresa obter acesso aos terrenos a partir do quarto trimestre de 2024.
Ao mesmo tempo, a empresa salienta que a sua produção “equivale também a uma parte muito significativa do objetivo da Lei das Matérias-Primas Críticas da Comissão Europeia de obter um mínimo de 10% da produção europeia de lítio endógeno até 2030”.
O CEO Emanuel Proença disse que sempre foi desejo da companhia “poder completar acordos de compra ou arrendamento com todos os proprietários num prazo que tivesse permitido um início mais precoce desta fase de trabalhos. No entanto, embora já tenhamos adquirido para cima de uma centena de terrenos e continuemos a adquirir mais, não foi ainda possível chegar a acordo com todas as partes”.
“Recorremos por isso à figura de servidão administrativa temporária para acesso aos terrenos, um processo comum em projetos industriais como o nosso. Continuamos empenhados em prosseguir as compras e arrendamentos de terrenos através de acordos amigáveis com todas as partes interessadas relevantes, de forma a que uma expropriação futura abranja o mínimo de parcelas de terreno possível”, pode-se ler no comunicado.
Na sua comunicação ao mercado, a companhia disse: “Se acordos adequados não forem alcançados num período de tempo razoável, o direito legal está estabelecido na lei portuguesa para usar processos legais estabelecidos para acessos temporários e direito de compra compulsivo”. A empresa diz que “escolheu não usar estes direitos”, ao contrário de projetos de barragens e autoestradas na região, para dar o devido tempo às “aquisições comercialmente negociadas”, mesmo que isto tenha sido usado por “opositores ao projeto” para “tirar vantagem desta boa vontade”.
A companhia disse que já fechou 106 acordos de compra com proprietários privados, com mais 13 contratos de compra e venda assinados. Até agora, a empresa gastou 2,1 milhões de euros em aquisições de terra.
Em junho, a companhia fechou um acordo com os neerlandeses da AMG Critical Materials, “dona da primeira grande refinaria de lítio da Europa, aberta há menos de 15 dias a sul de Berlim, na Alemanha”. A empresa investiu 16 milhões de libras na Savannah: “um acordo de compra e venda de parte da produção de concentrado de lítio da Savannah, uma opção mútua para uma ‘solução completa de financiamento do projeto’ liderada pela AMG, e um acordo de cooperação no estudo de uma fábrica piloto de feldspato/espodumena em Portugal e de uma refinaria de carbonato de lítio em Portugal ou Espanha”.
Após este investimento, os britânicos dizem que registaram o maior saldo de caixa de sempre: 22 milhões de libras a 30 de junho de 2024.
No entanto, a “Savannah mantém controlo sobre mais de metade da produção prevista do projeto, o que lhe permitirá apoiar outros parceiros no futuro”.
No seu outlook, a Savannah diz estar na “posição mais forte” que já esteve neste projeto. “Temos um saldo de caixa relevante com vista à decisão final de investimento. Temos a AMG, um ator estabelecido na indústria (…). Contudo, a Savannah também foi capaz de manter 100% da propriedade do ativo e, pelo menos, 50% da produção futura de concentrado para negociar e alavancar. A empresa está também a atrair investidores portugueses influentes [como Mário Ferreira]”.
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