A Rússia terá fornecido à Coreia do Norte mais de um milhão de barris de petróleo desde março, de acordo com um relatório de um grupo de investigação sem fins lucrativos, com sede no Reino Unido tendo por base a análise de imagens de satélite do Open Source Centre, avança esta sexta-feira a BBC.
A confirmar-se esta situação, este fornecimento estará a violar as sanções aplicadas pela Organização das Nações Unidas (ONU) que limitam o fornecimento de petróleo à Coreia do Norte a 500 mil barris.
O canal televisivo britânico refere, tendo por base especialistas e o secretário dos Negócios Estrangeiros do Reino Unido, David Lammy, que o petróleo [que está a ser fornecido pela Rússia à Coreia do Norte] é o pagamento pelas armas e tropas que a Coreia do Norte tem enviado para a Rússia em suporte à guerra com a Ucrânia.
A BBC sublinhou que estas transferências são uma violação as sanções decretadas pela ONU, que proíbem a venda de petróleo à Coreia do Norte, exceto se isso acontecer em pequenas quantidades, de forma a condicionar a economia norte-coreana de modo a que esta não tenha condições para continuar a desenvolver armas nucleares.
As imagens de satélite, que foram fornecidas à BBC, mostram mais de uma dezena de petroleiros da Coreia do Norte num terminal petrolífero, localizado na Rússia, num total de 43 vezes nos últimos oito meses. Existem também fotografias que aparentemente mostram petroleiros a chegarem vazios e a saírem quase cheios.
A BBC sublinhou que a Coreia do Norte é o único país do mundo que não está autorizado a comprar petróleo no mercado aberto. O país está limitado pela ONU a receber 500 mil barris por ano de petróleo refinado, um número que fica baixo das necessidades norte-coreanas que estarão estimadas em nove milhões.
O porta-voz do Open Source Centre, Joe Byrne, disse à BBC, que enquanto “[o líder da Coreia do Norte] Kim Jong Un fornece ao líder da Rússia, Vladimir Putin, uma tábua de salvação para continuar a guerra” a Rússia “está silenciosamente a fornecer à Coreia do Norte uma tábua de salvação própria”. Joe Byrne considera que “este fluxo constante” de petróleo dá à Coreia do Norte “um nível de estabilidade que não tinha” desde que as sanções [da ONU] foram introduzidas.
Já o secretário dos Negócios Estrangeiros do Reino Unido, David Lammy, referiu à BBC, que na tentativa de continuar a luta contra a Ucrânia, a Rússia “tornou-se cada vez mais dependente” da Coreia do Norte para obter tropas e armas em troca de petróleo.
A BBC adianta que para compensar o défice de petróleo que a Coreia do Norte está a ter, fruto das sanções da ONU, tem sido forçada à compra ilícita de petróleo. Um dos métodos é a transferência de petróleo entre navios no mar, que o investigador sénior do Instituto de Estratégia de Segurança Nacional da Coreia do Sul, Go Myong-hyun, diz à BBC, ser um negócio “arriscado, dispendioso e demorado”.
Go Myong-hyyun acrescenta que um milhão de barris “não é nada” para um produtor de petróleo como a Rússia mas que se trata de uma “quantia substancial” para a Coreia do Norte receber.
A BBC salientou que em todas as 43 viagens que foram monitorizadas, através de imagens de satélite, os navios petroleiros da Coreia do Norte, quando chegaram aos portos russos tinham o seu sistema de rastreamento desligado, com o intuito de ocultarem os seus movimentos.
O Open Source Centre calcula que os petroleiros estariam carregados com 90% da sua capacidade.
A BBC salientou que as entregas de petróleo que têm acontecido violam as sanções da ONU à Coreia da Norte, que a Rússia, enquanto membro do Conselho de Segurança da ONU, assinou, sendo que mais de metade das viagens que foram monitorizadas pelo Open Source Centre foram realizadas por navios que foram sancionados pela ONU, o que deveria significar que esses navios deveriam ter sido aprendidos logo que entrassem em águas da Rússia.
O canal britânico acrescenta que em março de 2024, quando passavam três semanas após ter sido documentada a primeira transferência de petróleo, a Rússia dissolveu o painel da ONU que tinha como responsabilidade a monitorização das violações das sanções que tinham sido aplicadas pela ONU.
O membro do conselho do Open Source Centre e que liderou o grupo da ONU responsável pela monitorização das violações das sanções decretadas pela ONU, Eric Penton-Voak, disse à BBC, que agora que este grupo da ONU acabou, quer a Rússia quer a Coreia do Norte, “podem simplesmente ignorar as regras”, e que o facto da Rússia estar a permitir o abastecimento de navios da Coreia do Norte mostra um “novo nível de desprezo” por estas sanções.
Eric Penton-Voak acrescenta que existe também um problema que é ainda “mais profundo” ao referir, à BBC, que regimes autocráticos, como o da Rússia e da Coreia do Norte, estão a “trabalhar cada vez mais em conjunto para se ajudarem mutuamente a alcançarem tudo o que desejam” ignorando a comunidade internacional. Eric Penton-Voak salientou que este tipo de práticas é “cada vez mais perigoso”.
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