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“Ainda temos muito caminho pela frente para atingir a igualdade de género”

A presidente do Departamento Regional das Mulheres Socialistas defende uma estratégia regional para a igualdade, e alerta que para se atingir a igualdade de género é preciso uma mudança de mentalidades.
28 Janeiro 2021, 07h45

A presidente do Departamento Regional das Mulheres Socialistas, Mafalda Gonçalves, considera que ainda existe muito caminho a percorrer para se atingir a igualdade de género, defende que é importante “quebrar o teto de vidro, que só deixa as mulheres subirem até determinado patamar, e reforça que uma mulher a liderar uma equipa traz mais mulheres para essa equipa.

Na Madeira é mais grave a diferença salarial, entre homens e mulheres?

Eu não tenho dados para dizer isso neste momento. Quando vamos procurar dados sobre o que for parece que é muito difícil se conseguir chegar aos valores. Se quisermos saber quantas pessoas na região sofrem de desigualdade salarial. Como consigo chegar a estes dados? Seria muito importante na Madeira fazer um levantamento sobre a questão. Para tomarmos medidas que sejam úteis e justas nós temos de ter um conhecimento sério e sedimentado da situação.

A nível nacional está a ser realizado um estudo para avaliar os impactos económico da desigualdade e da descriminação salarial, feito pelo ISEG. Eu desconheço que isso esteja a ser feito na região.

Temos um argumento que é utilizado que é o de que se elas querem ter os melhores salários e cargos de poder, elas que criem as empresas. Como responde a isso?

Isso é pescadinha de rabo na boca. Se for uma mulher a CEO de uma empresa não tenho dúvidas de que existirão menos entraves a ter mulheres no conselho de administração. Mas isso não é uma questão de serem só elas ou elas. É uma questão de quebrar o teto de vidro, que é aquela parede invisível, e que só as deixa subir até determinado patamar. O que faz com que sejam tão poucas a serem CEO de empresas, ou a serem presidentes.

Já 21% ocupam lugares nos conselhos de administração mas não são presidentes, nas empresas do PSI20.

Também existe aquele argumento, que quando são elas a dirigir elas querem os homens, ou quando elas dirigem são piores que os homens ….

Esse argumento é antigo e é muito usado dizer que elas são piores para as outras mulheres. Isso é apenas mais um argumento.

Ou quando elas dirigem dificultam a entrada de mulheres, é outro argumento ….

Isso não é verdade. Eu digo-lhe claramente que não é verdade, olhando para a política. Na política as listas lideradas por mulheres têm sempre muitas mulheres. Portanto esse argumento cai por terra. Para mim esse argumento está ao nível daquele argumento de que se dizia de que as mulheres não podiam votar, ou não podiam estar nas grandes decisões, porque tinham um cérebro mais pequeno, e depois não tinham capacidade intelectual para lidar com esses assuntos importantes.

Uma mulher a liderar uma equipa traz mais mulheres para essa equipa. E a política é a prova disso.

Ainda se ouve muitas notícias atualmente de que em determinada empresa é a primeira vez que uma mulher ocupa determinada função. Até quando é que este tipo de notícia deixa de ser notícia? Estamos próximos de chegar verdadeiramente a essa igualdade de género?

Ainda temos muito caminho pela frente. Segundo dados do Fórum Económico Mundial serão necessários mais 95 anos para eliminar a desigualdade na representação política. Isto é um processo lento porque envolve uma mudança de mentalidade. E a mudança de mentalidades para além de não ser fácil, é um processo que se vai construindo, e na minha opinião este é um processo que se devia construir desde a tenra infância. Dai a importância de se ter uma estratégia para a igualdade. E na Madeira onde a educação está regionalizada ter uma estratégia para a igualdade. Em que se aplicam programas desde a creche, desde o pré-escolar, programas de respeito pelo outro. Porque o objetivo é criarmos uma sociedade sem preconceitos, que não olhe para uma pessoa e meta logo um rótulo que não corresponde à verdade. Uma sociedade de iguais, que se reconhecem como iguais, que se respeitem como iguais. Uma sociedade mais justa. E é preciso construir isso. E para construir isso é preciso desconstruir todos estes estereótipos e preconceitos que existem sobre o papel da mulher e do homem. E isso tem de ser começado pela base.

Pode ler a entrevista na edição do Económico Madeira, de 8 de janeiro, que pode ser consultada aqui.

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