Num mundo onde as empresas produzem volumes imensos de dados diariamente, o paradoxo é evidente: a maioria dessas informações nunca chega a ser analisada. Segundo um estudo da Accenture, entre 60% e 73% dos dados gerados permanecem inexplorados, representando uma oportunidade perdida tanto para a criação de valor como para o desenvolvimento de estratégias sustentáveis.

Esta realidade expõe um paradoxo crítico: enquanto os dados são frequentemente descritos como o “novo petróleo”, a incapacidade de refiná-los transforma-os em pouco mais que uma reserva inutilizada. No contexto da inteligência artificial (IA), esta lacuna é ainda mais grave, uma vez que a eficácia de qualquer modelo de IA depende, acima de tudo, da qualidade e relevância dos dados disponíveis.

A frase “We are drowning in data, but starving for insights” resume perfeitamente este cenário. As organizações acumulam volumes exponenciais de informações provenientes de sensores, redes sociais, transações e interações digitais, mas essa abundância, por si só, não se traduz em conhecimento útil. A inteligência artificial, que depende de grandes volumes de dados para treinar modelos, identificar padrões e oferecer previsões precisas, falha inevitavelmente quando os dados não são adequadamente estruturados, limpos e interpretados.

O primeiro obstáculo reside na natureza dos dados em si. A maior parte dos dados produzidos hoje é não estruturada: texto livre, imagens, vídeos, áudio ou registos de dispositivos IoT. Este tipo de dados, embora rico em potencial, não é imediatamente utilizável para modelos de IA sem um processo de transformação rigoroso. É aqui que surgem as etapas essenciais de preparação: desde a recolha e limpeza até à análise e armazenamento, cada fase desempenha um papel crucial no sucesso ou fracasso de qualquer estratégia de IA.

Sem dados de qualidade, mesmo os algoritmos mais sofisticados produzem resultados enviesados ou imprecisos. Modelos treinados em dados incompletos ou mal preparados amplificam falhas, em vez de fornecer insights úteis. Este fenómeno não é apenas um problema técnico; tem implicações estratégicas profundas. Uma empresa que baseia decisões em modelos alimentados por dados deficientes corre o risco de comprometer a sua competitividade, prejudicar a relação com os clientes e tomar decisões financeiras desastrosas.

A integração de dados relevantes é outro desafio significativo. Nas empresas, é comum que diferentes departamentos recolham e armazenem dados em silos, isolando informações que poderiam, juntas, oferecer uma visão mais completa do negócio. Uma estratégia de IA bem-sucedida requer a criação de pipelines de dados eficientes, onde fluxos de informação possam ser consolidados, transformados e analisados de forma coesa. Ferramentas como data lakes e plataformas de integração são cruciais para alcançar este objetivo, mas a sua implementação requer não apenas investimento em tecnologia, mas também uma mudança cultural que promova a colaboração entre equipas.

Além disso, uma estratégia de IA sustentável exige mais do que tecnologia avançada: é necessário talento humano. Cientistas de dados, engenheiros de machine learning e especialistas em ética de dados desempenham papéis fundamentais na construção de modelos robustos e transparentes. São eles que garantem que os dados utilizados são representativos, que os resultados são explicáveis e que os processos respeitam normas éticas e regulamentares.

No entanto, os dados, per se, não são a solução. São a base, mas a capacidade de os transformar em conhecimento acionável é o que separa empresas que lideram mercados daquelas que ficam para trás. O verdadeiro potencial da inteligência artificial é alcançado quando os dados alimentam modelos capazes de fornecer previsões precisas, identificar oportunidades ocultas e mitigar riscos antes que estes se concretizem.

Concluindo, sem dados, a inteligência artificial não é mais do que um conceito vazio. E sem estratégias sólidas para recolher, estruturar e utilizar esses dados, o potencial transformador da IA permanece inexplorado. Empresas que pretendem prosperar na era digital precisam de abraçar este desafio, investindo na criação de infraestruturas de dados robustas e capacitando as suas equipas com as ferramentas e competências necessárias. Porque, no final, o sucesso da IA não depende apenas da tecnologia, mas da qualidade e relevância dos dados que a sustentam.