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Fed prepara-se para último corte de juros do ano e da era Biden

A Reserva Federal deve fechar o ano com novo corte de 25 pontos base, chegando aos 100 pontos acumulados em descidas este ano, mas as perspetivas de cortes para 2025 ajustaram em baixa com o regresso de Trump. Mercado prevê agora apenas três descidas no próximo ano.
FILE PHOTO: Federal Reserve Board Chairman Jerome Powell appears on a screen on the trading floor of the New York Stock Exchange (NYSE) during a news conference following a Fed rate announcement, in New York City, U.S., February 1, 2023. REUTERS/Andrew Kelly/File Photo
18 Dezembro 2024, 07h00

A Reserva Federal fecha o ano com nova reunião de política monetária e, apontam mercados e analistas, nova descida de 25 pontos base (p.b.), naquela que será a última mexida nos juros antes do regresso de Donald Trump à Casa Branca. A relação com o banco central já dá que falar e a política económica do 47º presidente não deve ajudar, arriscando seriamente voltar a agravar a inflação – algo que os mercados já estão a incorporar nas suas perspetivas.

Com já duas descidas e 75 p.b. acumulados este ano, a Fed deve continuar a normalização da política monetária, avançando com novo corte de 25 p.b. que deixará as taxas de referência entre 4,25% e 4,5%. Será a terceira descida consecutiva, face a uma inflação cada vez mais próxima do objetivo de 2% no médio prazo, isto apesar da subida da inflação em outubro, medida pelo índice de gastos pessoais de consumo (PCE), a medida preferencial da Fed.

O mercado atribui 95,4% de probabilidades a uma descida de 25 p.b. esta quarta-feira, um cenário próximo da certeza e secundado pela esmagadora maioria dos analistas. O mercado laboral recuperou em força em novembro, com 227 mil postos criados, face aos 36 mil de outubro (fortemente condicionados por tempestades e greves), e os sinais da maior economia do mundo continuam a ser sólidos.

A trajetória no próximo ano é, agora, a grande incógnita. A vitória de Trump arrisca agravar a inflação pela imposição de tarifas nos bens importados, dificultando a tarefa de uma Reserva Federal já ameaçada pelas sugestões de interferência do regressado presidente.

Para a Goldman Sachs, um corte em janeiro já não faz parte do cenário base, embora o banco norte-americano considere esta possibilidade mais real “do que as atuais taxas de mercado sugerem”. A justificação é que “a liderança da Fed pode querer ver uma maior estabilização do mercado laboral”, mas “os comentários recentes têm apontado claramente para uma vontade de abrandamento em breve”.

Por outro lado, o banco central “poderá querer ser precavido face à incerteza em torno da nova administração, sobretudo aumentos de tarifas”, além de “aparentar cada vez mais estar aberto a repensar a taxa neutra do que esperaríamos, o que apoia um arranque mais cauteloso e mais cedo enquanto buscam o ponto de paragem certo”.

O cenário base passa agora por três descidas no próximo ano, a um ritmo trimestral e a começar em março, o que deixaria a taxa terminal de 2025 entre 3,5% e 3,75%, bastante acima das anteriores projeções.

A Ebury acrescenta que a inflação subjacente se mantém persistente, “lançando alguns alertas” junto dos decisores da Fed. Medida pelo índice de preços no consumidor, a inflação subjacente registou em novembro o terceiro mês seguido estável em 3,3%, enquanto o PCE aponta para uma subida da taxa core em outubro, de 2,7% para 2,8%.

As expectativas do banco central estarão em foco com a atualização das projeções macro que acompanharão a decisão de quarta-feira, sobretudo o dot-plot relativo às taxas de juro e as previsões para a inflação. Entre os analistas, a visão é que “a projeção mediana para a taxa dos fundos federais em 2025 e de longo prazo também poderá ajustar-se em alta, face às projeções de setembro de 3,4% e 2,9%”, resume o diretor de Investimento Global em Obrigações da AllianzGI, Michael Krautzberger.

Banco de Inglaterra não mexe

Além da Fed, também o Banco de Inglaterra (BoE) se reúne esta quarta-feira para decidir sobre a política monetária no país, sendo esperada uma reunião sem mexidas nas taxas diretoras.

A inflação continua a preocupar, dada a subida do indicador nominal de 1,7% em setembro para 2,3% em outubro e do subjacente de 3,2% para 3,3%, mas é a dinâmica salarial que mais problemas criará ao banco central. O crescimento dos salários no trimestre finalizado em outubro ficou muito acima do condizente com uma inflação de 2% no médio prazo, com destaque para o avanço acima de 12% em termos anualizados no setor privado.

Estes números darão certamente força aos ‘falcões’ do BoE, projeta a análise do banco neerlandês ING, apesar de uma volatilidade notável. Ainda assim, o número de vagas laborais regrediu para valores abaixo dos registados no período pré-Covid-19, um sinal de que o mercado laboral britânico já terá visto melhores dias.

A expectativa passa por um regresso aos cortes em fevereiro, dado que a inflação do lado dos serviços também se deverá manter em níveis elevados demais para o objetivo do BoE – a leitura mais recente, de outubro, marca 5% em termos homólogos.

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