O novo CEO da Galp vai ser interino, sabe o Jornal Económico. A escolha que será anunciada nos próximos dias vai recair num nome da casa. Esta foi a solução encontrada pela petrolífera portuguesa para responder à crise instalada com a polémica com Filipe Silva que culminou na sua demissão por “razões familiares”.
Já o nome definitivo será encontrado através de um processo de recrutamento lançado tanto a nível nacional como internacional, sendo de prever alguma demora até ser encontrado o nome certo para a companhia, apurou o Jornal Económico.
O nome do CEO interino permanece no segredo dos deuses, mas é habitual as grandes empresas terem um plano de sucessão preparado precisamente para dar resposta a este tipo de crises. O objetivo é divulgar o nome no espaço de uma semana.
Neste momento, dois nomes surgem como evidentes para o cargo de CEO interino, segundo as fontes consultadas pelo JE: Maria João Carioca, administradora financeira da Galp e que conta com passagens pelo CaixaBI e pela Fidelidade, mas que está apenas na empresa há menos de um ano; João Diogo Silva, administrador comercial, mas que conhece bem os cantos à casa, estando na companhia desde 1997, há quase 30 anos, tendo já liderado a operação em Espanha. Outra possibilidade apontada ao JE é o cargo vir a ser ocupado por algum responsável da holding do grupo Amorim.
Filipe Silva chegou à liderança do cargo a 1 de janeiro de 2023, substituindo o britânico Andy Brown no cargo.
A saída de Filipe Silva do cargo na sequência da polémica por manter uma relação afetiva com uma diretora da empresa está a levar a cotada a descer mais de 1,3% na bolsa de Lisboa para 15,92 euros esta quarta-feira.
A polémica com o CEO da Galp durou 96 horas até ao anúncio da sua demissão. A saída por “razões familiares” tem efeito imediatos e o novo CEO será anunciado nos próximos dias.
Filipe Silva já foi ouvido pela Comissão de Ética da Galp e a investigação ao caso vai continuar para apurar se terá havido conflitos de interesse na relação entre o CEO e a diretora, apurou o JE.
Um dos pontos chave neste processo foi o facto de o gestor não ter comunicado o relacionamento internamente, que poderia acarretar questões de conflitos de interesse entre Filipe Silva e a diretora da empresa, aponta um especialista em governance ouvido pelo JE.
“Meteu o pé na argola, devia ter comunicado este facto relevante. Falhou no reporte. Como CEO, devia estar muito mais educado nesta matéria. Este tema não é meramente da esfera privada, tem implicações para a empresa e pode criar roturas nas equipas de topo, levar a divisões internas, perda de autoridade pelo CEO, rumores”, disse, ao JE, Filipe Morais, professor de Governance na Henley Business School (UK) e responsável na Amrop, consultora especializada no recrutamento de executivos.
“Quem não está por dentro pode achar isto drástico, mas ele não é só Filipe Silva, o indivíduo, mas Filipe Silva, o CEO de uma das maiores empresas da bolsa de Lisboa. É uma empresa de grande importância para o país. Por isso é que são pagos os big bucks [quantias elevadas de dinheiro]… não pode querer só essa parte. É um lugar de grande responsabilidade”, defendeu na conversa com o JE.
Filipe Morais considera que esta “não é uma relação de emprego simples. É um administrador da empresa, tem especiais deveres de diligência de reporte que um colaborador simples poderá não ter. Este senhor toma decisões de milhões de euros. Em Portugal pode não haver uma cultura disto, todos acham que é uma banalidade, mas não é. Este tipo de situações pode provocar uma cultura tóxica, levando a rumores, que podem ser aproveitados”, afirmou.
Já a acionista e chairwoman Paula Amorim disse em comunicado na terça-feira: “Gostaria de enfatizar a contribuição que o Filipe deu à empresa nos últimos 12 anos, um período em que a sua dedicação foi importante para o crescimento da Galp. O comité executivo da Galp continua nas mãos de uma equipa altamente qualificada, que vai assegurar a execução e implementação da estratégia da empresa”.
Presidente-executivo da petrolífera portuguesa desde 2023, o seu mandato terminava no final de 2026. Entrou na empresa em 2012, tendo ocupado primeiro o cargo de administrador financeiro.
A denúncia anónima sobre esta relação foi feita junto da Comissão de Ética e Conduta da Galp Energia, como revelou o jornal “Eco” na sexta-feira à noite, onde Filipe Silva garantiu que nenhuma decisão tomada por si “ameaçou a integridade das decisões da Galp“.
O processo de investigação está a ser conduzido pelo Comité de Ética e Conduta (CEC) da empresa, liderado por Tito Arantes Fontes, advogado e professor universitário de direito. Os outros dois membros são Sandra Bomtempo Costa, Diretora de Auditoria Interna na Galp, e Nuno Moraes Basto, especialista em corporate governance e compliance.
Quando estiver concluída a investigação, o documento será enviado para o Conselho Fiscal, que o irá apreciar, avaliar e propor uma decisão final: ou o processo é arquivado ou propõe ao conselho de administração uma decisão final sobre a matéria, que pode passar pela “cessação” da relação contratual com Filipe Silva, ou pela “instauração de um processo disciplinar ou de suspensão ou perda da qualidade de membro de órgão social”, conforme previsto no regulamento da CEC da Galp.
O conselho fiscal é liderado por José Pereira Alves, que ocupa a mesma posição na telecom NOS, na Corticeira Amorim e na Fundação Galp, tendo como vogais Maria de Fátima Geada (diretora do gabinete de Auditoria Interna da TAP SGPS e vogal do conselho fiscal da Fundação Galp) e Pedro Antunes de Almeida (também presidente do conselho fiscal da Fidelidade Seguros, vogal do conselho fiscal da Fundação Galp).
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