Equipas de salvamento retiraram vários sobreviventes e cadáveres de uma das minas mais profundas da África do Sul, onde centenas de mineiros em situação irregular estão presos há meses num poço abandonado – numa espécie de braço de ferro com as autoridades, cuja prioridade é expulsá-los do país.
“Podemos confirmar que a máquina está a funcionar. Trouxe de volta sete pessoas”, disse o porta-voz da organização da sociedade civil Sanco, Mzukisi Jam, referindo-se ao cesto e guincho especializados que entraram em ação em Stilfontein para trazer os mineiros presos à superfície. Quatro corpos foram também retirados da mina, disse o líder da comunidade local, Johannes Qankase, em declarações à agência France-Presse (AFP).
Mais de vinte mineiros ilegais foram resgatados e quinze corpos içados para a superfície da mina no espaço de dois dias, disse a polícia esta terça-feira. No total, “24 pessoas foram confirmadas como mortas” desde agosto no local, cerca de 140 km a sudoeste de Joanesburgo, disse o Comissário Nacional Adjunto, Tebello Mosikili. “Na semana passada, recebemos uma carta do subsolo indicando que havia mais de 109 corpos”, adianta a AFP. Os números são, de qualquer modo, poco coincidentes: Sabelo Mnguni, porta-voz do grupo Comunidades Afetadas pela Mineração Unidas em Ação, disse que “no mínimo” 100 homens morreram na mina, por fome ou desidratação.
Durante meses, o acesso a esta mina foi vedado no âmbito de uma operação policial destinada a prender centenas de ‘zama zamas’, os mineiros ilegais, muitas vezes estrangeiros. A exploração mineira ilegal é uma prática comum na África do Sul, com mineiros, por vezes menores de idade, a trabalhar em minas desativadas e abandonadas, principalmente na área da cidade de Joanesburgo e arredores. Pelo menos 100 mineiros em situação irregular morreram e mais de 400 continuam presos no subsolo após um impasse de meses com a polícia, segundo a Mining Affected Communities United in Action (MACUA).
A mina perto da cidade de Stilfontein, a sudoeste de Joanesburgo, tem sido palco de um tenso impasse entre a polícia, mineiros e membros da comunidade local desde novembro, quando as autoridades lançaram pela primeira vez uma operação para tentar forçar os mineiros a sair. Segundo relatos, alguns deles estão debaixo da terra desde julho ou agosto passado. As autoridades afirmam que os mineiros podem sair, mas que se recusam a fazê-lo, uma vez que não querem ser expulsos do país. Mas a informação tem sido contestada por grupos de defesa dos direitos humanos e por ativistas, que criticam as táticas da polícia de cortar o abastecimento de comida e água dos mineiros, numa tentativa de os forçar a sair.
A MACUA, que levou as autoridades a tribunal em dezembro para as obrigar a permitir o envio de alimentos, água e medicamentos para os mineiros, divulgou dois vídeos feitos com um telefone que mostravam dezenas de cadáveres de mineiros embrulhados em plástico e sobreviventes extremamente magros a pedir ajuda.
Os ministros da Polícia e dos Recursos Minerais da África do Sul planeavam visitar a mina esta terça-feira. A ministra da Presidência, Khumbudzo Ntshavheni, disse em novembro, recorda a agência Euronews, que o governo não iria ajudar os mineiros, que considerava serem “criminosos”.
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