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Equipa de Trump diz que acordo de paz na Ucrânia está a meses de distância

A retórica da paz estabelecida a 21 de janeiro, o primeiro dia da nova administração da Casa Branca, esbarrou com a realidade e passou a ser um mero slogan, absorvido pela ‘espuma’ de campanha eleitoral. Os mais céticos falam agora em “vários meses”.
16 Janeiro 2025, 07h00

Os conselheiros do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, estão a recuar da promessa de campanha de acabar com a guerra na Ucrânia no primeiro dia da nova administração, 21 de janeiro, ou numa data que lhe seja próxima. Segundo a agência Reuters, o novo cronograma do tema refere meses e não dias ou semanas. Os assessores de Trump admitem agora que a guerra na Ucrânia levará meses – e não descartam a hipótese de esses meses completarem um ano – para ser resolvida.

Dois membros da equipa disseram à Reuters que em cima da mesa está agora um cronograma de meses para resolver o conflito, descrevendo a meta do dia um como uma combinação de declarações em ambiente de campanha e uma falta de apreciação da intratabilidade do conflito e do tempo que a nova administração terá de gastar para se inteirar de toda a dimensão do problema.

Essas avaliações coincidem com os comentários do novo enviado de Trump à Rússia e à Ucrânia, o tenente-general na reforma Keith Kellogg, que disse na semana passada que gostaria de ter uma “solução” para a guerra dentro de 100 dias, muito além do cronograma original do presidente eleito. No entanto, refere a agência, mesmo o prazo de Kellogg é “muito, muito otimista”, disse John Herbst, ex-embaixador dos EUA na Ucrânia, que agora é um dos participantes no ‘think tank’ Atlantic Council. Para que a paz seja alcançada, Trump precisa de persuadir Vladimir Putin de que há desvantagens em ser intransigente”, disse Herbst. O especialista recordou ainda os comentários feitos no início deste mês pelo embaixador da Rússia na ONU, Vasily Nebenzya, que disse que os planos de paz apresentados pelos conselheiros de Trump “não são nada de interessante”.

Trump sabe que as suas primeiras palavras sobre o assunto foram precipitadas: deixou de reafirmar o primeiro dia como o prazo para resolver o problema, para passar a falar em encontrar uma solução “muito rapidamente”. Por outro lado, desde que foi eleito, Trump não mais voltou à retórica do dia um do seu mandato, tendo optado por ser mais contido – e certamente mais realista. E chegou mesmo a afirmar que acabar com a guerra na Ucrânia será mais difícil que chegar a um cessar-fogo em Gaza.

A Rússia também deu mostras de que estava pouco inclinada a ‘cumprir’ o calendário inicial: ao admitir negociações diretas com Trump e não com o presidente ucraniano, e rejeitando desde logo algumas das ideias apresentadas pela equipa do presidente eleito, ficava claro que o primeiro dia do presidente na Casa Branca não traria nenhuma novidade.

Recorde-se que a Rússia conseguiu ganhos significativos no campo de batalha nos últimos meses – embora tenham tido um custo enorme em termos de homens e de material. E esses ganhos são um incentivo para retardar as negociações. Do outro lado, os ucranianos não conseguiram desenvolver a sua presença em território russo (na região de Kursk) como tinham previsto, nem desestabilizar significativamente a Crimeia, pelo que não têm grandes motivos para acelerar um acordo.

Os contornos exatos do plano de paz (ou de um plano de paz) patrocinado por Trump não são conhecidos, mas os analistas apontam para a forte possibilidade de, em cima da mesa, estar uma proposta para impedir a possibilidade de a Ucrânia se tornar membro da OTAN, pelo menos no futuro próximo, e congelar as atuais linhas de batalha – nada que motive muito os comandos de Kiev. Ao mesmo tempo, os Estados Unidos considerariam a hipótese de dar à Ucrânia uma garantia de segurança material, como a criação de uma zona desmilitarizada patrulhada por tropas europeias. Talvez resida aqui a chave para se compreender a razão que levou Donald Trump a afirmar que os países membros da NATO devem ponderar a possibilidade de elevar os gastos com a defesa para os 5% do PIB – e já não para os anteriores 2%.

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