A atividade comercial global está a decrescer pelo menos desde que os Estados Unidos e a China entraram em guerra aberta pelo primeiro lugar em termos de qual é a maior economia do mundo. Mas, para uma análise do Banco de Portugal realizada por João Amado, diretor do Departamento de Estudos Económicos, e Ana Correia, economista do mesmo departamento, adianta que “Portugal está bem defendido” destes avatares internacionais – que, em última análise, têm como consequência a diminuição da globalização. A razão é simples: “apenas 40% das importações e exportações portuguesas têm como destino o espaço extra-União”, o que implica que o grosso da atividade está a salvo da guerra instalada entre as duas maiores economias do globo.
Os valores do estudo são os disponíveis: 2022 – mas não é crível que, neste particular, os anos seguintes tenham mostrado grandes mudanças, apesar de a agência AICEP mostrar que o comércio extra-comunitário merecer algum foco da parte dos exportadores. De qualquer modo, a atividade económica portuguesa não tem forma de escapar incólume à guerra comercial – que se prepara para ‘escrever’ novos capítulos na sequência da tomada de posse de Donald Trum como presidente dos Estados Unidos.
Para os dois técnicos do banco central – que explicam tudo num podcast da responsabilidade do Banco de Portugal – “novas medias prejudiciais ao comércio mundial” vão continuar a sair das decisões dos blocos económicos. Isso mesmo fica evidenciado pelo peso que as importações/exportações assumem na formação do PIB global: era de 34% em 1996, tendo dado um ‘salto’ enorme para os 45% em 2023 – mas a partir daí estagnou. A estagnação deve-se, evidentemente, ao aumento do peso dos serviços em detrimento dos bens transacionáveis, mas os tempos que correm não parecem ser de feição a quem produz coisas que se possam vender.
De qualquer modo, convém ter em consideração o que o Banco de Portugal diz no seu Boletim Económico de Dezembro em relação ao comércio multilateral de Portugal. Segundo análise, do banco central, “as exportações deverão crescer 3,9% em 2024 e 3,2%, em média, em 2025–27, num contexto de aceleração da procura externa, menor dinamismo do turismo e ganhos de quota progressivamente menores”.
Para o banco central “as exportações de bens recuperaram em 2024, de forma mais marcada do que noutros países da área do euro, onde o setor exportador tem sido afetado por problemas de competitividade. No primeiro semestre de 2024, os exportadores portugueses de bens continuaram a ganhar quota em termos nominais nos mercados da UE, com contributos positivos da maioria dos grupos de produtos”.
As exportações de bens deverão crescer 3,8% em 2024 (após uma contração de 1,5% em 2023) e 3,3%, em média, em 2025–27. A desaceleração das exportações de turismo “reflete a normalização dos padrões de consumo global após a forte recuperação pós-pandemia da procura destes serviços. Esta componente deverá crescer ainda a um ritmo superior ao total das exportações em 2024 (5,5%) e relativamente próximo nos anos seguintes (3,4%, em média)”.
As restantes exportações de serviços deverão crescer, em média, 3% em 2024–27, o que representa uma desaceleração face aos crescimentos elevados registados no período pós-pandemia. O aumento da fragmentação da economia mundial comporta riscos descendentes para a projeção das exportações (TED — O comércio internacional português e a fragmentação da economia mundial). “As importações crescem no horizonte de projeção a um ritmo superior ao de 2023, em resultado do aumento do conteúdo importado da procura global, associado ao maior dinamismo das exportações de bens e da formação bruta de capital fixo (FBCF)”.
O Banco de Portugal finaliza a análise dizendo que “o excedente externo aumenta de 1,9% do PIB em 2023 para 3,8% em média em 2024–26 e reduz-se para 3,3% em 2027, condicionado pelo perfil das transferências com a UE. As transferências líquidas da UE aumentam para 1,7% do PIB em 2024 e 2,7% em 2025 e 2026, diminuindo para 1,4% do PIB em 2027 com o fim do PRR. O saldo da balança de bens e serviços deverá situar-se em 2,2% do PIB em média no horizonte de projeção, refletindo um défice de 9% do PIB nos bens e um excedente de 11,2% nos serviços. A elevada capacidade de financiamento da economia face ao exterior em 2024–27 reflete o saldo entre poupança e investimento do setor privado, em particular das famílias, tendo o saldo das administrações públicas um contributo, em média, ligeiramente negativo”.
Tagus Park – Edifício Tecnologia 4.1
Avenida Professor Doutor Cavaco Silva, nº 71 a 74
2740-122 – Porto Salvo, Portugal
online@medianove.com