[weglot_switcher]

FC Porto pagou 17 milhões ao Portimonense por seis futebolistas, mas só dois jogaram pela equipa principal

A auditoria forense da Deloitte mostra como a SAD do FC Porto liderada por Pinto da Costa gastou 16,7 milhões de euros em seis jogadores, sem que houvesse “racional de decisão”. Verba foi sempre parar aos cofres do Portimonense.
Porto
Wilson Manafá – 7 milhões de euros – do Portimonense para o FC Porto, em 2019. Foto: Nuno Gomes
20 Janeiro 2025, 07h00

Entre 2016 e 2022, a FC Porto SAD investiu uma verba próxima dos 17 milhões de euros em seis jogadores e, de acordo, com a auditoria forense efetuada pela consultora Deloitte, conhecida na semana passada, a totalidade desta verba reverteu para o Portimonense, sem custos de intermediação.

No entanto, o clube algarvio não é o único fator em comum a estas seis contratações. Explica a Deloitte que, nesta amostra, “verificou-se generalizadamente a ausência de documentação de suporte ao processo decisório no contexto de aquisições, empréstimos, alienações ou saídas a custos a zero. Neste aspeto, a consultora dá o exemplo de relatórios de scouting ou de desempenho do jogador.

A Deloitte destaca um conjunto de seis jogadores – Gleison, Musa Yahaya, Wilson Manafá, Samuel Portugal, Bruno Costa e Rui Costa – sobre o qual a FC Porto SAD adquiriu direitos económicos “sem que se registe qualquer documentação que dê suporte ao racional de decisão” que justifique a contratação, alienação do passe futebolístico ou a saída do jogador.

Comprar por um milhão e vender por 100 mil euros

A viagem a este universo de seis jogadores começa por Gleison Moreira, um avançado brasileiro que chegou ao FC Porto em abril de 2016 proveniente do Portimonense depois dos “dragões” investirem um milhão de euros por 50% do passe, isto numa altura em que o futebolista apresentava um valor de mercado de 75 mil euros. Fez 69 jogos pela equipa B e depois de sucessivos empréstimos, a metade do passe que tinha sido adquirida pelo FC Porto foi vendida ao Portimonense em junho de 2019 por 100 mil euros, isto numa altura em que o valor de mercado já era de 600 mil euros.

750 mil euros por um jogador avaliado em 25 mil euros

Do ataque para a defesa, o próximo caso apontado pela Deloitte recai sobre o nigeriano Musa Yahaya. Depois de 12 jogos pelo Portimonense, a SAD do FC Porto adquiriu 45% do passe deste jogador em maio de 2016 por um valor de 750 mil euros, quando o futebolista tinha um valor de mercado de 25 mil euros. Quatro anos e 78 jogos depois (todos pela equipa B), Musa Yahaya sai a custo zero quando na altura já tinha um valor de mercado de 300 mil euros. Desde junho de 2020 só cumpriu quatro partidas oficiais e não atua numa partida desde a época 2021/22.

Porto paga sete milhões de euros por Wilson Manafá

Wilson Manafá chegou ao FC Porto em janeiro de 2019 (proveniente do Portimonense) quando a SAD azul e branca decidiu investir três milhões de euros por 60% dos direitos económicos, numa altura em que o futebolista estava avaliado em 1,2 milhões de euros. Dois anos depois, em janeiro de 2021, o FC Porto reforça a aposta neste defesa-direito com a compra dos restantes 40% do passe, desta vez pelo valor quatro milhões de euros. Depois de cumprir 130 jogos pela equipa A e oito partidas pela B, Manafá saiu a custo zero em junho de 2023, quando tinha um valor de mercado de dois milhões de euros.

Samuel Portugal: quatro milhões por zero minutos

Chegamos agora ao único jogador deste universo que não só ainda pertence ao FC Porto como tem contrato até junho de 2027. Apesar de ter sido contrato em 2022, o guarda-redes brasileiro nunca fez um único minuto pelo clube azul e branco. A história conta-se assim: em setembro de 2022, a SAD adquire 20% dos direitos económicos de Samuel Portugal por um milhão de euros; em dezembro do mesmo ano, adquire mais 35% por 1,5 milhões e em agosto de 2023 mais 35% do passe por 1,5 milhões de euros. Ao todo, quatro milhões de euros investidos num jogador que não atuou um único minuto desde 2022 com o dinheiro a reverter para os cofres do Portimonense.

Vender por dois milhões e comprar metade por 2,5 milhões

E agora, um médio. Bruno Costa foi formado nas escolas do FC Porto e sem espaço no plantel principal, o seu passe foi vendido ao Portimonense em janeiro de 2020 por dois milhões de euros (o mesmo valor de mercado que apresentava). Até aqui, nada de extraordinário, mas em junho de 2021 o FC Porto muda de ideias e adquire 50% dos direitos económicos do jogador por 2,5 milhões de euros (o valor de mercado que o jogador apresentava). Em setembro de 2023, o jogador viria a sair a custo zero numa altura em que apresentava um valor de mercado de 1,5 milhões de euros. Bruno Costa fez 47 jogos pela equipa principal dos dragões e 71 pela equipa B.

Pagar 1,5 milhões por avançado que valia metade

Terminamos com um avançado com nome de craque: Rui Costa. Em julho de 2018, este avançado português chegou ao FC Porto quando a SAD decidiu avançar para a aquisição de metade do passe por 1,5 milhões de euros, valor pago ao Portimonense. Nota a Deloitte que que o FC Porto pagou ao Portimonense o dobro pelo futebolista daquele que era o seu valor de mercado na altura: 750 mil euros. Em setembro de 2020, Rui Costa saiu a custo zero quando o seu passe estava avaliado em 400 mil euros.

“Fragilidades e irregularidades sérias” no FC Porto, aponta a Deloitte

As 10 temporadas investigadas pela Deloitte reportam ao período em que Pinto da Costa liderou o clube e a SAD, cargos que deixou de exercer em 2024 ao fim de 42 e 27 anos depois, respetivamente, após ter sido derrotado por André Villas-Boas nas eleições mais participadas da história portista, com o antigo treinador a prometer uma auditoria forense.

“A auditoria forense revelou fragilidades e irregularidades sérias na gestão do clube nos últimos anos, com decisões e comportamentos que causaram impactos financeiros e reputacionais muito significativos”, lamentou o FC Porto, num dia em que os associados tiveram acesso prioritário ao documento através do portal da transparência dos ‘dragões’.

O processo iniciou-se em maio de 2024, aquando da tomada de posse dos novos corpos sociais da SAD, e começou por atentar nas “principais irregularidades” decorrentes das últimas duas épocas, antes de a “relevância das evidências encontradas e a necessidade de avaliar tendências históricas” levar ao aprofundamento da análise a partir de 2014/15.

“As atuais administração e equipa de gestão têm o compromisso de adotar as medidas necessárias para minimizar ou mitigar os impactos negativos, procurar o ressarcimento sempre que tal for possível, e prosseguir a colaboração com a justiça nos processos em curso”, finalizou.

RELACIONADO
Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.