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França: extrema-esquerda prepara moção de censura contra François Bayrou

A moção de censura deverá realizar-se já esta quarta-feira, com o partido de extrema-esquerda La France Insoumise (LFI) a declarar que irá apresentar uma moção para tentar derrubar o governo de François Bayrou.
François Bayrou
Francois Bayrou, leader of French centrist party MoDem (Mouvement Democrate), arrives to attend the second plenary session of the Conseil National de la Refondation (CNR – National Council for Refoundation) at the Elysee Palace in Paris, France, December 12, 2022. REUTERS/Gonzalo Fuentes
4 Fevereiro 2025, 07h00

O primeiro-ministro francês, François Bayrou, forçou a aprovação do seu plano orçamental para 2025 no parlamento sem o voto dos deputados, recorrendo a um instrumento constitucional especial conhecido como artigo 49.3 para aprovar o projeto de lei há muito atrasado. Esta medida expõe o seu governo, recentemente nomeado, ao risco de uma moção de censura já na quarta-feira.

O Partido Socialista (PS), que faz parte da coligação de esquerda Nova Frente Popular (NFP), disse na tarde de segunda-feira que decidiu não votar contra o governo de Bayrou. No entanto, o partido de extrema-esquerda La France Insoumise (LFI) anunciou que iria apresentar uma moção de censura. “Este governo ilegítimo tem de cair”, declarou o LFI nas redes sociais.

O Partido do Rassemblement Nacional (RN), de extrema-direita, continua a hesitar, dizendo aos jornalistas que decidirão se votam contra Bayrou até quarta-feira.

O plano orçamental tem como objetivo reduzir o défice público para 5,4% este ano, em vez dos 6% previstos para 2024. Para tal, o governo de Bayrou pretende cortar 30 mil milhões de euros e aumentar os impostos em 20 mil milhões de euros sobre os superlucros e as famílias mais ricas.

França tem estado sob pressão da UE devido ao seu défice, que é mais do dobro da percentagem autorizada por Bruxelas. O antecessor de Bayrou, Michel Barnier, foi destituído em dezembro, depois de a extrema-direita e o NFP terem unido forças para derrubar o governo.

Recorde-se que François Bayrou acionou o artigo 49.3 para aprovar o Orçamento do Estado, envolvendo a responsabilidade do seu governo Na Assembleia Nacional, o primeiro-ministro falou na “hora da verdade” e de uma “semana da verdade” para o país. “Nenhum país pode viver sem orçamento e a França menos ainda”, afirmou, lembrando que é a primeira vez na história da V República que a França fica “sem orçamento no mês de fevereiro”.

“Este orçamento é perfeito? “Não”, reconhece François Bayrou, “mas é um orçamento de equilíbrio”.  E afirma que “os passos dados em direção um ao outro” devem permitir que o projeto de lei de finanças de 2025 seja aprovado. Bayrou compromete-se e ao seu governo com este texto do Orçamento, recorrendo ao artigo 49.3 da Constituição, que permite que ele seja adotado sem votação, a menos que uma moção de censura apresentada pelos deputados receba a maioria absoluta de votos.

Para já, os socialistas afirmam que não promoverão esse mecanismo. Em declaração ofical, o Partido Socialista justificou sua decisão de não censurar o governo Bayrou na discussão do orçamento. “Afirmamos ter procurado negociar para poupar o povo francês a esforços adicionais e ter conseguido evitar o pior para os concidadãos mais vulneráveis em certos assuntos”, escreveu o partido, citando em particular, como frutos dos seus esforços, a reindexação das pensões à inflação, o abandono do reembolso de medicamentos e consultas e “o cancelamento da supressão de quatro mil postos de ensino”.

O orçamento proposto pelo executivo “não é de modo algum o orçamento que um governo de esquerda teria proposto”, defende o PS. Nesse contexto, se o PS decidir não censurar o governo, “é apenas por um espírito de responsabilidade e no interesse do país e do povo francês”.

Aconteceu o mesmo com Michel Barnier – mas a solução acabou por ‘morrer’ às mãos da extrema-direita liderada por Marine Le Pen e Jordan Bardella.

Uma meta de poupança de 50 mil milhões de euros, com a intenção de reduzir o défice de 6,1% em 2024 para 5,3% em 2025. É esta a base que o primeiro-ministro francês, François Bayrou, conseguiu apurar para apresentar aos deputados da Assembleia Nacional – na perspetiva que, finalmente, os franceses possam ter um Orçamento para o ano já em curso. Quais são as diferenças em relação à proposta do anterior primeiro-ministro, Michel Barnier? Praticamente nenhumas – mas agora Bayrou e os franceses têm muito menos tempo, e convém, perante a ‘aflição’ económica de França, que o assunto se resolva.

Tendo o orçamento sido rejeitado no outono pela Assembleia Nacional, a comissão mista (CMP, um organismo criado entre o Senado e a Assembleia onde os partidos têm lugar proporcionalmente aos lugares que ocupam no parlamento) confirmou em grande parte a proposta aprovada em 23 de Janeiro no Senado, uma versão genericamente fiel às propostas iniciais de Michel Barnier, retomadas por François Bayrou, referem a maioria dos comentadores citados pela imprensa gaulesa. Especialmente no que diz respeito à receita.

Na proposta atual ali está o esforço temporário sobre os imposto dos rendimentos das famílias mais ricas (dois mil milhões de euros é o apuro esperado) e a contribuição excecional sobre os lucros das grandes empresas (oito mil milhões). Este esforço limitou-se apenas ao ano de 2025 (Barniere queria dois anos, 2025 e 2026). Outras propostas incluídas no texto são o aumento dos impostos para os automóveis não-elétricos, aumento da tributação sobre recompra de ações e de caldeiras a gás, entre outras ‘minudências’. O aumento para 0,4% do imposto sobre transações financeiras, considerado insuficiente pelo Partido Socialista nos últimos dias, também foi confirmado. Os parlamentares também chegaram a um acordo sobre o aumento do imposto sobre passagens aéreas, que passaria de 2,63 euros para 7,30 euros para uma passagem em classe económica para a França ou Europa, enquanto o governo inicialmente pretendia 9,50 euros. No total, o sistema renderá ao Estado entre 800 e 850 milhões de euros.

O governo Bayrou fez vários cortes nos orçamentos de vários ministérios. Ajuda pública ao desenvolvimento, ecologia, cultura, agricultura, investigação e ensino superior são as áreas mais afetadas. Os cortes ascendem a várias centenas de milhões. O esforço financeiro solicitado às autoridades locais foi estabilizado nos cerca de 2,2 mil milhões de euros. O governo também decidiu não estender o número de dias de licença médica para funcionários públicos para três , mas a taxa de compensação foi reduzida para 90% em vez de 100%.

Vários pontos sensíveis foram também arbitrados pela CMP, nomeadamente sobre o orçamento destinado à assistência médica do Estado (AME), reduzido em 111 milhões de euros relativamente ao orçamento inicial de Michel Barnier, para o manter ao nível de 2024 (cerca de 1,3 mil milhão). Prevista está também a promessa de François Bayrou de restaurar quatro mil cargos no ensino – mas à custa do próprio ‘pelo’: os 50 milhões de euros necessários para essa recuperação serão retirados de outra parte do orçamento da educação. Uma proposta simbólica não passou pelo filtro do CMP: os ex-primeiros-ministros e presidentes acabarão mantendo as suas ‘mordomias’. A emenda que visava retirar privilégios, integrada ao projeto de lei de finanças de 2025 pelos senadores, não foi adotada pela comissão.

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