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Ilídio Pinho: um legado construído através de décadas de “visão, dedicação e serviço à sociedade”

O empresário Ilídio Pinho, feito Doutor Honoris Causa pela Universidade Católica, disse, esta sexta-feira que “as ideias inovadoras não devem, nem podem morrer” e defendeu que num mundo em convulsão e numa Europa em crise, Portugal tem futuro. João Pinto, diretor da CPBS, que na qualidade de padrinho lhe fez o elogio, afirmou: “É uma figura que transcende o sucesso empresarial”.
8 Fevereiro 2025, 16h55

Ilídio da Costa Leite de Pinho, de 86 anos, foi esta sexta-feira agraciado com o grau de Doutor Honoris Causa da Universidade Católica Portuguesa.

Na preleção, após a imposição das insígnias e recebimento da carta doutoral, Ilídio Pinho lembrou o papel fundamental da Igreja Católica na educação e na cultura em Portugal. “Mesmo nos períodos mais conturbados com relações difíceis entre a Igreja e o Estado houve sempre nas duas instituições pessoas capazes de construir pontes e fazer a paz que trouxe progresso e modernidade”, afirmou, apontando como exemplo o seu amigo, Mário Soares, republicano, socialista, que em plena Revolução do 25 de Abril de 1974, encontrou interlocutor no Cardeal D. António Ribeiro, tendo sido dadas garantias de que a Igreja Católica “não seria hostilizada ou perseguida como foi na Primeira República”. 

A colaboração de Ilídio Pinho com a Universidade Católica Portuguesa vem desde esse tempo, quando “foi preciso resistir e aproveitar a crise para criar oportunidades”. Para ele a grande oportunidade chama-se COLEP Portugal – Embalagens, Produtos, Enchimentos e Equipamentos, acrónimo dos seus sobrenomes – Costa Leite de Pinho, empresa que fundou em 1964 e rapidamente se tornou “líder pela inovação e excelência”, como salientou  João Pinto, diretor da Católica Porto Business School, que na qualidade de padrinho lhe fez o elogio.

“Tornei-me um empresário global quando comecei a receber propostas de cooperação por parte de empresas multinacionais que receavam investir no nosso país”, contou Ilídio Pinho, explicando o que realmente tornou isso possível.  

“Portugal  no 25 de Abril e no período do PREC (Processo Revolucionário em Curso) passou a ser considerado um país de alto risco e muitas multinacionais proibiram as suas delegações de investir em Portugal. A solução foi encontrar na minha empresa, a COLEP, o parceiro estratégico para assumir os seus investimentos e lhes fornecer os seus produtos com alta e confidencial tecnologia para não perder mercado. Aceitei assumir riscos, transformando a COLEP numa empresa multiserviços, contornando a cadeia de valor em parceria com multinacionais possuidoras de tecnologia nossa desconhecida”.

O empresário considerou depois que este exemplo na forma de contornar a cadeia de valor poderia ser aplicado estrategicamente à economia portuguesa, afirmando categórico: “As ideias inovadoras não devem nem podem morrer”. E há lições que podem ser aprendidas. “Com o mundo em convulsão e a Europa em crise, tenho mesmo esperança, mas tenho mesmo, mais do que nunca em Portugal. A nossa geografia e a nossa história permitem-me dizer que o futuro está aqui.”

Confessou que pela sua parte vai continuar a trabalhar. “Já disse que não me reformo nem mesmo depois de morrer, porque o que faça tem que perdurar  para além de mim próprio – as empresas, a Fundação, a coleção de arte”.

Além da COLEP, Ilídio Pinho fundou a Ilídio Pinho Holding e a Fomentinvest e assumiu cargos de relevo em empresas de diversos sectores, desde o metalúrgico, segurador ou bancário. Também lançou a Fundação Ilídio Pinho que se destaca por iniciativas como a “Ciência na Escola” – em que já participaram mais de meio milhão de alunos e professores – bem como de apoio à cultura e arte e o notável “Grande Prémio Fundação Ilídio Pinho – Portugalidade”.

Na cerimónia de ontem lembrou várias vezes o seu filho Ilídio Pedro, desaparecido prematuramente, num acidente, em memória de quem criou a Fundação Ilídio Pinho e financiou o Grande Auditório da Universidade Católica no Porto. Também fez vários agradecimentos. Um fortemente aplaudido pelo auditório foi a António Ramalho Eanes, o General e Presidente, vencedor este ano do Prémio da Fundação Ilídio Pinho, de quem afirmou – “Deixem que vos diga é o pai da democracia em Portugal”. 

João Pinto, diretor da Católica Porto Business School, disse no elogio ao novo doutor: “Hoje reunimo-nos não apenas para celebrar um homem, mas um legado que se constrói através de décadas de visão, de dedicação e de serviço à sociedade (…) O engenheiro Ilídio Pinho é uma figura que transcende o sucesso empresarial  – é o exemplo de como a liderança quando aliada a valores humanistas pode transformar vidas e comunidades. Mais é um patriota, um verdadeiro ativo de Portugal e da Portugalidade”.

Nascido em Vale de Cambra a 19 de dezembro de 1938, numa família de pequenos empresários, “numa época marcada por dificuldades mas também por uma forte vontade de progresso”, como a traçou João Pinto, “Ilídio Pinho demonstrou, desde cedo, uma curiosidade invulgar e uma paixão pela resolução de problemas”. Estudou Engenharia, Eletrotécnica e Máquinas no Instituto Industrial do Porto, hoje conhecido por Instituto Superior de Engenharia do Porto. Do pai, salientou o professor, “aprendeu que o sucesso não se mede apenas mas pelo dinheiro ou pelo poder, mas pelo impacto positivo que se tem na vida dos outros”.

Sobre Ilídio Pinho, muito mais disse João Pinto, o que levou o laureado a confessar: “Obrigada professor João Pinto pela lição que me deu de mim próprio, sobre a minha forma de gerir as empresas. Aprendi muito sobre mim com o seu elogia académico. Eu sabia o que sabia, agora sei porque o sabia”.

A propósito lembrou outro seu amigo, Júlio Pomar, que à sua forma de gerir aplicava o lema de Leonardo Da Vinci –  “obstinado rigor”.  Admitiu: “É verdade, assim foi toda a minha vida e espero que vá assim até ao fim. Vale a pena aplicar a nossa vida profissional a essa exigência, como o demonstra o amigo Vasco de Mello com quem partilha a distinção e a cerimónia”. 

A cerimónia decorreu no Auditório Cardeal Medeiros, em Lisboa,  presidida pelo Magno Chanceler da Católica, D. Rui Valério, e nela intervieram a reitora, Isabel Capeloa Gil, e Fernando Alexandre, ministro da Educação, Ciência e Inovação. No seu Dia Nacional, a Universidade Católica Portuguesa concedeu também o doutoramento Honoris Causa ao empresário Vasco de Mello.

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