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Angola tem a 12.º inflação média anual mais elevada do mundo

Apesar de ter fechado o ano com uma inflação de 27,5% – atingiu um pico de 31,1% em julho a nível nacional e chegou aos 42,9% em Luanda, a tendência é de abrandamento no ano corrente. Mas o que poderá invertê-la? Wilson Chimoco, economista e coordenador do curso de Economia na Faculdade de Economia e Gestão da Universidade Católica de Angola (UCAN), traçou vários cenários numa análise para o JE.
13 Fevereiro 2025, 07h00

Angola tem a 12.ª inflação média anual mais elevada do mundo e a sétima do continente africano, de acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Apesar de ter fechado o ano com 27,5% – atingiu um pico de 31,1% em julho a nível nacional e chegou aos 42,9% em Luanda – a tendência é de abrandamento no ano corrente, segundo analistas da Oxford Economics, graças ao efeito de base favorável e à ausência de pressão dos preços internacionais do petróleo.

Mas o que poderá frustrar estas perspetivas? Wilson Chimoco, economista e coordenador do curso de Economia na Faculdade de Economia e Gestão da Universidade Católica de Angola (UCAN), traçou vários cenários numa análise para o Jornal Económico (JE).

“Há vários fatores que podem contrabalançar esta tendência. E a primeira, e mais relevante, é exatamente a possibilidade de o governo materializar aquilo que está previsto em sede do Orçamento Geral do Estado para 2025, que é a contínua remoção dos subsídios de combustíveis”, explicou o economista angolano, assinalando que a “redução dos subsídios de combustíveis tem o potencial de contrabalançar a expectativa de desaceleração da inflação para uma maior inflação” este ano.

Olhando para o outro lado do Atlântico e para o efeito Trump, Wilson Chimoco aponta para a possibilidade de que, com a nova política norte-americana, “o preço do barril do petróleo possa vir a fixar-se abaixo dos 70 dólares por barril”, em linha com o que está previsto na lei do Orçamento Geral do Estado (OGE). Esta situação, explica, “poderá pressionar a capacidade de exportação do país e, com essa menor capacidade de exportação, ter menor acesso às divisas e, com menor acesso às divisas, poder então alimentar o mercado cambial. Nisto, consequentemente, teremos uma maior depreciação cambial. E com a maior depreciação cambial, vamos ter de voltar a importar produtos, mesmo que os preços nos mercados internacionais se mantenham baixos. Mas o efeito da depreciação cambial, internamente, há de pressionar muito os preços em 2025”.

De acordo com o especialista, outro dos cenários de pressão é a possibilidade de a economia angolana “crescer muito abaixo daquilo que está previsto”. “A inflação em Angola, contrariamente a outras realidades, é uma inflação muito de escassez. Ou seja, há muito pouca oferta de produtos internos”, explicou, aludindo à forte dependência das importações e da produção interna.

“Tirando a componente de variação cambial, internamente, o governo prevê que a economia venha a crescer em 2025 em torno dos 4% e o setor não petrolífero em torno dos 5,5%. Portanto, um crescimento abaixo destas previsões traduzir-se-á numa menor oferta de produtos internos. E num contexto em que a população continua a crescer, a necessidade de maior consumo continua a existir dentro da economia, e começamos a assistir a uma pressão adicional sobre os poucos produtos que existem no mercado, e isso claramente se traduzirá numa maior pressão sobre os preços”, continuou.

A alta vulnerabilidade às doenças é um dos fatores de pressão do setor da saúde no país. De acordo com o Instituto Nacional de Estatística de Angola, os preços na saúde subiram 120,9% de janeiro de 2020 a novembro de 2024. As consequências da limitação do mercado interno e a maior vulnerabilidade às doenças, associada à pobreza extrema, pesam na análise.

Entre os fatores principais estão doenças tropicais, como paludismo e cólera. Do surto recente no país resultaram 3.543 infetados e 117 mortes, com Luanda a ser a província mais afetada. “Estas doenças têm um potencial de impactar muito a classe de bens de saúde. Na verdade, nos últimos dois anos, têm rivalizado com a classe dos bens. Os preços que mais sobem, para além das classes dos bens alimentares e bebidas não alcoólicas, têm sido também a classe de saúde”, explicou.

 

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