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Conferência de Segurança de Munique sob o signo do distanciamento dos EUA

Começa na sexta-feira a Conferência de Segurança de Munique – que mais uma vez decorre sob o signo dos desentendimentos entre os dois lados do Atlântico. O vice-presidente, JD Vance, está encarregado de gerir as hostilidades.
epa11839122 President-elect Donald Trump (R) and Vice President-elect JD Vance (L) sit before the U.S. Capitol for the inauguration of US President-elect Donald Trump in Washington, DC, USA, 20 January 2025. Trump will be sworn in for a second term as president of the United States on 20 January. Trump, who defeated Harris in the 2024 general election, is being sworn in on 20 January 2025 as the 47th president of the United States, though the planned outdoor ceremonies and events have been cancelled due to a forecast of extreme cold temperatures. EPA/JULIA DEMAREE NIKHINSON / POOL
13 Fevereiro 2025, 07h00

Desde que Donald Trump tomou posse como presidente dos Estados Unidos, as relações do seu país com a Europa – e particularmente com a União Europeia – têm sofrido um acentuado aumento de tensão, como mais uma vez ficou provado na Cimeira de Paris sobre Inteligência Artificial (IA). A Conferência de Segurança de Munique, que decorre a partir de sexta-feira, será, com certeza, como afirmam todos os comentadores, mais um fórum onde as ‘novas’ divergências estarão ativas.

Relevantemente, a maioria dos europeus considera que os Estados Unidos são um “parceiro necessário” e não “um aliado”, segundo uma sondagem publicada esta quarta-feira pelo grupo de reflexão pan-europeu European Council on Foreign Relations (ECFR), num contexto de fricção entre os dois lados do Atlântico por causa dos direitos aduaneiros.

Tudo isto é suscetível de impactar os debates no tradicional hotel onde decorre a conferência de Munique, o Bayerischer Hof, onde políticos, líderes militares e peritos se reunirão de 14 a 16 de fevereiro. Espera-se que cerca de 60 chefes de Estado e de governo participem na conferência de Munique, que é considerada o fórum mais importante do mundo em matéria de política de segurança. O vice-presidente dos Estados Unidos, JD Vance, e o secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, são a ‘task force’ que vem da América – que esta semana inaugurou oficialmente o novo nome de ‘velho’ Golfo do México. O novo secretário-geral da NATO, Mark Rutte, também é esperado – num contexto em que o neerlandês se tem esforçado por manter a confiança entre os dois blocos, apesar de o seu papel ser pouco mais que o de um executante das ordens de Washington.

Recorde-se que a conferência de segurança é uma reunião informal onde não são tomadas decisões, mas é impossível esquecer que Donald Trump disse que “temos sido enganados pelas nações europeias, tanto no comércio como na NATO”. “Se não pagarem, não vos protegeremos”. É este o contexto da conferência deste ano, a que se acrescentam as novas tarifas que vão moldar o comércio bilateral e a retirada dos fundos norte-americanos de organizações ativas a nível internacional – com impacto na Europa ou em seu redor. Na Europa, o caso mais óbvio é a Ucrânia – e não há forma de o tema deixar de estar em cima das mesas da conferência. A propósito, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky e o enviado de Trump para a Ucrânia, Keith Kellogg, são esperados em Munique.

No período que antecedeu a conferência, circularam rumores de que Kellogg poderia apresentar o plano da administração Trump para acabar com a guerra na Ucrânia no evento. Quando questionado sobre este assunto, o presidente da conferência, Christoph Heusgen, disse esperar que a cimeira seja uma ponte para “o progresso em direção à paz na Ucrânia”: “Esperamos que a cimeira de Munique seja útil. E também temos os sinais correspondentes para fazer progressos no sentido da paz na Ucrânia”, disse, citado por várias agências internacionais.

Outro tema que por ali vai ‘rondar’ é o da Gronelândia. Vai ser interessante ouvir o que diz JD Vance, considerado pelos analistas como o autor primeiro da bizarra ideia da anexação, compra ou qualquer outra iniciativa em seu torno.

Seja como for, é de esperar que a conferência não decorra com a confluência argumentativa que a costuma caracterizar e que, no final, as diferenças e o aumento das divergências entre a União Europeia e os Estados Unidos (com certeza conluiados com o Reino Unido) voltem a ficar evidentes.

 

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