Desde que Donald Trump tomou posse como presidente dos Estados Unidos, as relações do seu país com a Europa – e particularmente com a União Europeia – têm sofrido um acentuado aumento de tensão, como mais uma vez ficou provado na Cimeira de Paris sobre Inteligência Artificial (IA). A Conferência de Segurança de Munique, que decorre a partir de sexta-feira, será, com certeza, como afirmam todos os comentadores, mais um fórum onde as ‘novas’ divergências estarão ativas.
Relevantemente, a maioria dos europeus considera que os Estados Unidos são um “parceiro necessário” e não “um aliado”, segundo uma sondagem publicada esta quarta-feira pelo grupo de reflexão pan-europeu European Council on Foreign Relations (ECFR), num contexto de fricção entre os dois lados do Atlântico por causa dos direitos aduaneiros.
Tudo isto é suscetível de impactar os debates no tradicional hotel onde decorre a conferência de Munique, o Bayerischer Hof, onde políticos, líderes militares e peritos se reunirão de 14 a 16 de fevereiro. Espera-se que cerca de 60 chefes de Estado e de governo participem na conferência de Munique, que é considerada o fórum mais importante do mundo em matéria de política de segurança. O vice-presidente dos Estados Unidos, JD Vance, e o secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, são a ‘task force’ que vem da América – que esta semana inaugurou oficialmente o novo nome de ‘velho’ Golfo do México. O novo secretário-geral da NATO, Mark Rutte, também é esperado – num contexto em que o neerlandês se tem esforçado por manter a confiança entre os dois blocos, apesar de o seu papel ser pouco mais que o de um executante das ordens de Washington.
Recorde-se que a conferência de segurança é uma reunião informal onde não são tomadas decisões, mas é impossível esquecer que Donald Trump disse que “temos sido enganados pelas nações europeias, tanto no comércio como na NATO”. “Se não pagarem, não vos protegeremos”. É este o contexto da conferência deste ano, a que se acrescentam as novas tarifas que vão moldar o comércio bilateral e a retirada dos fundos norte-americanos de organizações ativas a nível internacional – com impacto na Europa ou em seu redor. Na Europa, o caso mais óbvio é a Ucrânia – e não há forma de o tema deixar de estar em cima das mesas da conferência. A propósito, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky e o enviado de Trump para a Ucrânia, Keith Kellogg, são esperados em Munique.
No período que antecedeu a conferência, circularam rumores de que Kellogg poderia apresentar o plano da administração Trump para acabar com a guerra na Ucrânia no evento. Quando questionado sobre este assunto, o presidente da conferência, Christoph Heusgen, disse esperar que a cimeira seja uma ponte para “o progresso em direção à paz na Ucrânia”: “Esperamos que a cimeira de Munique seja útil. E também temos os sinais correspondentes para fazer progressos no sentido da paz na Ucrânia”, disse, citado por várias agências internacionais.
Outro tema que por ali vai ‘rondar’ é o da Gronelândia. Vai ser interessante ouvir o que diz JD Vance, considerado pelos analistas como o autor primeiro da bizarra ideia da anexação, compra ou qualquer outra iniciativa em seu torno.
Seja como for, é de esperar que a conferência não decorra com a confluência argumentativa que a costuma caracterizar e que, no final, as diferenças e o aumento das divergências entre a União Europeia e os Estados Unidos (com certeza conluiados com o Reino Unido) voltem a ficar evidentes.
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