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Ucrânia. Zelensky na Arábia Saudita, com os EUA a aumentarem a pressão sobre Kiev

Encontro entre equipas ucraniana e norte-americana tenta relançar negociações de paz, mas a administração Trump continua a dificultar a ação militar da Ucrânia, tentando quebrar a sua resistência.
10 Março 2025, 07h00

No fim-de-semana anterior a um anunciado regresso dos contactos entre os governos dos Estados Unidos e da Ucrânia – na Arábia Saudita, onde esta segunda-feira estará Zelensky – a administração Trump continua a lançar medidas que claramente enfraquecem a posição de Kiev. Desta vez, e depois de reduzir o financiamento e suspender o envio de informação classificada para a Ucrânia, a empresa aeroespacial norte-americana Maxar Technologies anunciou que retirou o acesso ucraniano a imagens de satélite numa plataforma do governo dos EUA.

Em comunicado, a Maxar disse que tem contratos com o governo dos Estados Unidos e dezenas de nações aliadas e parceiras, e “cada cliente toma as suas próprias decisões sobre como usar e partilhar esses dados”. A empresa adiantou que o contrato em questão é o GEGD (programa Global Enhanced GEOINT Delivery), um programa do governo dos EUA que fornece acesso a imagens de satélite.

“O governo dos EUA decidiu suspender temporariamente as contas ucranianas no GEGD”, disse a Maxar, encaminhando outras questões à Agência Nacional de Inteligência Geoespacial dos Estados Unidos, que confirmou a ação, segundo adianta a agência Reuters. “De acordo com a diretriz do governo sobre apoio à Ucrânia, a NGA suspendeu temporariamente o acesso ao sistema GEGD”, disse um porta-voz da agência estatal.

John Ratcliffe, diretor da Agência Central de Inteligência, disse na quarta-feira que Washington suspendeu a partilham de inteligência com a Ucrânia, aumentando a pressão sobre o governo de Volodymyr Zelensky para cooperar com o governo Trump na convocação de negociações de paz com a Rússia.

A ‘cegueira’ informática de que a Ucrânia está a ser alvo levou o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, a acusar o ministro das Relações Exteriores da Polónia, Radoslaw Sikorski, de “inventar coisas” e sugeriu no domingo que o ministro é um ingrato – uma retórica que parece estar a ganhar tração na administração Trump – depois de Sikorski dizer que a Ucrânia pode precisar de uma alternativa ao serviço de satélite Starlink. Recorde-se que a Polónia paga para Kiev usar os serviços da Starlink (de Elon Musk), que fornece ligação de internet crucial para o exército ucraniano. Musk, uma figura de destaque na administração dos EUA, disse nas redes sociais, também este fim-de-semana, que “toda a linha de frente da Ucrânia entraria em colapso se eu a desligasse o Starlink”. E anunciou-se “enojado por… anos de matança num impasse que a Ucrânia inevitavelmente perderá”.

Ora, o ministro polaco escreveu nas redes sociais – depois de recordar que o seu país paga anualmente 50 milhões de dólares para manter o serviço – que o fornecedor do sistema pode não ser fiável e que talvez seja conveniente encontrar outra fonte de fornecimento. Rubio respondeu que “ninguém fez nenhuma ameaça sobre cortar a ligação da Ucrânia com a Starlink”. “E agradeça porque sem a Starlink a Ucrânia teria perdido esta guerra há muito tempo e os russos estariam na fronteira com a Polónia agora mesmo”, acrescentou. Respondendo9 diretamente ao ministro polaco, Musk escreveu: “fique quieto, homenzinho. Você paga uma pequena fração dos custos. E não há substituto para o Starlink”.

Refira-se que as ações na operadora de satélite franco-britânica Eutelsat subiram 650% durante a semana passada devido à especulação de que a empresa poderia substituir a Starlink no fornecimento de acesso à internet para a Ucrânia. As ações recuaram na sexta-feira, mas encerraram a semana em alta de cerca de 380%.

No terreno, as forças russas tentam ganhar posições que lhe permitam uma posição ainda mais confortável num eventual quadro de negociações com a Ucrânia. Moscovo recapturou este domingo posições na região de Kursk, informou o Ministério da Defesa, como parte de uma operação para expulsar as tropas ucranianas. Malaya Lokhnya, Cherkasskoye Porechnoye e Kositsa regressaram à posse da Rússia. Tropas ucranianas tomaram cerca de 1.300 km² na região russa de Kursk em agosto.

Zelensky já confirmou que delegações da Ucrânia e Estados Unidos manterão conversações na Arábia Saudita sobre o fim do conflito. Zelensky disse que viajará para a Arábia Saudita esta segunda-feira e que a sua equipa permanece no país para manter conversações com funcionários norte-americanos. “Tenho programado visitar a Arábia Saudita para me encontrar com o príncipe herdeiro. Depois disso, a minha equipa permanecerá na Arábia Saudita para trabalhar com os parceiros americanos“, disse Zelensky.

O enviado norte-americano Steve Witkoff confirmou que vai encontrar-se com uma delegação ucraniana na Arábia Saudita, para discutir um cessar-fogo com a Rússia, saudando o pedido de “desculpas” de Kiev aos Estados Unidos na sequência da altercação entre Zelensky e Trump na Sala Oval. Witkoff disse que “a ideia é definir um quadro para um acordo de paz e um primeiro cessar-fogo”.

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