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Banqueiros dizem que fusões têm de ter racionalidade económica

Os presidentes executivos do BCP, Banco Santander Totta, BPI, Crédito Agrícola e Banco Montepio participaram no Fórum Banca 2025, organizado pelo JE, quando defenderam a importância da dimensão “desde que crie valor para os stakeholders (mercado e clientes)” e que tenha “racionalidade económica”.
12 Março 2025, 11h06

Os presidentes executivos do BCP, Banco Santander Totta, BPI, Crédito Agrícola e Banco Montepio participaram no Fórum Banca 2025, organizado pelo Jornal Económico, quando defenderam a importância da dimensão “desde que crie valor para os stakeholders (mercado e clientes)” e que tenha “racionalidade económica”. Esta foi a posição do CEO do BCP, Miguel Maya, e do CEO do Santander Totta, Pedro Castro e Almeida.

O CEO do BCP falou da União Bancária dizendo que não é só o fundo de garantia de depósitos europeu, “é preciso um enquadramento que permita um level playing field adequado dentro da União Europeia. Neste momento em Portugal poderia haver uma oportunidade [de fusões] mas houve um acionista que vai fazer um IPO [Oferta Pública Inicial].Tudo isto para rematar dizendo que “não me parece que haja concentração da banca num prazo de 12 meses”, disse Miguel Maya. O Novobanco, que não está presente no debate, foi o elefante na sala, e está implícito na pergunta sobre a importância da dimensão.

Miguel Maya frisou que os bancos têm mais capital, não só pela subida dos juros, mas porque “foi feita uma gestão rigorosa ao longo dos anos que permitiu fazer uma transformação profunda do setor financeiro”.

As fusões “não são uma corrida de caricas”, disse Miguel Maya, acrescentando que as fusões “têm de criar valor para os stakeholders do banco”.

Num contexto de receitas a caírem, custos a subirem, concorrência a aumentar. Serão as fusões, por causa das sinergias, o caminho mais curto para os bancos continuarem a ser rentáveis no futuro? É o tema que iniciou o debate dos banqueiros.

Pedro Castro e Almeida, CEO do Santander Totta, disse que “tem de haver racionalidade económica” para que as fusões sejam transformadoras. O banqueiro salientou no entanto que o terceiro pilar da União Bancária que ainda está em falta torna mais difícil as fusões cross-border, devido às diferença de regras entre países da UE. Para além disso, Pedro Castro e Almeida defendeu que não acredita que nos próximos 10 a 20 anos um player estrangeiro olhe para o mercado bancário português, citando o tema da recente instabilidade política em Portugal.

O CEO do Santander Totta lembrou que na Europa o que se vê é que os bancos com valor de mercado acima do valor contabilístico estão a olhar para bancos onde o valor de mercado ainda não supera o valor contabilístico, referindo-se ao rácio cotação/valor contabilístico. Porque só assim traz acréscimo de rentabilidade, defende. Pelo que o preço de aquisição é determinante, e no fim do dia “it takes two for tango”, sublinhou, referindo-se, sem o dizer, ao Novobanco.

O CEO do BPI defende a dimensão, pois o tema da eficiência com maior dimensão é uma mais valia. “Eu sou pela dimensão”, disse João Pedro Oliveira e Costa. A dimensão é muito importante pela diluição dos custos e pelos investimentos que vão ser necessários em tecnologia, numa altura em que estão a entrar novos entrantes que podem tornar-se numa “ameaça real”. O CEO do BPI também falou do tema da captação de talento e reinvenção do modelo de negócio da banca e em que a dimensão pode ajudar. Mas concordou com os seus concorrentes dizendo que “as fusões são uma questão de valor”, realçando no entanto que “não temos nenhuma aquisição em cima da mesa” e temos uma Oferta Pública Inicial no horizonte.

Pedro Castro e Almeida, por sua vez, lembrou que o Santander é o maior banco da União Europeu, tem uma capitalização bolsista de cerca de 100 mil milhões de euros, mas o JP Morgan tem uma capitalização bolsista de 600 mil milhões de dólares.

O presidente do Grupo Crédito Agrícola ironizou que se a CGD ou o BCP comprarem o Novobanco, o banco que lidera passa de quinto para quarto do sistema bancário nacional.

Licínio Pina revelou que estão a fazer fusões nas Caixas Agrícolas que de um universo de 67 baixam para menos de 60. O que é complexo, porque têm de passar nas assembleias gerais de cada Caixa, o que nem sempre é fácil porque “os vizinhos não se dão bem”. A fusão das Caixas Agrícolas ganhar importância por causa da impossibilidade de algumas conseguirem cumprir a regulamentação instituída pelos reguladores.

A função de controle que foi preciso instituir no grupo CA explica que o rácio de eficiência tenha piorado, disse o CEO da Caixa Agrícola.

O CEO do Banco Montepio, Pedro Leitão, por sua vez, voltou a defender a importância de o Novobanco vir a ser cotado para o mercado de capitais nacional. Porque até agora só existe no PSI um único banco, o BCP.

Pedro Leitão não partilha da opinião de que a concentração bancária seja uma necessidade premente em Portugal, até porque, diz, a concentração em Portugal supera a média europeia. “Não me parece que as oportunidades de geração de valor sejam óbvias neste momento, disse. O CEO lembrou ainda que o nível de concentração em Portugal na banca, para os Top5 está entre 70% e 80%, quando em países como Itália, França, Alemanha e Áustria, estão todos abaixo dos 50%.

O CEO do Banco Montepio considera que os bancos mais pequenos podem continuar a crescer organicamente. “Porque o importante é a rentabilidade”, disse. “Há questões de escala que facilitam o investimento, mas há questões de posicionamento que os bancos de menor dimensão podem acorrer de forma específica”, acrescentou.

Miguel Maya considerou que Portugal é hoje uma referência na eficiência dos seus bancos, porque a dimensão não é obrigatoriamente sinónimo de eficiência (proveitos/custos). “Os bancos mais ágeis, são mais eficientes”, disse o CEO do BCP que salientou a importância da resiliência e associou a capacidade de um banco crescer ao capital robusto e liquidez.

O CEO do BCP lembrou que o motor do crescimento da economia americana se deve à tecnologia e à capacidade de inovação.

Sobre a (baixa) remuneração dos depósitos, Miguel Maya defendeu que o que tem “é de haver concorrência”. O sistema financeiro tem um enorme excesso de liquidez, o que explica que haja pouca pressão para captar depósitos para dar crédito.

“Os depósitos estão pagos de acordo com aquilo que é a oferta e procura”, frisou o presidente do Millennium BCP que lembra que o banco captou níveis recordes de recursos de clientes.

Pedro Castro e Almeida disse que Portugal está ligeiramente abaixo da média europeia nos depósitos, mas do lado do ativo (crédito) o melhor é Portugal. “O melhor sitio da Europa para pedir um crédito à habitação é Portugal”, disse o CEO da Santander Totta, que é também responsável pelo Santander na Europa”, disse.

O CEO lembrou ainda que a diferença entre os juros pagos e o juros recebidos (margem financeira) no fim de 2021 era de 4 mil milhões de euros, e atingiu o máximo, em agosto de 2023, de 12 mil milhões de euros e baixou para 7 mil milhões, no fim de 2024. O pico de juros recebidos pelos bancos portugueses foi junho de 2023, mas o ponto máximo de juros pagos foi no fim de 2024. Esse gap vai traduzir-se em quedas na margem financeira de 20% a 25% desde o ponto máximo.

Já o CEO do BPI defendeu que o tema dos depósitos é “um tema concorrencial”.

 

 

 

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