A maior complexidade e diversificação no tipo de produtos financeiros disponibilizados aos aforradores cria oportunidades de investimento mais adequadas aos vários tipos de investidores, mas também desafios regulatórios importantes. A tendência da regulamentação é “ir atrás” da inovação dada pelo sector, ilustra Margarida Torres Gama, sócia da Morais Leitão, mas as oportunidades são “inacreditáveis”.
No painel dedicado a ‘Poupança, seguros, certificados’ do Fórum Banca promovido pelo Jornal Económico esta quarta-feira, Margarida Torres Gama, sócia da Morais Leitão, lembrou a complexidade acrescida das várias soluções de poupança disponíveis no mercado, que oferecem agora “uma grande diversidade” em função de uma população cada vez mais “distinta e diversa”.
Em particular, a questão dos canais “é muito interessante” e mereceu destaque, sobretudo o canal digital, que “traz muitas coisas diferentes e permite que muitos players diferentes estejam associados aos produtos financeiros”.
“O acesso hoje é muito fácil, muito pessoal, muito rápido e por diversas vias”, resumiu, argumentando que tal permitiu a inúmeros aforradores aplicarem as suas poupanças em produtos financeiros que, de outra forma, não teriam tido conhecimento.
Por outro lado, esta complexidade acrescida traz desafios, como o acréscimo de legislação. A tendência dos legisladores “é ir atrás” da inovação e “legislar mais, regular mais”, mas também “há oportunidades inacreditáveis” criadas pelo atual ambiente de inovação e rápidas alterações de paradigma.
Como tal, “podemos esperar algumas preocupações […] em termos de desafios para o sector na parte legislativa” este ano, sobretudo ao nível da compliance e tendo em conta o aumento do uso e importância de tecnologias como a inteligência artificial. Por outro lado, a sustentabilidade – que, no caso da banca, “não é bem um ‘chavão’, porque […] obriga a um conjunto de alterações muito relevantes” – e a proteção do consumidor, uma dimensão cada vez mais relacionada “com a literacia e com a transparência” marcarão o próximo ano, projeta.
Poupanças e transformação digital
O painel “Poupança, seguros, certificados. O setor financeiro passa por aqui” juntou ainda Miguel Barroso Abecasis, administrador da Fidelidade e João Sousa, administrador dos CTT. Para Miguel Barroso Abecasis, os seguros financeiros têm um papel importante no setor, ainda assim insuficientes face a países como a França e a Itália. “Os seguros financeiros representam cerca de 10% dos ativos dos portugueses. Portugal é um dos países da União Europeia com uma taxa de poupança muito reduzida e com uma problema de pirâmide etária gravíssimo”, explica o administrador. Para este responsável, os seguros têm um papel fundamental como produto de poupança ou planeamento de reforma, mas não têm incentivo nem enquadramento do ponto de vista governativo.
“O estado, o Governo e as instituições podem ajudar a que as pessoas se aproximem deste tipo de produtos”, adianta Miguel Barroso Abecasis, referindo-se ao facto de só 5% dos riscos físicos estarem cobertos em Portugal (Espanha regista 17% e Alemanha 34%). “Uma pessoa que sofre um evento de risco vai ficar mais comprometida para fazer face aos seus compromissos financeiros. Metade das casas em Portugal não têm seguro e só 20% têm em conta fenómenos sísmicos”, acrescenta o administrador da Fidelidade.
Em relação à transformação digital, Miguel Barroso Abecasis sublinha o avanço tecnológico em relação à automatização dos processos, serviço ao cliente ou assistência em viagem. “Através das nossas aplicações conseguimos enriquecer a nossa interação os clientes”, diz Miguel Barroso Abecasis, que sublinha ainda o papel da seguradora no tema da longevidade, demografia e ambiental. “Temos a obrigação de acrescentar vida aos anos. Isso é algo que precisa de uma resposta holística, é um desafio civilizacional. E também temos de apoiar a sociedade na mitigação das alterações climáticas”.
João Sousa, administrador dos CTT, refere que a empresa é um canal que coloca divida pública, que são um produto de excelência para os portugueses. “Temos condições únicas, como 569 lojas espalhadas pelo País, proximidade à população e levámos os certificados de aforro para a nossa app, aproximando-nos dos mais jovens”, afirma o administrador. “Temos batido recordes todas as semanas”, acrescenta.
Os CTT são hoje uma empresa que tem vindo a transformar-se ao longo dos tempos. Com mais de 500 anos de história, o processo de transformação está hoje muito ligado ao crescimento no ecommerce e encomendas – e a diminuição do negócio do correio. “Estamos a fazer parcerias com grandes utilities que usam a nossa rede. O país não é grande, mas tem bastante diversificação e estamos presentes”, refere o administrador dos CTT.
João Sousa referiu ainda o crescimento da atividade empresarial em Espanha através de aquisições e parcerias. “Com este processo de transformação queremos ser parceiros cruciais para o negócio”.
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