O presidente do Conselho Europeu, António Costa assumiu hoje que prioridade geoestratégica dos Estados Unidos mudou da Europa para o Pacífico, considerando “do interesse comum” que os europeus “assumam mais responsabilidade pela sua própria defesa”.
Em entrevista à agência AFP antes da cimeira europeia de quinta-feira em Bruxelas, focada na Defesa, o ex-primeiro-ministro português excluiu que os países europeus estejam “necessariamente em competição” com a administração norte-americana de Donald Trump.
“Para os Estados Unidos, a sua prioridade geoestratégica já não é a Europa, mas o Pacífico. Estão a pedir aos europeus que assumam mais responsabilidade pela sua própria defesa”, afirmou Costa.
“Isto significa que os americanos estão plenamente conscientes de que temos de ter a nossa própria capacidade de defesa. É do nosso interesse comum”, adiantou.
À frente do Conselho, Costa tem a tarefa de conciliar as posições dos 27 Estados-Membros da União Europeia (UE) sobre o rearmamento e as relações com os Estados Unidos, que têm sido abaladas por posições de Trump em relação à guerra da Ucrânia, no sentido de uma aproximação à Rússia, mas também por ameaças de uma guerra comercial ou de Washington rejeitar defender aliados que não cumprem as metas de investimento em Defesa.
Sobre a fiabilidade dos Estados Unidos, sob liderança de Trump, enquanto aliado, Costa apontou que as relações transatlânticas são “muito antigas” e que “não é a situação de liderança deste ou do outro lado do Atlântico que vai mudar isso de forma duradoura”.
“A viragem geopolítica nos Estados Unidos não começou com Trump e talvez não termine com Trump. A Europa tem de fazer o que tem de fazer, independentemente da posição dos Estados Unidos e de Donald Trump”, afirmou.
Questionado sobre a razoabilidade de, no âmbito do esforço de rearmamento em curso, os países europeus comprarem aviões de combate F-35 aos Estados Unidos, Costa sublinhou que é da competência dos países, não do Conselho decidir que armamento adquirir.
“Se comprarmos mas não tivermos controlo sobre a utilização [das armas], isso é um problema”, respondeu a propósito de notícias sobre a capacidade de os EUA inutilizarem remotamente armamento de alta tecnologia como os F-35, que diversos países europeus têm vindo a adquirir.
Questionado sobre se os europeus devem agora comprar equipamento europeu, Costa sublinhou que a disponibilidade e o horizonte temporal são condicionadores das decisões dos países, o que também reforça a importância do aumento da capacidade de produção própria.
“A preferência europeia é a preferência natural, mas quando falamos com os Estados-Membros, o que todos nos dizem é que, para certas capacidades, a grande dificuldade é encontrar onde comprar porque não há produção suficiente. (…) O equipamento de que necessitamos atualmente deve ser adquirido onde estiver disponível, na Europa, na Coreia do Sul, no Japão, nos Estados Unidos ou na Turquia”, afirmou Costa.
“Quando olhamos para o longo prazo, é claro que o importante não é apenas comprar, mas também produzir. E, para isso, precisamos de reforçar a nossa base industrial e tecnológica. Estamos a fazer isso”, adiantou.
O presidente do Conselho Europeu sublinhou ainda que “seria um grande erro” uma guerra comercial entre Bruxelas e Washington, caso prossiga a escalada de aumentos de tarifas aduaneiras aplicadas ou ameaçadas nas últimas semanas.
“Se queremos investir mais, não podemos criar problemas económicos. É uma situação em que todos perdem”, afirmou Costa.
Sobre a guerra na Ucrânia, que estará novamente no centro das discussões dos líderes europeus na cimeira de Bruxelas, Costa sublinhou que a Europa está “pronta a participar” na solução.
“Sob a liderança da França e do Reino Unido, estamos a preparar-nos para participar em todas as eventuais medidas de segurança para garantir a paz, se e quando ela chegar”, afirmou.
Costa considerou “positivo” que Washington e Moscovo estejam em discussões, mas reiterou a posição de Bruxelas de “não pode haver negociações sobre a Ucrânia sem a Ucrânia, enquanto Estado soberano”, e só esta “pode decidir quando, como e até onde ir nestas negociações”.
“Mas penso que toda a gente já compreendeu, em primeiro lugar os Estados Unidos, que a questão não é apenas a Ucrânia, mas a segurança da Europa”, adiantou.
“A ameaça que enfrentamos diz respeito a todos nós(…) É também por isso que estamos todos unidos no nosso apoio à Ucrânia. Porque defender a Ucrânia é o primeiro nível da nossa própria defesa”, sublinhou.
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