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Vem aí a biografia de Herberto Helder: “Se Eu Quisesse, Enlouquecia”

A Contraponto publica a 22 de maio “Se Eu Quisesse, Enlouquecia”, a biografia de Herberto Helder, fruto de sete anos de trabalho do sociólogo e investigador João Pedro George.
24 Março 2025, 19h13

Dez anos após a morte do poeta, João Pedro George oferece aos leitores a história nunca contada de Herberto Helder, nome maior da literatura em língua portuguesa.

“Se Eu Quisesse, Enlouquecia” é o título da biografia de Herberto Helder, de autoria de João Pedro George, que a Contraponto publica a 22 de maio. Fruto de sete anos de trabalho do sociólogo e investigador, este livro muito aguardado reforça a coleção de Biografias de Grandes Figuras da Cultura Portuguesa Contemporânea, que inclui títulos dedicados a Agustina Bessa-Luís, Manoel de Oliveira, José Cardoso Pires, Manuel António Pina, Natália Correia e Maria Teresa Horta.

Desde cedo que Herberto Helder criou um lugar próprio nas literaturas de língua portuguesa – poucos, como ele, exerceram tanta influência na poesia portuguesa da segunda metade do século XX –, mas desde sempre que cultivou uma persona, por trás da qual o homem, o cidadão, se resguardava. Nesta biografia, o autor procura fazer luz sobre muitos aspetos desconhecidos do grande público.

Um nome maior da Literatura

Biografar aquele que foi o Prémio Pessoa em 1994, autor com um percurso único nas Letras, poeta e ficcionista de palavra poderosa, cuja obra se inscreveu para sempre, e com fulgor, na literatura em língua portuguesa, não terá tido tarefa fácil.

Herberto Helder nasceu em 1930 no Funchal, onde concluiu o 5.º ano. Em 1948 matriculou-se em Direito mas cedo abandonou esse curso para se inscrever em Filologia Românica, que frequentou durante três anos na Faculdade de Letras de Coimbra. Exerceu atividades profissionais ligadas ao jornalismo e à edição, e colaborou em diversas publicações como A Briosa, Re-nhau-nhau, Búzio, Folhas de Poesia, Graal, Cadernos do Meio-dia, Pirâmide, Távola Redonda, Jornal de Letras e Artes.

Em 1969 trabalhou como diretor literário da editorial Estampa. Viajou pela Bélgica, Holanda, Dinamarca e em 1971 partiu para África onde fez uma série de reportagens para a revista Notícias.

Mas regressemos à sua poesia, para a qual confluem duas tendências poéticas, segundo Fernando Guimarães (cf. A Poesia Contemporânea Portuguesa e o Fim da Modernidade, 1989). “Uma de libertação da palavra, que liga a sua obra à experiência surrealista pelo encontro da imaginação com a linguagem e pela aproximação ao poder mágico da palavra; e uma poética de encontro com a palavra, que encerra o poeta no domínio da linguagem, pela experimentação lúdica, pela criação de grandes espaços metafóricos construídos a partir da recorrência de temas e termos condutores”.

Já António Ramos Rosa (Incisões Oblíquas, 1987) vê diferenças entre a sua poesia ‘primeva’ e aquela que o ocupou num segundo momento (ex. Poemacto e Máquina Lírica), em que o jogo verbal e os exercícios sobre a materialidade da linguagem se tornam dominantes; e também num terceiro momento, a partir de Retrato em Movimento, altura em que regressa a “um discurso em que a matéria do universo está presente com uma violência extrema”.

A abolição da censura racional também preside à sua obra ficcional, e é com Passos em Volta que Herberto Helder desfere uma rutura na narrativa dos anos 60, pela sua densidade imagística e irregularidade narrativa. Viajamos no tempo até ao seu derradeiro livro, um ‘lugar’ com mais de oitenta anos de idade, escrito num registo quase confessional. Entre o amor e a morte estão palavras subtis, cruas, fortes, luminosas, simbólicas, a ligar esta íntima autobiografia do poeta obscuro, avesso a qualquer exposição mediática. “Sabe Deus quanto a beleza me custa e quanto o ganho é imponderável”, confessa nas páginas da obra publicada aos 82 anos. Único até ao fim.

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