[weglot_switcher]

Gronelândia queixa-se de pressão inaceitável da parte dos Estados Unidos

Primeira-ministra dinamarquesa diz que visita da mulher do vice-presidente dos Estados Unidos e de outros membros do governo Trump “não é o que a Gronelândia precisa ou quer”. Mas o certo é que há pelo menos um partido regional que pode vir a defender a anexação.
26 Março 2025, 07h00

Mette Frederiksen, a primeira-ministra dinamarquesa, acusou os Estados Unidos de exercerem “pressão inaceitável” sobre a Groenlândia – à qual prometeu resistir – antes de uma visita não solicitada à ilha do Ártico por membros da administração Trump, acompanhados pela mulher do vice-presidente JD Vance. A Casa Branca surpreendeu Nuuk (capital da Groenlândia) e Copenhague ao anunciar que uma delegação dos Estados Unidos liderada por Usha Vance chegaria à Groenlândia no final desta semana, entre quinta-feira e sábado. O conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, Mike Waltz – agora envolvido num ‘descuido’ muito embaraçoso que tornou público material classificado – e o secretário de energia, Chris Wright, fazem também parte, ou faziam, da ‘task force’ que vai aterrar na ilha. É, recorde-se, a segunda visita considerada provocatória de pessoas ligadas à administração Trump: em janeiro passado, poucos dias antes de o pai tomar posse, mas já depois de manifestar interesse em anexar a Groenlândia, Donald Trump Jr. andou a passear-se por lá.

“Tenho que dizer que é uma pressão inaceitável colocada sobre a Groenlândia e a Dinamarca. E é uma pressão à qual resistiremos”, disse Frederiksen ao canal dinamarquês TV 2. A líder dinamarquesa rejeitou a ideia de que a viagem fosse uma visita privada: “não se pode fazer uma visita privada com representantes oficiais de outro país”. Neste contexto, as ameaças de Trump de adquirir, tomar ou convencer os habitantes da Groenlândia a aceitarem ser norte-americanos devem ser levadas a sério, referiu ainda. “O presidente Trump é sério… Ele quer a Groenlândia. Portanto, a visita não pode ser vista independentemente de tudo.” “Claramente não é uma visita que seja sobre o que a Groenlândia precisa ou o que a Groenlândia quer de uma visita. Portanto, não importa como distorçamos o assunto: é uma pressão completamente inaceitável sobre a Groenlândia, os políticos gronelandeses e a população gronelandesa, mas também é sobre a Dinamarca e, portanto, sobre o reino” no seu conjunto”, referiu ainda.

A Dinamarca, antigo reino colonial da Groenlândia, mantém o controlo da segurança e da política externa do território autónomo que faz parte da Dinamarca. Trump declarou repetidamente o seu desejo de que os Estados Unidos consigam o controlo sobre a ilha, o que disse ser essencial para a segurança norte-americana. O primeiro-ministro da Groenlândia ainda em funções, Múte Bourup Egede, acusou Washington de “interferência estrangeira” em relação à visita planeada. Recorde-se que, neste momento, e depois das eleições para o parlamento local, os partidos estão numa fase de debate sobre a coligação que, com certeza, tomará conta do próximo governo.

O presidente dos Estados Unidos respondeu dizendo que a delegação havia sido convidada por “oficiais” do lado gronelandês. “Pessoas da Groenlândia estão a pedir-nos para ir lá”, disse Trump na segunda-feira – sendo certo que todos os principais partidos da ilha são declaradamente a favor da independência face à Dinamarca – pressupondo que são pela independência face a qualquer outro país do planeta. Refira-se que o governo em funções contestou as afirmações de Trump: “para registo, o governo da Groenlândia não emitiu nenhum convite para visitas, oficiais ou privadas”. “O governo atual está a agir como um governo interino, aguardando a formação de uma nova coligação, e pedimos gentilmente que todos os países respeitem esse processo.”

Kuno Fencker, membro do parlamento pelo partido Naleraq, que ficou em segundo lugar atrás dos democratas nas eleições de há cerca de duas semanas, disse que o partido foi “expulso” das negociações para a coligação em parte por causa da visita. “Isto tem efeito porque muitos dos membros do parlamento pensam que nós, especialmente eu, estamos a vender o país aos Estados Unidos”, disse, acrescentando que não está na sua posse fazer isso. A declaração avoluma as dúvidas sobre a vontade daquele partido apoiar as intenções de Trump. “Dividir para reinar está a ser usado de forma extrema em relação à Groenlândia e propagar o medo sobre os Estados Unidos. E especialmente Donald Trump é apontado como o grande vilão.”

O caso, que começou por parecer uma mera piada de mau gosto, tem vindo a ganhar contornos de maior importância. Principalmente depois de Trump ter aproveitado uma visita do secretário-geral da NATO, o neerlandês Mark Rutte, à Casa Branca, para o apresentar como a pessoa certa para ajudar os Estados Unidos a conseguir tomar posse da Groenlândia. Não são conhecidas declarações de Rutte sobre o assunto e – para além da cara de espanto com que recebeu o ‘cumprimento’ – é altamente improvável que o secretário-geral venha a aceitar a proposta de bom grado. Mesmo sabendo-se que o lugar que ocupa é de absoluta subordinação aos interesses de Washington.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.