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Queda das bolsas põe em risco o IPO do Novobanco, mas Lone Star continua a tentar

“Uma escalada da guerra comercial na Europa provavelmente aumentaria o risco”, defende Jason Graffam da DBRS que acrescenta que “isto sugere que as condições de mercado não parecem ótimas para um IPO do Novobanco”. O Novobanco oficialmente diz que “continua a realizar o trabalho necessário para a preparação de um potencial IPO”.
8 Abril 2025, 07h00

A Fitch e a DBRS não estão otimistas quanto à realização da almejada entrada em bolsa do Novobanco. Para além das agências de rating, outros analistas do mercado, que pediram para não ser citados, consideram mesmo que a Oferta Pública Inicial (IPO) do Novobanco “fica quase impossível com as valorizações a estarem 30% a 40% abaixo do pico do ano. Até porque os investidores que estavam a olhar para a operação eram essencialmente da Europa e dos Estados Unidos”.

Mas nem todas as opiniões são tão pessimistas; há quem acredite que esta reação dos mercados às tarifas aduaneiras dos Estados Unidos é passageira e que são os fundamentos do Novobanco que vão ditar o sucesso ou não do IPO.

O que é certo é que o Novobanco continua a trabalhar na operação de entrada em bolsa até ao momento, mas o contexto está, no mínimo, desafiante.

Contactada pelo Jornal Económico, a Fitch diz que “acreditamos que o banco continuará a preparar-se para um IPO (Initial Public Offer). No entanto, a execução também depende das condições de mercado prevalecentes e do apetite dos potenciais investidores, o que torna as previsões sobre o momento difíceis nesta fase”, considera o Diretor de Instituições Financeiras da Fitch Ratings, Julien Grandjean.

Já a DBRS aposta mais no adiamento da operação. Jason Graffam, vice-presidente sénior de notações de instituições financeiras e soberanas globais da Morningstar DBRS, lembra que “os bancos cotados que operam em Portugal viram as suas ações cair cerca de 15% desde 2 de abril. Isto está amplamente alinhado com a liquidação geral do mercado de ações dos bancos europeus para refletir a preocupação do mercado com a incerteza económica decorrente da nova política comercial dos EUA”.

“Não vemos esta incerteza desaparecer tão cedo, porque ainda estamos à espera de como a UE irá retaliar. Uma escalada da guerra comercial na Europa provavelmente aumentaria o risco”, defende Jason Graffam, que diz que “isto sugere que as condições de mercado não parecem ótimas para um IPO do Novobanco”.

No entanto, “não podemos descartar que as condições possam mudar rapidamente mais uma vez”, disse ainda o analista da DBRS.

“Por esta razão, faz sentido que o Novobanco realize o trabalho necessário em preparação para um potencial IPO, mesmo que decida adiar a venda de ações”, conclui o responsável da DBRS.

O contexto de regressão dos mercados bolsistas internacionais põe, pelo menos, em risco o calendário indicativo para a operação. Numa mensagem enviada aos colaboradores do banco a 13 de fevereiro, o CEO Mark Bourke disse que a entrada em bolsa do Novobanco poderia ocorrer “no final do segundo trimestre ou no final do terceiro”.

O Jornal Económico sabe também que o Fundo de Resolução continua no processo de contratar assessores financeiros para avaliar o Novobanco.

O Novobanco oficialmente diz que “continua a realizar o trabalho necessário para a preparação de um potencial IPO, com a definição do exato momento a depender das condições de mercado, conforme anteriormente referido”.

“Independentemente disso, o nosso foco mantém-se em estar totalmente preparado e em cumprir o plano estratégico trimestre a trimestre”, diz o banco liderado por Mark Bourke.

“Como sempre, estamos a monitorizar de perto os desenvolvimentos do mercado para avaliar o momento mais apropriado para qualquer opção estratégica”, admite o banco, o que poderá querer dizer que estão já a olhar para um plano B, que tanto pode passar pelo adiamento da venda em bolsa ou pela venda de uma participação minoritária a um parceiro estratégico.

O Jornal de Negócios avança que os procedimentos formais da Oferta Pública Inicial só avançam depois da apresentação de resultados a 30 de abril.

O Novobanco selecionou o Bank of America Corp, o Deutsche Bank AG e o JPMorgan Chase & Co. para organizar a oferta pública inicial (IPO). A Lone Star tem 75% do Novobanco e é quem quer avançar com a dispersão em bolsa. Nem o Fundo de Resolução nem a Direção-Geral do Tesouro e Finanças (que tem 11,46% do banco) são obrigados a acompanhar o IPO, no âmbito do acordo assinado em dezembro de antecipação do fim do Mecanismo de Capitalização Contingente (CCA).

Com a situação de bear market em alguns índices bolsistas, os IPO nos EUA e na Europa deverão ser adiados, segundo fontes do mercado.

Um bear market ocorre quando há uma queda de 20% ou mais nos preços em relação aos máximos recentes.

“Os bear markets são uma parte natural do ciclo do mercado, que não duram para sempre, e serão um novo ponto de partida para o aumento das cotações no subsequente ciclo de crescimento”, defendeu esta segunda-feira a associação de pequenos acionistas Maxyield.

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