O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, ordenou que as forças armadas do Brasil comemorem o 55.º aniversário do golpe militar de 1964, que levou o maior país da América do Sul a 21 anos de ditadura sob um regime militar, mas a medida está a ser contestada com veemência pelas vítimas desse antigo regime brasileiro.
“O Brasil celebrando o aniversário do golpe de 1964 é como a Alemanha instituindo o Dia de Hitler”, escreveu a jornalista Hildegard Angel, uma conhecida critica da presidencia de Bolsonaro, na sua conta de Twitter. O irmão desta jornalista foi torturado e morto pelas autoridades brasileira no tempo da ditadura militar, assim como sua mãe morreu na sequência de um acidente automóvel que terá sido provocado por militares.
Brasil festejar o aniversário do golpe de 64 é como se a Alemanha instituísse o Dia de Hitler, com estátuas em todo o país.
— Hildegard Angel Oficial???? (@hilde_angel) March 26, 2019
Além de Hildegard, outras conhecidas figuras da sociedade brasileira como o escritor Paulo Coelho ou o comentador desportivo Gerd Wenzel também partilharam a sua visão nas redes sociais. Na esfera virtual o assunto é categorizado como “#DitaduraNuncaMais“
https://twitter.com/paulocoelho/status/1110562056686702598
Fui preso três vezes.
— Gerd Wenzel (@gerdwenzel) March 26, 2019
Motivo da prisão de acordo com a Polícia Federal:
"Falso pastor subversivo e agente da STASI aliciando jovens no Vale do Rio Doce"
(Estado de Minas, 19.03.1969)#DitaduraNuncaMais
Na segunda-feira, o porta-voz de Bolsonaro, Otávio Rêgo Barros, contou que o presidente do Brasil teria passado ordens para que o Ministério da Defesa organize “comemorações devidas” no dia 31 de março, para assinalar a existência de um regime ditatorial no Brasil. E terá deixado para os comandantes militares a última palavra na decisão de como tais eventos deveriam ser realizados.
“O presidente não considera o 31 de Março de 1964 golpe militar. Ele considera que a sociedade se reuniu, civis e militares, quando perceberam o perigo que o país estava a vivenciar naquele momento. Nós conseguimos recuperar e recolocar o nosso país num rumo que, se não tivesse ocorrido, hoje teríamos algum tipo de governo que não seria bom para ninguém”, afirmou o porta-voz da presidência brasileira numa conferência de imprensa em Brasília.
Quanto a uma data, Barros salientou que ainda não foi marcado nenhuma ação comemorativa no Palácio do Planalto, resiência oficial do presidente do Brasil
As instruções presidenciais para que os militares comemorem os 55 anos do golpe militar provocou uma onda de contestação. Mas nada que se estranhe na posição de Bolsonaro. O atual presidente do Brasil é um ex-capitão do exército brasileiro que acredita que a mudança de regime em 1964 não ocorreu por via de um golpe de Estado. Também já negou publicamente que o regime militar imposto no Brasil, entre 1964 e 1985, tenha sido uma ditadura. Para Bolsonaro, tratou-se de “um regime com autoridade”.
As comemorações oficiais do golpe militar até ao governo de Dilma Rousseff existiam de facto no Exército, mas a antiga presidente do Brasil, que chegou a estar presa e a ser torturada durante a ditadura militar retirou a data de 31 de março do calendário. Sob a sua chefia, o governo de Rousseff criou uma comissão que publicou um relatório exaustivo sobre os abusos da ditadura militar, em 2014.
Foram 21 anos de ditatura militar que o Brasil viveu. A 31 de março de 1964 um golpe militar depôs o então presidente João Goulart, acusando-o de levar a cabo uma política pró-comunista. No lugar de Goulart foram colocadas altas patentes militares durante mais de duas décadas. Durante esse período, não houve uma única eleição direta para a presidência, o congresso foi fechado e a imprensa alvo de censurada. O regime chegou ao fim em 15 de março de 1985.
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