[weglot_switcher]

Ex-regulador explica: “problema não foi causado por estarmos a importar de Espanha”

Primeiro presidente da ERSE garante que apagão chegaria cá mesmo sem importação de energia, explica o arranque gradual do sistema, defende mais investimento na rede elétrica e afasta necessidade de centrais a carvão.
ANTÓNIO COTRIM/LUSA
29 Abril 2025, 09h17

Jorge Vasconcelos é um nome que muitos fora do mundo da energia em Portugal não conhecem. Mas é um nome bastante respeitado no sector. Conhecido por ser um feroz independente, alias, foi este responsável que começou a avisar muito cedo para o risco das rendas da energia e a criação de uma divida tarifária em Portugal.

Depois do histórico apagão na segunda-feira, 28 de abril de 2025, o primeiro presidente da Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE) fez a sua análise sobre o tema, afastando a teoria de que a importação da eletricidade de Espanha foi responsável pelo blackout.

“Não são problemas de dependência, de importações, de estarmos a importar, podíamos nem estar a importar. O problema tinha chegado ca na mesma. não é um problema de estarmos a importar de Espanha que causou este problema”, disse Jorge Vasconcelos na segunda-feira na “CNN”.

Sobre a demora do restabelecimento da eletricidade em Portugal depois do apagão, aponta que esta é uma “situação extrema em que deixou de haver eletricidade. As próprias centrais ficaram sem eletricidade e são consumidoras de eletricidade, fazer o arranque de uma central eletricidade requer muita energia, são poucas as centrais que tem capacidade de arrancar. Começou-se a fazer o restabelecimento, este processo deve ser lento, progressivo e com muita cautela”.

Rejeitou também o cenário de dependência energética de Espanha. “Não existe uma dependência energética de Portugal com Espanha, existe interdependência, somos todos dependentes uns dos outros. Portugal tem capacidade suficiente para abastecer a nossa procura. Se estamos a importar é por razões econômicas ou de emergência, e para isso que existem interligações”.

Jorge Vasconcelos considera que também é preciso falar sobre o elefante na sala: investir mais na rede elétrica. “Há pelo menos 20 anos que especialistas nestas áreas alertam para a necessidade de novos investimentos no sistema elétrico tanto do ponto de vista dos equipamentos instalados porque houve uma alteração estrutural muito profunda, os equipamentos são hoje diferentes do que tínhamos há 30 anos, e o parque gerador de eletricidade alterou-se vemos painéis por todo o lado”.

Por fim, rejeitou também a possibilidade de manter as centrais a carvão em funcionamento. “A solução não é construir novas centrais a carvão, é sim adotar soluções técnicas que nos permitem substituir aquelas velhas centrais a carvão. Tem de haver esforço do investimento. tivemos hoje o colapso do sistema elétrico, não queremos o colapso do planeta”.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.