Por vezes a realidade prática é tão rica que parece ficção. Foi o que aconteceu com a WeWork. Do crescimento meteórico ao colapso abrupto, é o paradigma perfeito de falhas de governance que podem determinar o fim de uma empresa.

A empresa mundialmente famosa de coworking arrendava espaços de escritório partilhados, com serviços integrados, para startups e empreendedores individuais. Mais do que um simples negócio imobiliário de promoção de espaços de coworking, a WeWork apresentava-se como plataforma global de inovação e criação de comunidades produtivas. Contudo, o seu verdadeiro negócio não passava de um modelo imobiliário tradicional, camuflado sob um poderoso storytelling.

A história da WeWork é a história de um desastre anunciado: um empresário visionário e ambicioso (Adam Neumann) que concentra em si todo o poder decisório, que celebra livremente negócios com a própria empresa sem que os investidores digam nada e que mantém a estrutura societária inicial, sem mecanismos de controlo, mesmo em negócios de risco.

No início, tudo correu de feição. A WeWork começou com resultados impressionantes, conseguiu financiamento de entidades como o SoftBank e outros investidores institucionais que fascinados pela narrativa de disrupção e potencial de crescimento, apoucaram a falta de supervisão e transparência.

Esta combinação acabou por permitir más práticas como o arrendamento milionário de imóveis do fundador à própria empresa e outras decisões de gestão de racionalidade económica questionável.

Em 2019, a WeWork avançou para cotação em bolsa e esse foi o ponto de viragem. O IPO (initial public offering) foi um desastre e explica-se facilmente porquê: a abertura do capital expôs práticas de governo societário incompatíveis com os padrões éticos exigidos pelos mercados, resultando em perda drástica de valor, fuga de investidores e danos reputacionais severos.

O caso WeWork oferece lições preciosas. Muitas empresas preferem manter estruturas rígidas, adversas a investidores e, com uma cultura demasiado colada à visão e mentalidade do fundador, acabam por não adoptar práticas e mecanismos de controlo adequados ao crescimento saudável.

Qualquer empresa deve instituir desde cedo procedimentos de supervisão para garantir estruturas adequadas no relacionamento entre propriedade, controlo e administração.

A profissionalização da gerência e dos conselhos de administração, a definição de regras claras sobre conflitos de interesses e o acompanhamento da actividade por órgãos independentes não são obstáculos à gestão nem ao giro comercial, são sim pré-requisitos do sucesso e longevidade das empresas.

Até unicórnios como a WeWork podem afinal valer zero se lhes faltar o mais importante. E não. O mais importante não é dinheiro ou ideias. A WeWork não falhou por falta de capital nem de visão. Falhou por falta de bom governo.