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Carlos Rodrigues, da Aquapor: Portugal “ficou lá atrás” na transição para a sustentabilidade e circularidade

O administrador do Grupo Aquapor disse esta terça-feira, na Conferência do JE “O Futuro é circular”, que Portugal evoluiu muito rápido em infraestruturas e tem alta tecnologia, mas ainda anda a discutir processos de eficiência. No ISEG, Carlos Rodrigues deixou rasgados elogios ao regulador da água: “É dos mais evoluídos em termos europeus”.
6 Maio 2025, 14h30

“Evoluímos muito rápido em infraestruturação, temos alta tecnologia, mas, no passo seguinte que era  passar da eficácia para eficiência, a transição para sustentabilidade e circularidade ficou lá atrás”. Foi desta forma que Carlos Rodrigues, administrador e CCO do Grupo Aquapor, retratou Portugal na conferência “O Futuro é Circular”, promovida, esta terça-feira, pelo Jornal Económico em parceria com o ISEG, em Lisboa.

O gestor começou por explicar que a circularidade na indústria da água não passa só por implementar estratégias para recuperar recursos. Há outros pilares que podem ser e estão a ser explorados por empresas  sector das águas, como a sua, acrescentou: “Já existe um compromisso com a preocupação de reduzir o consumo de recursos primários e de haver um compromisso para com missões ambientais”.

À medida que fechou uma porta, abriu outra: “Do ponto de vista regulamentar e legal ainda há um caminho a ser feito. Tem a ver com o ligamento entre políticas do Governo e políticas sectoriais do ponto de vista vertical e horizontal”.

Na sequência, apontou dois exemplos. Começou pelo positivo. A Aquapor está envolvida numa Agenda Mobilizadora em que se faz o aproveitamento e recuperação de resíduos marinhos para incorporação no tecido têxtil . “As coisas funcionam e a Agência está a ter os seus resultados.

O mesmo não se passou com um projeto em que o próprio Carlos Rodrigues esteve envolvido durante 14 anos: recuperação e tratamento de efluentes das suiniculturas na zona de Leiria. Um projeto classificado como PIN, que não chegou a ser executado pela Aquapor por falta de viabilidade económico-financeira. “Há quatro, cinco anos atrás saímos”, contou Carlos Rodrigues, explicando: “Não havia enquadramento  regulamentar nem legal do ponto de vista tarifário para a produção do biometano, portanto, como é que nós conseguimos produzir biometano e injetá-lo na rede  se não existia enquadramento!?… Não tínhamos incentivos para o composto que se iria produzir ser colocado no mercado e poder concorrer com produtos concorrentes (…) .

A Aquapor integra o grupo francês Saur e opera na gestão de concessões municipais e prestações de serviços de abastecimento de água e de saneamento de águas residuais diretamente à população, às autarquias e às indústrias.

Em projetos de reutilização de água tratada, a Aquapor também já participou em alguns. Aí, Carlos Rodrigues aponta o dedo à burocracia. “O processo é de tal maneira moroso e burocrático que é mais fácil avançar para outro tipo de soluções que seja esquecer a reutilização”. Não é por acaso que os índices de reutilização em Portugal estão abaixo de 1%”.  A carga administrativa para licenciar uma unidade desta natureza é dissuasora em si. Leva à desistência, sublinha o gestor.

Os resultados encontram-se mais à frente: “Quando temos fenómenos de seca, andamos desesperadamente a discutir projetos de reutilização em larga escala  e nem sempre fazemos uma avaliação correta do ambiente externo”.

Neste sector específico, a falha, aponta Carlos Rodrigues é logo no início, quando devem ser consideradas quatro dimensões para avaliar as transições circulares: avaliação da componente ambiental, da social, da económica e da técnica. “No nosso grupo temos esse compromisso e temos tentado, de certa forma, influenciar o consumidor final e o cliente das melhores técnicas disponíveis poderem ser implementadas, mas nem sempre é fácil…” 

Carlos Rodrigues deixa outra critica contundente: As medidas de sustentabilidade e resiliência que um operador privado possa querer oferecer aos seus clientes não são reconhecidas do ponto de vista técnico como mais valias. Ao avaliar a componente económico financeira exclui-se as  componentes social e ambiental, afirma. “Vejo indústrias a leiloar, leiloar é o nome, prestações de serviço de engenharia. Como é que num leilão eletrônico de prestações de serviço de engenharia nós podemos avaliar aquilo que são as práticas de sustentabilidade ou de circularidade a um grupo privado!?…”

O administrador e CCO do Grupo Aquapor diz que a academia tem de vir mais a jogo, elogia o papel das associações como o BCSD Portugal, a Smart Waste Portugal e CIP que tinham falado minutos antes na conferência. Elogia o benchmark em Portugal e tece encómios ao regulador da área da água. “Funciona muito bem. É dos mais evoluídos em termos europeus”. Diz que Portugal pode orgulhar-se disso em termos internacionais.

Lá fora destaca os Países baixos, onde temas como efluentes hospitalares e recuperação de nutrientes já não é tema. “Em Portugal nós ainda andamos a discutir processos de eficiência. Portanto, eu diria que evoluímos muito rápido em infraestruturação, temos alta tecnologia, mas, no passo seguinte que era passar da eficácia para eficiência, a transição para sustentabilidade e circularidade ficou lá atrás. Esse é o caminho e a oportunidade”.

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