Após um fim-de-semana de negociações em Genebra, na Suíça, os EUA e a China chegaram a acordo para suspender a escalada de tarifas do último mês por 90 dias, dando esperança à economia mundial de contenção na guerra comercial entre as duas maiores economias do globo. A incerteza continua em alta, mas os sinais são encorajadores e suficientes para melhorar as perspetivas mundiais este ano, apontam os analistas.
O acordo anunciado esta segunda-feira reverte mais de 100 pontos percentuais (p.p.) de taxas alfandegárias para ambos os lados, colocando os bens norte-americanos importados pela China a pagar 10% de tarifa e os produtos chineses importados pelos EUA a enfrentarem 30%, dada a sobretaxa de 20% aplicada para combater o envio de matérias-primas para a produção de fentanil.
“Tivemos discussões muito produtivas e acho que o local, aqui no Lago Genebra, deu grande serenidade ao que foi um processo muito positivo”, afirmou o secretário do Tesouro norte-americano, Scott Bessent. “Ambos os lados concordaram que ninguém queria uma separação”, acrescentou.
O comércio entre ambos os países estava em risco dada a política tarifária, que levou a taxas acima de 100% – um valor que, segundo a esmagadora maioria dos analistas, equivale a um embargo. Apesar da preocupação do mercado com o impacto da guerra comercial entre as duas maiores economias mundiais, o resultado das conversações superou as expectativas mais otimistas, que projetava um alívio em torno de 50%.
“Apesar de esta reversão da guerra comercial beneficiar ambas as economias, o acordo, que baixa significativamente taxas sem quaisquer concessões, deverá ser visto como uma vitória particularmente para a China”, escrevem os analistas do banco ING, lembrando que Pequim havia exigido uma descida nas tarifas como pré-condição para qualquer negociação entre ambas as partes.
Os dados conhecidos na sexta-feira sobre as exportações chinesas em abril mostraram uma queda de 21% em relação a igual período do ano passado nas vendas para os EUA, uma descida assinalável, mas que mostrou uma elevada dependência dos importadores norte-americanos, que seriam assim mais prováveis de pagar pela barreira imposta por Washington.
Com a redução das taxas pagas nos bens chineses, esta distorção no mercado deverá ser mais partilhada entre os vários agentes (importadores, exportadores e consumidores) e a previsão de crescimento para a China volta ao ponto original do início deste ano, ou seja, 4,7%, continua o ING.
Apesar de não ser “uma solução estrutural”, o recuo “sinaliza uma mudança de tom ou, no mínimo, uma abertura política para suspender” a guerra comercial, considera o responsável por estratégia de mercado da Pepperstone Ahmad Assiri.
“O que aconteceu hoje não é o final das tensões comerciais, mas é uma clara pausa tática”, prossegue, argumentando que tal “cria margem para reavaliar fluxos de troca globais e custos intermédios, além de poder dar suporte aos resultados empresariais no próximo trimestre”.
Depois dos ganhos registados nas principais bolsas asiáticas, foi a vez de as praças europeias seguirem pelo mesmo caminho, na segunda-feira. Setores como os de recursos naturais, luxo e automóvel estiveram entre os que registaram os maiores ganhos, fruto da maior exposição ao mercado chinês.
O índice PSI renovou máximos de meados de 2014, com uma subida de 1,76% até aos 7.110 pontos. Os ganhos foram liderados pelas ações da EDP Renováveis, protagonistas de uma valorização de 5,47% até aos 8,68 euros. A Navigator seguiu pelo mesmo caminho, ao saltar 4,85% para 3,462 euros.
A Galp avançou 2,76% até aos 14,31 euros, ao passo que a Semapa se adiantou 2,20% e alcançou os 17,62 euros, enquanto o BCP somou 2,17% para 0,6024 euros. Em sentido contrário, a REN caiu 1,66% e os títulos não foram além de 2,67 euros, sendo que nos CTT houve uma derrapagem de 1,32% até aos 6,71 euros.
Entre os principais índices europeus, destacaram-se Itália e França, duas praças onde está cotado o grupo automóvel Stellantis, que valorizou mais de 6% em ambas. Neste contexto, Itália somou 1,48% e França adiantou-se 1,37%, impulsionada também pelo segmento do luxo, em virtude de valorizações de 7% na Louis Vuitton e de quase 6% Kering.
Simultaneamente, incrementos de 0,61% no Reino Unido, 0,56% em Espanha e 0,22% na Alemanha. O índice agregado Euro Stoxx 50 avançou 1,58%.
No mercado de futuros, os barris de Brent e de crude subiam perto de 2% aquando do encerramento da sessão nos mercados europeus, também em virtude do acordo entre EUA e China, que são os dois maiores consumidores de petróleo à escala global. Na origem estão as perspetivas de que a procura pelos produtos petrolíferos deverá aumentar.
De resto, os principais índices da bolsa de Wall Street abriram em forte alta, com subidas em torno de 3%. Destaque para as “Sete Magníficas”, que registavam valorizações fortes, uma vez mais em virtude da grande exposição à segunda maior economia do mundo.
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