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Inflação desacelera em abril e dá margem a Trump para reforçar pressão sobre a Fed

A expectativa do mercado era que o indicador se mantivesse em 2,4% em termos homólogos, mas este abrandou marginalmente para 2,3% apesar de até ter subido em cadeia. Trump deverá voltar a pedir cortes de juros, tal como tem vindo a fazer repetidas vezes nos últimos meses.
9 – Los Angeles, Estados Unidos
14 Maio 2025, 07h00

Apesar da expectativa quanto ao impacto das tarifas nos preços nos EUA, a inflação de abril abrandou em relação ao mês anterior, ficando abaixo das previsões de mercado que apontavam para nova leitura de 2,4%, tal como em março. Apesar de tal ser uma boa notícia para a Fed, deve também dar mais ímpeto a Trump para continuar a pressionar o banco central a cortar taxas, como tem feito repetidas vezes.

Em cadeia, o índice de preços no consumidor (IPC) subiu 0,2% em abril, contrariando uma descida de 0,1% em março, mas ficou abaixo dos 0,3% previstos. Esta leitura em cadeia significa uma variação de 2,3% em termos homólogos, isto quando o mercado antecipava uma manutenção em 2,4%, semelhante à registada em março. É o valor mais baixo para o IPC nos EUA desde fevereiro de 2021. Olhando para o indicador core, que ignora as componentes energética e alimentar, a inflação em abril foi de 2,8%, ou seja, igual à do mês anterior.

Os custos com a habitação continuaram a pesar na leitura, mostrando uma variação homóloga de 4%, com um impacto considerável no indicador, dado que esta componente representa mais de um terço da sua composição. Ainda assim, os dados prospetivos quanto ao mercado imobiliário norte-americano apontam para um recuo no ritmo de crescimento das novas rendas celebradas, sinalizando um provável alívio nos próximos meses neste ramo da economia.

Em sentido inverso, os preços de passagens aéreas, hotéis e eventos de lazer recuaram, bem como os das mercearias, levando à desaceleração em termos homólogos do indicador nominal. Após meses de preços elevados à boleia da gripe aviária no continente norte-americano, o preço dos ovos (um assunto altamente politizado nos EUA e frequentemente trazido para a campanha do ano passado por Trump) desceu 12%, dando alguma margem na componente alimentar.

Os mercados e analistas esperavam com ansiedade esta divulgação à procura de sinais já do impacto das tarifas, mas este não se materializou – por enquanto. A visão dominante entre os economistas é que, apesar das reversões anunciadas desde então pela Casa Branca, o impacto acabará por sentir-se mais cedo ou mais tarde.

Recorde-se que esta leva de tarifas foi entretanto quase toda suspensa, com a suspensão mais recente, com a China, anunciada esta segunda-feira. A relação entre as duas maiores economias do mundo era particularmente delicada, não só pelo volume de trocas, mas sobretudo pelas implicações que poderia ter em economias terceiras.

As matérias-primas, os bens presumivelmente mais afetados pela escalada tarifária do último mês, representam apenas 19,4% do cabaz considerado para o IPC, levando os analistas do ING a argumentar que o alívio do lado da habitação e dos serviços “pode ajudar a mitigar a ameaça inflacionista das tarifas, que é em si mesma menor após o recente arrefecimento das tensões com a China”.

Do lado da política monetária, a Fed ganha assim mais margem de manobra para cortar taxas em breve (em linha com os comentários repetidos de Trump) por duas vias: por um lado, a pressão nos preços parece estar a acalmar, enquanto, por outro, o crescimento não deverá sofrer tanto negativamente com a política comercial. Quase certo será o ressurgimento da pressão do presidente para que o banco central baixe taxas, uma opção que tem defendido múltiplas vezes.

Trump classificou recentemente o presidente da Reserva Federal, Jerome Powell, como “um completo totó”, embora ressalvando que, contrariamente ao que chegou a sugerir, não o irá despedir. No entanto, o presidente considera qualquer tentativa de diálogo com o líder da Fed “como falar com uma parede”.

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