E ao 11.º dia de campanha eleitoral, André Ventura, líder do Chega, teve de sair de cena para se recompor do espasmo esofágico que o levou a ficar internado no hospital de Faro entre a noite de terça-feira e a manhã de quarta-feira. Apesar de ter tido alta, Ventura não participou nas ações de campanha do partido, que teve uma arruada durante a tarde em Vila Nova de Milfontes. Nas outras caravanas, Partido Socialista (PS) e Aliança Democrática (AD) falaram esta quarta-feira diretamente para o eleitorado “zangado” e “cansado”.
Em Setúbal, numa visita ao Mercado do Livramento, o secretário-geral do PS mostrou-se confiante no resultado de domingo e apontou que o partido é “largamente subestimado” nas sondagens.
Num dia em que a Spinunviva voltou a ser notícia (o Correio da Manhã noticiou que a sede da empresa continua a ser na casa do primeiro-ministro), Pedro Nuno Santos, sem comentar esse dado, acabou por apelar ao voto a quem escolheu a AD o ano passado e agora está “envergonhado com um primeiro-ministro que mistura política com negócios”.
O líder socialista quer que esse eleitorado “sinta que pode confiar no PS”. Mas, garantiu, o seu partido é “de todos os portugueses” – das famílias, dos trabalhadores, dos reformados, dos jovens, das mulheres – e por isso considerou que deve “falar para todos”.
Incluindo o eleitorado que tem “confiado no partido populista de extrema-direita em Portugal, o Chega”. “E porquê? Porque há pessoas que estão zangadas, sentem que as suas vidas estão a marcar passo, não atam nem desatam e estão zangadas. Só que o Chega não tem a solução para os seus problemas”.
Ao eleitorado “mais à esquerda do PS”, Pedro Nuno assegura: “Pode olhar para o PS como uma força progressista, de avanço, de defesa do Estado social”.
No almoço comício que seguiu, na Costa da Caparica (Almada), o dirigente socialista Álvaro Beleza assinalou que os eleitores vão escolher no domingo o “porto de abrigo que é o PS”, que “não se vende por votos”, e não arriscar num projeto da AD que “pode não correr nada bem”.
“Querem arriscar em algo que não sabem o que é, mas pelo que se vê, pode não correr nada bem? Querem apostar num porto de abrigo que é o PS, que tem muitos defeitos, tem, mas já nos conhecem, sabem como somos, e nunca falhamos, nunca desistimos, e não nos vendemos por votos”, questionou o presidente da SEDES.
Convencido de que até domingo “muita gente vai refletir”, Álvaro Beleza sublinhou que o português é sensato, ponderado, e o Partido Socialista pode e vai ganhar as eleições”, antecipou.
Para Beleza, o PS “é verdadeiramente, dos partidos políticos portugueses, o grande porto de abrigo em Portugal”. “Todos nós cometemos erros e falhamos muitas vezes. Mas há uma coisa que os portugueses sabem. O PS cuida da saúde, cuida da educação, porque foi a paixão da educação de um governo do PS que fez o investimento na educação e na ciência que hoje temos”, elogiou.
O dirigente socialista referiu que o PS está “sempre com quem está a pior”. “E, já agora, nós aqui não trocamos valores por votos. Nós preferimos perder com honra do que vender os nossos valores”, apontou.
AD procura bipolarizar e fala aos que estão “cansados” de eleições
À medida que o dia das eleições se aproxima, os apelos ao voto intensificam-se. Luís Montenegro, presidente do PSD, falou aos eleitores que estão “cansados” com tantas eleições legislativas, colocando a coligação que lidera como um fator de estabilidade e os partidos da oposição como os responsáveis pela instabilidade política.
“Sabemos que estão cansados de eleições e preocupados com a estabilidade política, que tem de poder juntar-se à estabilidade social, económica e financeira do país. Se estão preocupados com a estabilidade política, temos de ser capazes de mostrar às pessoas que o único voto útil para a estabilidade é o voto na AD”, sustentou Montenegro numa ação de rua em Arcos de Valdevez, um “bastião laranja” no Alto Minho, em que teve ao seu lado o cabeça de lista da AD – coligação PSD/CDS por Viana do Castelo, José Pedro Aguiar-Branco.
“Quanto mais votos a AD tiver, maior estabilidade há em Portugal. Quanto mais votos forem dispersos pelos partidos de oposição, maior instabilidade haverá em Portugal. A estabilidade é a nossa forma de estar e a instabilidade é o modo de vida das oposições”, reforçou o líder da coligação PSD/CDS.
Mais tarde, num almoço em Vila Verde, Montenegro considerou que a AD é interclassista, popular, moderada politicamente, sem arrogâncias intelectuais, e voltou a bipolarizar, dizendo que a escolha fundamental é entre ele ou o socialista Pedro Nuno Santos. “Esta é verdadeiramente a candidatura mais popular, mais abrangente, mais interclassista e é mesmo a candidatura do povo português”, sustentou, antes de classificar o projeto político da AD como “moderado”.
A seguir, neste contexto, criticou a oposição sem especificar partidos, dizendo que “há gente que usa os sentimentos e o pensamento do povo, fala com arrogância intelectual daquilo que pretensamente o povo pensa”. “Mas depois vemos e a adesão em relação a tudo aquilo que vão dizendo, seja nas televisões ou nos comícios, a tradução daquilo que dizem com a realidade é uma coisa muito distante”, contrapôs.
De acordo com o primeiro-ministro, ao contrário das oposições, na AD ninguém se arroga no sentido de pretender substituir-se “ao exercício que compete a cada um fazer”. “Quem vai decidir estas eleições é o povo”, acentuou, antes de visar o secretário-geral do PS.
“Ao contrário de muitos que falam como se fossem proprietários dos votos, nós temos a consciência de que partimos para estas eleições com zero votos. Do ponto de vista formal, nós estamos a zeros”, advertiu, apesar de acrescentar logo a seguir ter confiança numa vitória da AD.
No seu discurso, tal como fizera esta manhã em Arcos de Valdevez, o presidente do PSD voltou a procurar bipolarizar a questão política de domingo, partindo das ideias de que os portugueses “estão fartos de eleições” e que “o país não quer eleições todos os anos, nem deve ter eleições todos os anos”.
“Não podemos andar sempre a pedir ao povo que resolva aquilo que a política não resolve”, declarou Luís Montenegro, para quem, no entanto, “os dados estão lançados” em relação às eleições de domingo.
“As pessoas sabem quem são os candidatos a primeiro-ministro, há dois [ele e Pedro Nuno Santos] e sabem quem são os dois grandes projetos. Há a nossa e há a outra candidatura. Depois, há outros partidos, legitimamente, democraticamente, que se apresentam, mas não vão liderar governos. Não vão ser os fatores da estabilidade do governo”, sustentou.
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