Espelho, espelho meu, quem é mais fiável do que eu?

O tal espelho era mágico, mas o que fica na memória é a emblemática frase da rainha má em “Branca de Neve”, um clássico da animação visto por várias gerações. “Espelho, espelho meu, há alguém mais bonito do que eu?”. Ponto de partida para debater o que é a beleza, esse conceito altamente subjetivo? Para tergiversar sobre príncipes encantados, essa coisa ‘tão século XX’, absolutamente démodé? Nem por isso. O que nos interessa é a nuance. Ou melhor, as muitas nuances da voz literária que a máquina não domina. E que aquece a discussão sobre o papel das ferramentas que a inteligência artificial coloca ao serviço da tradução literária.

A inteligência artificial é fiável na tradução literária?

Ó blasfémia, auscultámos primeiro o ChatGPT, que respondeu assim à pergunta. “A inteligência artificial (IA) pode ser uma ferramenta útil na tradução literária, mas não é totalmente fiável se o objetivo for capturar toda a riqueza estilística, nuance cultural e ambiguidade emocional de um texto literário”. A resposta é complementada pelos pontos fortes da IA na tradução literária. “1) rapidez e consistência: a IA pode traduzir grandes volumes de texto rapidamente, com uniformidade terminológica; 2) traduções preliminares: pode servir para tradutores humanos usarem como base, poupando tempo; 3) compreensão geral: traduz de forma eficaz textos informativos ou narrativas simples, principalmente entre línguas de estruturas gramaticais semelhantes”.

E contrapõe como limitações relevantes “1) perda de estilo e tom: a IA pode falhar ao captar metáforas, trocadilhos, regionalismos, ironia, ritmo poético e estilo do autor; 2) falta de interpretação cultural: não entende contextos históricos, sociais ou culturais da mesma forma que um tradutor humano experiente; 3) soluções literais demais: muitas vezes entrega traduções literais ou ‘chapadas’, que não refletem a intenção artística original”.

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