A Moody’s cortou a notação da dívida norte-americana de ‘Aaa’ para ‘Aa1’, uma decisão histórica e motivada, explica a agência, pela contínua subida do endividamento do governo federal e recorrentes défices orçamentais. Há mais de um século que os títulos do Tesouro norte-americano detinham a melhor avaliação possível da Moody’s, que foi a última das três grandes agências a baixar o rating da dívida dos EUA.
A decisão foi anunciada sexta-feira, mas já se fazia adivinhar dada a deterioração de perspetivas sinalizada pela agência em 2023, quando reviu em baixa o outlook norte-americano de ‘estável’ para ‘negativo’. A maior economia do mundo perde assim a última nota máxima nos seus títulos de dívida, isto depois de o S&P ter revisto o rating em 2011 e a Fitch ter feito o mesmo em 2023.
Tal como as suas homólogas, a Moody’s diz-se preocupada com a incapacidade de sucessivas administrações em “reverter a tendência de grandes défices anuais e custos de financiamento crescentes”, apontando a saldos orçamentais negativos em torno de 9% do PIB em 2035. O ano passado fechou com um défice de 6,4%, sendo que 2025 deverá fechar com igual situação orçamental, aponta o Deficit Tracker do Bipartisan Policy Center.
Segundo esta ferramenta, o défice deste ano até abril vai, ainda assim correndo acima do registado em termos homólogos nos dois anos anteriores, superando o bilião de dólares (895,9 mil milhões de euros) nos primeiros quatro meses do ano.
Trump e a sua administração têm colocado frequentemente a tónica na necessidade de cortar custos no governo federal e conter a subida da dívida, embora os seus esforços tenham sido, até agora, de sucesso limitado. A agência liderada por Elon Musk para a eficiência estatal teve inúmeros problemas de reporte, mas parece ter ficado abaixo dos objetivos propostos.
Já a política tarifária, que visava reequilibrar a balança externa e aumentar a receita para compensar os planeados cortes fiscais de Trump e do Partido Republicano, resultou num máximo histórico de receita alfandegária, mas a sua suspensão significa que este aumento deverá ser de pouca duração. Abril contou com cerca de 500 milhões de dólares (446,7 milhões de euros) de entrada diária com as barreiras nas alfândegas, ou seja, 16,3 mil milhões de dólares (14,6 mil milhões de euros) no total do mês.
Esta notícia surge ainda numa altura em que Trump procura pressionar o Congresso a prolongar os cortes fiscais com que avançou em 2017, mas onde encontrou rara resistência dentro do seu partido. Representantes da ala mais extremada republicana na câmara baixa juntaram-se aos democratas na rejeição de ‘Uma Grande e Bela Lei’, nome dado à legislação por sugestão do presidente.
Numa tentativa de fazer passar a lei, o Congresso volta a reunir numa rara sessão noturna de domingo, tendo marcado para as 10h da noite em Washington, DC (3h da manhã de segunda-feira em Lisboa) nova votação. Segundo fontes anónimas revelaram ao ‘Politico’, alguns republicanos mais conservadores estão descontentes com a falta de cortes na despesa ou por não serem terminados benefícios fiscais a famílias de menores rendimentos, pelo que bloquearam a lei.
Em resposta, Trump defendeu na sua conta na rede social X que o partido “tem de se unir” em torno desta “grande e bela lei”.
Este falhanço em conter os gastos é visada também pela Moody’s, que perspetiva uma dívida pública detida pelo governo federal de 134% em 2035 caso se mantenha a atual tendência. O indicador estava, no final de 2024, em 98%. Segundo o Comité para um Orçamento Responsável, as propostas fiscais de Trump acrescentarão 5,2 biliões de dólares (4,7 biliões de euros) ao stock de dívida nacional nos próximos dez anos.
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