O apagão que afetou simultaneamente várias regiões de Portugal e Espanha evidencia, de forma particularmente preocupante, a enorme vulnerabilidade das infraestruturas críticas numa sociedade cada vez mais interdependente e digitalizada. Mais do que uma falha técnica, este incidente constitui um objeto de análise complexo, com implicações a nível técnico, político e social, nomeadamente, no que diz respeito à forma como concebemos a resiliência em sociedades tecnológicas avançadas.
As infraestruturas críticas, como redes elétricas, sistemas de comunicações, água, transportes e serviços de emergência, são parte vital do bom funcionamento da sociedade. A sua falha súbita, seja por avaria, sabotagem ou ciberataque, expõe a fragilidade estrutural de um modelo de organização social profundamente dependente da continuidade desses serviços.
O conceito de “sistemas de sistemas” aplica-se aqui com clareza: a falha de uma infraestrutura afeta imediatamente várias outras, desencadeando um efeito dominó de consequências que escapam ao controlo imediato das entidades responsáveis. À medida que as infraestruturas se tornam mais complexas e automatizadas, com componentes dispersos por diferentes jurisdições, muitos de origem privada, a rastreabilidade das causas de um incidente torna-se mais difícil e demorada, como foi o caso deste inédito apagão.
Ainda assim, a comunicação de crise eficaz, célere e transparente é fundamental. A incerteza técnica abre espaço para a especulação e, infelizmente, para a desinformação. Em contextos de crise, a ausência de informação fiável e atempada gera um vácuo que é rapidamente preenchido por teorias infundadas e injustificadas, sem evidências. A confiança nas instituições degrada-se, e com ela a coesão social e o discernimento necessários para enfrentar situações de emergência.
A resposta a este novo tipo de desafios não pode ser meramente técnica: requer uma abordagem multidisciplinar e uma resposta articulada entre entidades públicas e privadas, que envolva, decisores políticos, engenheiros, especialistas em cibersegurança e a sociedade civil.
É urgente reforçar os sistemas de monitorização e redundância das redes elétricas, de comunicações e de serviços digitais. Será decisivo investir de forma planeada em cibersegurança e modelos de governance, não apenas como uma questão técnica isolada, mas sim como parte integrante de uma estratégia de segurança e defesa nacional em toda a sua dimensão.
Este apagão foi mais uma manifestação de uma realidade para a qual ainda não estamos prontos e um verdadeiro apelo à ação, à nossa maior proatividade enquanto nação, antes que a próxima falha nos encontre novamente desprevenidos, e de novo, a luz se apague.