O setor automóvel enfrenta, de forma inquestionável, a maior e mais rápida transformação dos seus mais de cem anos de história. Esta mudança é profunda, transversal e simultaneamente tecnológica, económica, regulatória e social. Assistimos à reformulação de tudo: do produto à cadeia de valor, do comportamento do consumidor aos modelos de negócio, da lógica de compra à lógica de utilização. E o impacto não se limita ao setor em si — estende-se às cidades, à mobilidade das pessoas e, em última instância, à própria organização das sociedades.
As viaturas autónomas, que outrora pareciam ficção científica, estão hoje tecnicamente maduras. A conectividade dos veículos permite intervenções remotas, diagnósticos preditivos e atualizações over-the-air. Os marketplaces digitais conquistaram um papel central na venda de automóveis novos e usados, bem como na comercialização de peças — de origem, de qualidade equivalente e, mais recentemente, reutilizadas. A digitalização deixou de ser uma tendência para passar a ser um eixo estrutural.
Ao mesmo tempo, novas marcas e operadores — como a Tesla — mostram que é possível construir um modelo praticamente sem presença física, 100% digital. A própria lógica do Pós-venda e da Distribuição automóvel está a ser revista. E tudo isto acontece com a entrada em cena de uma nova geração de consumidores com hábitos distintos, expectativas digitais e valores orientados para a sustentabilidade.
Mas nem tudo nesta transformação resulta da evolução natural da Procura, da Inovação ou da Concorrência saudável. Parte significativa das mudanças em curso tem origem em agendas políticas, muitas vezes desconectadas da realidade industrial e empresarial. A Transição Energética, por exemplo, está a ser conduzida num quadro de metas ambientais exigentes, mas frequentemente sem considerar as condições reais para a sua implementação com equilíbrio e eficácia.
Esta transformação imposta — mais do que negociada — coloca a indústria automóvel no epicentro de uma disputa global. Europa, China e Estados Unidos lutam não só pela liderança tecnológica, mas também pelo controlo da próxima era da mobilidade.
Neste contexto, é legítimo perguntar: estaremos todos nós preparados? Mesmo os profissionais mais experientes do setor — habituados a Ciclos de Inovação e adaptação — reconhecem que hoje é impossível fazer previsões com segurança para além de dois ou três anos. O setor caminha sobre um terreno em constante mutação. E é precisamente aqui que faz sentido evocar a célebre teoria de Darwin.
“Não são os mais fortes que sobrevivem, nem os mais inteligentes, mas sim os que melhor se adaptam ao ambiente.” Estamos a entrar num modelo Darwiniano da indústria automóvel. Num cenário de disrupções simultâneas e sucessivas, a capacidade de adaptação deixou de ser uma vantagem competitiva — passou a ser uma condição de sobrevivência.
O futuro pertencerá às empresas que se souberem adaptar com agilidade, antecipar tendências e, acima de tudo, manter o foco no cliente, porque não há futuro sem criação de valor. Vivemos um tempo em que resistir à mudança é o verdadeiro risco.
Adaptar-se não é apenas necessário — é o único caminho.