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O mundo inteiro sob uma magnífica pala

O Pavilhão de Portugal é, sem dúvida, um dos edifícios mais emblemáticos do Parque das Nações e agora retoma a sua vocação de janela para o mundo, 27 anos depois de abrir as portas pela primeira vez, em 1998.
25 Maio 2025, 11h05

Siza Vieira idealizou e a engenharia fez acontecer a impressionante – para não dizer belíssima – cobertura ondulante de betão, que parece flutuar sobre a praça, qual ágora dos tempos modernos, aberta a todos, aberta ao mundo. Aquele que é um dos edifícios mais emblemáticos do Parque das Nações foi o espaço que representou Portugal na Exposição Mundial de 1998. Ponto nevrálgico daquele que foi “um lugar sem dúvida utópico mas real”, onde decorreu “uma das últimas celebrações do milénio. Em Lisboa, capital europeia dos Oceanos”, palavras de António Mega Ferreira, gestor cultural, escritor, cronista e administrador da Expo’98.

O Pavilhão de Portugal, que integra o património da Universidade de Lisboa, viveu um novo momento simbólico a 22 de maio de 2025. Duplamente simbólico. Como celebração de quem o projetou, Álvaro Siza Vieira, Prémio Pritzker de Arquitetura em 1992, que viu o “seu” edifício ser distinguido com o Prémio Valmor e classificado como Monumento de Interesse Público logo em 1998. E como fiel depositário do espólio de quem lhe deu protagonismo, António Mega Ferreira, que defendia “uma nova ética nas relações do homem com o meio ambiente”, tema que considerava “central na agenda política do século XXI”.

Ou seja, 27 anos depois de abrir portas pela primeira vez, a 22 de maio de 1998, o Pavilhão recebeu a biblioteca deste homem de ação – a alma da Expo’98 para lhe fazermos justiça – que conta com 25 mil livros dedicados aos oceanos e ao ambiente. No mesmo dia, foi inaugurado o Centro interpretativo do Parque das Nações e um novo espaço de estudo da Universidade de Lisboa (UL), “aberto a todos os estudantes, de Lisboa e do país”, realça Luís Ferreira, reitor da UL.

Um edifício-montra 

“De Lisboa para o Mundo”. O mote é da UL, que pretende que o Pavilhão de Portugal  seja a montra que ilustra esse desígnio, após quase três décadas a debater-se com um destino errático, entre a indefinição funcional e os entraves burocráticos. “Queremos que seja uma montra da universidade, uma montra também da cidade e, porque não, uma montra do país”, diz ao JE, com orgulho, o Professor Luís Ferreira. “Nós somos uma universidade que é mais do que uma universidade nacional. Temos 12 mil alunos estrangeiros. Portanto, somos uma universidade do mundo e trazemos o mundo também para Lisboa”, frisa, antes de acrescentar que este é um local “fantástico para divulgar a Universidade, a ciência e a cultura que representamos e que também produzimos”.

Mas não só. O reitor da Universidade de Lisboa partilha com o Jornal Económico que o objetivo é, também, extravasar o ADN da universidade e cativar outros públicos,  incluindo as famílias que frequentam o Parque das Nações ao fim de semana. “Queremos proporcionar descobertas”, afiança, com entusiasmo. É neste contexto que foi pensada a exposição que tem Luís Vaz de Camões como fio condutor.

“Meu matalote e amigo Luís de Camões”, assim se intitula a primeira proposta expositiva do Pavilhão, promete ser uma viagem pelos grandes eixos narrativos d’”Os Lusíadas”, que se desenvolvem em 12 núcleos, pensados pelo comissário da exposição, João R. Rodrigues – professor na Faculdade de Letras da UL e estudioso de Camões – para pôr em diálogo o texto do poeta e as artes visuais. E para seduzir tanto especialistas como o público em geral. Das esculturas de Simões de Almeida e Canto
da Maya às pinturas de José Malhoa, Columbano, Géricault e Lourdes Castro, entre outros, as pontes fazem-se ainda com obras de Domingos António de Sequeira e Luca Cambiaso, lado a lado com fotografias de Jorge Molder, Hiroshi Sugimoto, Candida
Hoefer ou Luís Pavão.

Nos próximos meses, entre outras atividades e eventos, o Pavilhão irá receber um congresso internacional de arquitetura e a exposição evocativa do centenário de Mário Soares.

Sair do “mapa dos delitos”
Além da vertente cultura e língua, a UL quer o Pavilhão a olhar para o futuro. “É nesse âmbito que acolhemos a ESNA, uma instituição europeia de promoção do empreendedorismo e da inovação, e a Startup Portugal. A ideia é fazer a ponte entre aquilo que é a investigação mais fundamental e uma investigação prática e aplicada. Ora, isto tem tudo a ver com o futuro, com a utilização daquilo que é a investigação
e que que depois se transfere para a sociedade”, sublinha Luís Ferreira.

O futuro esteve sempre presente nesta conversa. Para trás ficam os anos de  requalificação do edifício, a demanda por financiamento – “foi tudo feito com recursos próprios”, diz o reitor ao JE – antes de frisar que, agora, a maior responsabilidade da
UL é fazer com que “este espaço seja vivido e contribua para se refletir sobre as grandes questões que se colocam à sociedade para, em conjunto, construirmos algo melhor”. Ao fazê-lo, conclui, “a Universidade estará a cumprir o seu papel e o edifício a ter um uso que dignifica a própria obra e a sua história”.

“Uma nota só, de desordem persistente, a vibrar no abismo das coisas, no mapa dos delitos; acarinhando o pequeno remorso precioso dos fins por atingir (…)”. Invocamos Mega Ferreira no seu Poema, em “O Tempo que Nos cabe”, para lembrar que este
“fim por atingir” a que parecia condenado o Pavilhão de Portugal deixou, por fim, de constar do “mapa dos delitos”.

O Pavilhão e a exposição podem ser visitados de terça a domingo, das 10h00 às 18h00.

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