Há uma nova estrada na capital da Costa do Marfim que, ao libertar Abidjan de um problema diário, promete ajudar o mundo a comer chocolate.
O país da costa atlântica de África é o maior produtor mundial de cacau, que cresce no interior rural e é exportado por via marítima, pelo porto da capital, mas até chegar às lojas enfrenta um obstáculo de logística: os congestionamentos automóveis crónicos nas artérias da cidade.
“Há cinco anos, eu demorava, pelo menos, duas horas para atravessar Abidjan”, conta Dosso Aboubacar, coordenador adjunto do projeto de transportes urbanos da cidade, numa visita guiada aos trabalhos financiados pelo Banco Africano de Desenvolvimento (BAD).
A vida é ainda mais complicada para quem vive nos subúrbios ou para os condutores de camiões pesados, todos obrigados a desperdiçar muitas horas de serviço nos “embouteillage” (engarrafamento, em francês).
Nalguns locais, o trânsito é sempre intenso e faz-se por entre bancas de comércio informal (fruta, pronto-a-vestir, calçado, peças automóveis).
É difícil avançar: há motas, automóveis e pessoas a circular por onde menos se espera.
Em 2015, a velocidade média de circulação era de 15 quilómetros por hora e havia 350 acidentes mortais por ano.
De olhos na estrada, Aboubacar diz que a fluidez melhorou, à medida que vão ficando concluídas novas pontes e estradas com várias faixas, em toda a capital, a oitava ou nona maior cidade de África (consoante a classificação), com cerca de seis milhões de habitantes.
Seguindo por uma dessas novas ligações está o porto de São Pedro, por onde passam as exportações de cacau e café, naquela que é também a estrada de acesso ao mar para o Mali e o Burkina Faso e por onde passam centenas de camiões todos os dias.
“A estrada passou de uma para duas faixas e permite que o trânsito circule com outra facilidade”, com reflexos em toda a cadeia de valor de vários produtos, como o cacau, “evitando perdas e beneficiando as unidades de produção do país que trabalham para fornecer a Europa com chocolate”, exemplificou.
Mas as obras trazem riscos: no caso, foi necessário reassentar milhares de famílias que viviam nos terrenos onde foram construídas as novas infraestruturas – Dosso Aboubacar diz que, para muitas, foi uma bênção, porque tinham casas precárias e agora vivem em novos bairros.
O Projeto de Transportes Urbanos de Abidjan (PTUA) está perto da conclusão e engloba cerca de 80 quilómetros de vias e intervenções sociais, num investimento a rondar 900 milhões de euros, cujo financiamento é liderado pelo BAD e junta ainda a agência de cooperação japonesa (JICA) e o Fundo Mundial para o Ambiente.
Hoje, o trânsito automóvel continua a ser um desafio que as comitivas lusófonas e de outros países têm de vencer para chegar às reuniões anuais do BAD (um dos maiores eventos económico—financeiros anuais do continente), em Abidjan, mas a instituição financeira diz que a aposta em infraestruturas vai melhorar a mobilidade em África.
Os encontros vão juntar milhares de pessoas, até sexta-feira, em busca de fórmulas para o setor público e privado financiarem o desenvolvimento africano.
O Grupo Banco Africano de Desenvolvimento é a principal instituição de financiamento do desenvolvimento do continente e conta com 81 Estados-membros, entre 53 países africanos e 28 países fora do continente, incluindo Portugal.
*** A Lusa viajou a convite do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) ***
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