O adiamento para 9 de julho da imposição de tarifas de 50% às exportações da União Europeia para os Estados Unidos – conseguido pela presidente da Comissão, Ursula von der Leyen – dá mais tempo às duas partes para chegarem a um acordo. No entanto, essa pode não ser exatamente uma grande vantagem: Trump tem demonstrado abertura para o diálogo, mas, no final, acaba por impor tarifas que, embora não sejam tão elevadas quanto a abordagem inicial, são suficientemente onerosas para colocar em causa as movimentações comerciais globais. Mais perto da economia real, as empresas estão a encontrar uma solução alternativa para minimizar o impacto mais significativo das tarifas, utilizando uma legislação de décadas atrás conhecida como “regra da primeira venda”. Segundo a CNBC, essa regra permite que importadores usem o preço da primeira venda em diversas transações para calcular taxas alfandegárias.
De qualquer modo, o mais recente relatório do banco suíço UBS alerta que “os investidores estão demasiado otimistas em relação ao caminho para as discussões comerciais”. Esse otimismo, que a UBS considera difícil de entender, está refletido no “sobe-e-desce” dos mercados mobiliários, que desceram abruptamente no dia do anúncio das tarifas de 50% para a União, mas que recuperaram rapidamente quando se soube do adiamento. Para o banco suíço, os investidores parecem ter assumido que a enormidade das tarifas não se confirma – tendo o caso chinês como suporte do seu otimismo – mas, por outro lado, parecem estar convencidos de que, no fim, tudo vai permanecer na mesma. E, diz a UBS, não vai. Até porque já nada está na mesma: há uma nova taxa de 10% imposta aos produtos que seguem para o mercado interno norte-americano, que apenas os mais distraídos podem considerar como uma espécie de ‘mal menor’. Como bem têm chamado a atenção os empresários (e não os investidores), os 10%, que quase passam despercebidos, são um forte constrangimento ao comércio multilateral.
A UBS admite que os cenários mais extremistas não se têm confirmado, mas aconselha vivamente que ninguém se convença de que tudo vai acabar bem: “as mais recentes intervenções do presidente Trump sublinham que os riscos persistem e que não é possível alcançar um resultado positivo nas discussões, nem ter nada dado como certo. A recente revogação das tarifas com a China suporta a nossa opinião de que a retórica enérgica dará provavelmente lugar ao pragmatismo. Somos também encorajados por vozes mais moderadas na administração, como é o caso do secretário do Tesouro, Scott Bessent, que tem vindo a desempenhar um papel mais proeminente”.
Uma aposta arriscada: 15%
“O nosso cenário base é que as tarifas efetivas dos Estados Unidos terminem o ano a rondar os 15%, com a possibilidade de tarifas adicionais específicas para cada produto. No entanto, com tais elevados níveis de incerteza política, vemos iguais probabilidades de que as tarifas sejam mais elevadas, dependendo do resultado das negociações com os principais parceiros e dos desafios legais à autoridade do presidente para impor tarifas gerais”, conclui o documento da UBS.
Entretanto, os analistas da economia (e não dos mercados) chamam a atenção para o facto de Donald Trump ter usado o termo ‘recomendação’ quando se referiu às tarifas de 50% para a União Europeia. Para eles, o uso de uma palavra que é estranha às declarações do presidente Trump pretendia dar a entender à União Europeia que o lado norte-americano está convencido de que negociações a mais são pura perda de tempo. Ou, dito de outra forma: a insistência da União nas tarifas ‘zero-por-zero’ é um mau ‘começo de conversa’. E os negociadores norte-americanos não se afastam da narrativa de princípio: a União Europeia existe para molestar a economia dos Estados Unidos. Um relatório do banco Barclays dizia na passada sexta-feira que a proposta de tarifas de 50% sobre a União “é principalmente uma tática de negociação” – querendo com isso dizer que elas nunca serão tão elevadas. Mas é exatamente contra este ‘otimismo’ que os ‘colegas’ da UBS se posicionam.
Pouco ligando à ‘sabedoria’ suíça, esta segunda-feira, os mercados internacionais começaram a semana digerindo as ‘recomendações’ de Donald Trump. E se a China, prudente, viu os seus mercados mobiliários internos (nomeadamente Hong Kong) registarem quedas – o CSI 300, que reúne as maiores empresas listadas em Xangai e Shenzhen, caiu 0,57%, enquanto o Hang Seng, de Hong Kong, recuou 1,35% – no resto da Ásia e na Europa, os mercados acordaram cheios de vitalidade. Na Ásia, o destaque positivo ficou com a Coreia do Sul, onde o índice Kospi avançou 2,02%, encerrando o dia no maior nível desde 24 de fevereiro. O Kosdaq, focado em empresas de menor capitalização, subiu 1,3%. No Japão, o Nikkei 225 ganhou 1% e o Topix conheceu uma alta de 0,6%. Na Europa, as bolsas abriram em alta: o índice europeu Stoxx 600 subia cerca de 1% logo após a abertura, com todos os setores no verde. O francês CAC 40 avançava 1,3% e o germânico DAX ganhava 1,8%.
Além disso, o dólar norte-americano abriu estável esta segunda-feira, com os investidores a aplaudirem o adiamento da implementação das tarifas de 50% sobre a União Europeia. A estabilidade manifestou-se ao longo do dia, mas a moeda nunca chegou ao pico registado no passado dia 12 de maio.
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