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CEO da Oitante: “Até ao final de 2025 esperamos alcançar uma distribuição de dividendos acumulada de 176 milhões”

A carteira atual da Oitante integra 354 imóveis, 107 milhões de euros em NPLs e quatro participações financeiras (117.9 milhões de euros), sendo duas em fundos de reestruturação e duas em fundos de capital de risco.
Oitante
Cristina Bernardo
1 Julho 2025, 07h00

Miguel Artiaga Barbosa, presidente da Oitante, em entrevista ao Jornal Económico, a propósito do Decisor da semana disse que revelou que até ao final de 2025 esperam alcançar uma distribuição de dividendos acumulada ao Fundo de Resolução de 176 milhões de euros. O gestor que assumiu o desafio de  gerir o veículo que ficou com os ativos problemáticos do Banif na sequência da resolução do banco, no final de 2015, e que é paralelamente membro do Conselho de Supervisão do Banco Itaú Europe, revela o percurso que levou a Oitante a ser um case study no universo dos veículos de gestão de ativos europeus.

A Oitante pode ser considerada um case study na gestão de ativos problemáticos em contexto de resolução bancária?

No final de 2015, aquando da criação da Oitante, e num contexto altamente desafiante, o Conselho de Administração definiu uma estratégia de desinvestimento para os ativos e passivos recebidos no âmbito da medida de resolução. A execução, definida no plano estratégico permitiu, até ao final de 2024, a geração de receita num montante ligeiramente superior a 1.300 milhões de euros. Este montante de receita permitiu à Oitante: suportar todos os custos inerentes ao processo de restruturação de uma entidade que iniciou a sua atividade com quadro de 512 colaboradores; amortizar antecipadamente em mais de três anos dos 746 milhões de euros de dívida garantida pelo Fundo de Resolução e contra garantida pela República Portuguesa; suportar os cerca de 65 milhões de euros de juros associados à sua dívida; suportar o pagamento de rescisões por mútuo acordo de cerca de 473 trabalhadores; suportar o pagamento de impostos sobre os resultados acumulados de 267,2 milhões de euros; e, por último, realizar a distribuição de dividendos que até à data atingiram o montante de 150 milhões de euros.

É nossa opinião que os resultados alcançados até à data pela Oitante qualificam-na como um case study.

Aliás, é de registar que somos únicos no contexto europeu, quando comparamos o grau de execução da Oitante com outros veículos de gestão de ativos tais como o NAMA na Irlanda, ou Sareb em Espanha, os resultados alcançados ressaltam.

Este percurso demonstra que através de uma gestão criteriosa e profissional, focada nos resultados, e uma estratégia disciplinada nos processos de desinvestimento, é possível minimizar o impacto financeiro de uma medida de resolução, particularmente para os participantes do sistema bancário (financiadores do Fundo de Resolução) e neste caso, também para os contribuintes.

Esperava, desde 22 de dezembro de 2015, conseguir atingir ou ultrapassar os objetivos? Antecipava dificuldades?

Sabíamos desde o primeiro dia que a missão que tínhamos pela frente seria muitíssimo exigente, algo que se veio a confirmar. A prioridade inicial foi realizar uma avaliação dos ativos e passivos recebidos, e dos riscos associados, que nos habilitasse a definir um plano estratégico de desinvestimento, tendo na altura contado com a ajuda inestimável dos meus colegas de conselho Paulo Boaventura, Sérgio Baptista e Tiago Carvalho Santos.

O plano desenvolvido contemplava três cenários (conservador, moderado e otimista) sendo que com o trabalho desenvolvido, assente num forte conceito de racionalidade económica, controlo interno robusto, independência e autonomia da gestão e estreita colaboração dos recursos humanos herdados e comissão de trabalhadores foi possível caminhar em direção ao cenário mais otimista.

O caminho foi sem dúvida exigente e com vários desafios, mas o empenho, lealdade e compromisso da equipa que tenho o privilégio de liderar contribui de forma critica para os resultados que temos alcançado.

A que atribui o sucesso da gestão da Oitante? Qual é a pedra de toque?

O sucesso da gestão da Oitante assenta na combinação de uma gestão orientada por critérios de maximização de valor e uma dedicação extrema dos seus colaboradores que interiorizaram o sentido de missão que uma empresa como a Oitante necessitava.

Diria aliás que essa foi a pedra de toque aliada a um plano estratégico de desinvestimento e um modelo de gestão de risco robusto.

A independência operacional, o profissionalismo da equipa e a consistência estratégica são peças chave da estratégia.

Quando é que a missão da Oitante fica concluída? Há um horizonte temporal?

A missão da Oitante estará formalmente concluída quando todos os ativos remanescentes forem alienados ou liquidados. No final de 2024, o ativo da Oitante ascendia a 142,7 milhões de euros. Entrámos numa fase avançada do processo, com um número reduzido de ativos em carteira, mas onde ainda há um trabalho final de maximização de valor que ainda precisa de ser concluído.

Temos como objetivo gerar uma distribuição de dividendos acumulada que permita ao Fundo de Resolução aproximar-se da contribuição de 489 milhões de euros, feita por este aquando da resolução da do Banif.

O Fundo de Resolução estima recuperar mais do que os 50 mil euros registados no balanço. Que retorno espera que ocorra?

A perspetiva do Fundo de Resolução é legítima. O valor contabilístico de 50 mil euros representa uma avaliação prudente, mas os fluxos de dividendos já recebidos de 150 milhões de euros e os que se perspetivam distribuir dos resultados de 2024, mais 13.1 milhões de euros que poderão chegar aos 26.2 milhões de euros demonstram que a participação assumiu um valor muito conservador.

O montante total de retorno dependerá do ritmo e do valor do desinvestimento dos ativos remanescentes, mas não surpreenderia que, no final do ciclo, o Fundo de Resolução venha a recuperar uma parte muito significativa dos custos iniciais da medida de resolução (489 milhões de euros).

Até ao final de 2025 esperamos alcançar uma distribuição de dividendos acumulada de 176 milhões de euros, ou seja, cerca de 36 % do custo da medida de resolução ficará coberto. São metas ambiciosas mas que continuaremos a trabalhar para as  alcançar.

Como são as relações da Oitante com o Fundo de Resolução e o presidente da sua comissão diretiva?

São relações institucionais, regulares e construtivas. O Fundo de Resolução é o nosso acionista único e acompanha a nossa atividade com rigor, mas também com confiança na equipa de gestão. Com o presidente da comissão diretiva, existe um diálogo técnico e estratégico muito fluido, baseado na transparência e no alinhamento de objetivos.

Quantos ativos tinham em carteira no final de 2024? Redução face a 2023? E entradas e vendas?

No final de 2024, na Oitante tínhamos cerca de 361 imóveis em carteira (grupo Oitante) com um justo valor de 21.1 milhões de euros, tendo registado uma redução de aproximadamente 43% do número de imóveis face ao ano anterior.

A carteira de crédito registava um valor facial de 101,3 milhões de euros e teve um decréscimo de 22% face ao ano de 2023.

Por último, um conjunto de outros ativos onde se incluem participações financeiras, fundos de private equity e fundos de restruturação com um justo valor de 117,9 milhões de euros.

Qual o valor nominal de crédito a clientes em 2024 e número de devedores?

A carteira de crédito ascendia a 101.3 milhões de euros, correspondentes a 798 contratos e 457 devedores. A grande maioria são empresas e garantes pessoais associados.

Proporção de crédito performing vs. incumprimento? Peso de devedores insolventes?

Do total de 101.3 milhões de euros de NPLs, apenas 4% (cerca de 3,9 milhões de euros) estão performing ou em reestruturação com expectativa de cumprimento. Cerca de 96% da carteira está em incumprimento, com 42% do valor justo associado a processos de insolvência. Apesar disso, 65% do valor recuperável tem garantias reais associadas.

Valor recuperado da carteira em 2024 e montante de write-offs?

Em 2024, foram recuperados 13,7 milhões de euros em liquidez da carteira de crédito e feita REO convertion no montante de 400 mil euros.

Os write-offs ascenderam a 11,3 milhões de euros em valor nominal, o que corresponde a cerca de 400 mil euros em termos contabilísticos.

A política de write-off continua a seguir critérios prudenciais, apenas em situações de esgotamento judicial.

A subida dos juros ajudou a atividade da Oitante?

O impacto da subida das taxas de juro foi misto. Os resultados financeiros beneficiaram parcialmente da melhoria das condições de mercado, com destaque para instrumentos de tesouraria como os certificados do Tesouro (CEDIC), que geraram 4,6 milhões de euros em resultado. Contudo, o aumento das taxas dificultou algumas operações de reestruturação de NPLs e penalizou os valores de venda no setor imobiliário.

Quantos ativos tem atualmente sob gestão a Oitante?

A carteira atual da Oitante integra 354 imóveis, 107 milhões de euros em NPLs e quatro participações financeiras (117.9 milhões de euros), sendo duas em fundos de reestruturação e duas em fundos de capital de risco.

 Em 2025 vai continuar o esforço de desinvestimento nas participações financeiras e fundos de reestruturação?

Sim, é nossa intenção continuar o desinvestimento seletivo e disciplinado das participações que temos em carteira, nomeadamente nos fundos de private equity e nos fundos imobiliários resultantes de fundos de restruturação anteriormente geridos pela ECS. A estratégia passa ainda por aproveitar todas as oportunidades do mercado, maximizando o valor de saída, em articulação com os demais participantes.

Qual a perspetiva sobre a participação nos dois fundos de reestruturação? E os objetivos nas novas participações?

Após a alienação da participação no fundo da ECS, restam-nos ainda participações residuais geridas pela ECS, pequenas participações em fundos de private equity e uma participação relevante no fundo de restruturação Discovery.

A nossa expectativa é conseguir a monetização dessa posição até à maturidade do fundo, ou seja entre 2028 e 2032, sendo que estamos sempre atentos a potencias alternativas de monetização que tragam valor para o acionista.

Não temos qualquer objetivo de investimento novo — apenas a gestão e valorização de ativos já herdados.

Pessoalmente, há alguma citação em que se reveja ou que o inspira? Qual?

Há uma frase que me tem acompanhado e que tive de utilizar em algumas reuniões nos últimos anos:

“An optimist sees the opportunity in every difficulty, a pessimist sees the difficulty in every opportunity”, Winston Churchill

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