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Carlos Tavares: “A União Europeia não tem neste momento um destino político”

Carlos Tavares, talvez o mais internacional dos gestores portugueses – que agora exporta Vinho do Porto – acredita que as exportações portuguesas podem chegar aos 60% do PIB. Mas não, com certeza, com uma aposta única na União Europeia. Nem pela ‘monocultura’ do turismo.
30 Junho 2025, 16h51

É a tempestade perfeita: “com os Estados Unidos a evoluírem para uma lógica meramente transacional” e “a União Europeia sem um destino político” que possa ser identificado, a única saída para as exporta é aumentar o seu espectro, disse Carlos Tavares (ex-CEO da Stellantis) no âmbito da 2.ª edição da Conferência Portugal Export +60’30 – um projeto da Associação Empresarial de Portugal (AEP). Diversificar é também a palavra de ordem face àquilo que parece ser uma aproximação perigosa à ‘monocultura’ do turismo: “o turismo não é mau”, mas não pode evoluir em contraste com o resto – ou dito de outra forma: a indústria tem de aumentar o seu peso relativo na formação do PIB, sem que se ‘estrague’ aquilo que já foi conseguido na frente do turismo.

Para Carlos Tavares, um dos segredos é “pedir aos nossos governantes que metam menos travões”, ou seja, que ‘dinamite’ a burocracia – que, contou, lhe prejudica fortemente a sua mais recente ‘aventura’ empresarial: a exportação de Vinho do Porto (no caso, para a China). Regulamentação é o outro problema: “é uma doença muito grave”, afirmou, para tomar o caso da Inteligência Artificial, que a União Europeia fundamentalmente desconhece, mas que já está a legislar.

Cerca de 50 anos depois de viver fora do país, Carlos Tavares ganhou, agora que regressou, que “Portugal é um país quase” – sendo essa a ideia que foi criada no estrangeiro: está quase a chegar lá, mas acaba sempre por não chegar. “Impor mais rigor e mais exigência” por parte do empresariado é a única forma de sair desta espiral negativa.

De qualquer modo, disse Carlos Tavares – que coloca a hipótese, mais que não seja académica – da desintegração da União Europeia – o objetivo de a economia nacional atingir, com as exportações, os 60% do PIB é possível, “mas não podemos ser ingénuos”. E regressou à Europa: “temos de ter uma palete de clientes diversificada”, que esteja de algum modo à margem de uma potência que não o é (a EU) e de outra com uma lógica esquisita (os EUA). A China? Os países da mesma dimensão? “O nosso ADN tem uma capacidade de adaptação superior”, nomeadamente quando os empresários vão mais além das porteiras do conforto. “Temos de encontrar a diversificação dos nossos clientes”, insistiu – para lembrar que a atuação dos EUA “está a atirar o resto do mundo para os braços da China”. Não temos de ir por aí, afirmou, mas com certeza que também teremos de ir por aí.

Com “o PIB demasiado concentrado no consumo”, a ambição de serem as exportações a responderem por 60% do produto “é uma ambição com mais de 30 anos da AEP”, disse o presidente do conselho de administração daquele organismo na abertura da conferência. Com aquele indicador a rondar já os 50% do PIB (na verdade 46,5%), a previsão de aumentar 10 pontos percentuais em cinco anos não parecia ser um horizonte demasiado longínquo. O problema é que a envolvente mudou: tarifas, problemas de abastecimento e de manutenção das cadeias de abastecimento são apenas dois dos novos problemas, disse Luís Miguel Ribeiro, que se acrescentaram aos não poucos desafios que já antes se verificavam.

Já o presidente do Novobanco, que curiosamente se chama Luís Miguel Ribeiro, chamou a atenção para o facto de o “PIB per capita estar a 82% da média da União Europeia”; ora, num quadro onde a envolvente “é cada vez mais desafiante”. Sendo certo que este ‘gap’ em termos de produto se verifica há mais de dez anos, os desafios redobram – com vista a o país atingir 60% de exportações no PIB nacional até 2030. Ponto prévio: em 2000, o PIB per capita em paridade do poder de compra era de 85% da média europeia – ou seja, 24 anos depois, o crescimento da economia portuguesa ‘arrefeceu’ a pontos de perder mais três pontos percentuais.

Ambos afirmaram que, apesar de 64% do valor acrescentado ser da responsabilidade das pequenas e médias empresas (PME), o certo é que a economia portuguesa continua a ser enormemente deficitária em termos de grandes empresas. Luís Miguel Ribeiro, o do Novobanco, afirmou que “não consigo lembrar-me de uma empresa portuguesa que possa ser nomeada para demonstrar” a grandeza da economia nacional – ao contrário do que sucede” com a sueca IKEA ou com as dinamarquesas Maersk e Lego. “Temos o CR7, que é uma excelente marca”, mas não chega.

Para o país atingir os 60% do PIB, os ‘remédios’ são conhecidos: o aumento do valor acrescentado das exportações – nomeadamente de alta tecnologia; o alargamento da base exportadoras (ou seja, do número de empresas nacionais que exportam); a diversificação dos mercados (80% das exportações seguem apenas para os primeiros 15 mercados);

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