[weglot_switcher]

Vinho prevê vendas para os EUA abaixo de 100 milhões com tarifas de Trump

Depois de ter superado os 100 milhões exportados para os EUA em 2023 e 2024, o sector dos vinhos duvida agora que esse número volte a ser atingido este ano, com as tarifas a agravarem o risco de uma vindima “ainda mais dramática do que no ano passado”, diz o presidente da ANCEVE.
DR: David Kohler/Unsplash
16 Julho 2025, 07h00

As tarifas dos EUA sobre bens europeus arriscam agravar ainda mais a vindima deste ano, que já está penalizada pelo baixo preço a que as uvas vinham sendo vendidas e pelas alterações nos padrões globais de consumo, com uma tendência decrescente para as bebidas alcoólicas. Neste contexto, o presidente da Associação Nacional dos Comerciantes e Exportadores de Vinhos e Bebidas Espirituosas (ANCEVE) descreve a situação como dramática.

Após ter assegurado os 102 milhões de euros em exportações para os EUA em 2024, tornando-se o segundo maior mercado internacional, a seguir a França, o setor dos vinhos portugueses teme que os resultados deste ano fiquem aquém dessa barreira psicológica. A combinação do baixo preço pago aos produtores e a diminuição do consumo de vinho a nível mundial está a agravar a situação.

“Há vários fatores que se estão a conjugar, infelizmente, para esta tempestade perfeita de que venho a falar. Nós já tivemos uma vindima muito difícil no ano passado […] e tudo parece indicar que a vindima deste ano ainda vai ser mais dramática”, ilustra o presidente da ANCEVE. O consumo de vinho global está a cair, o que torna o cenário ainda mais complicado.

O setor já enfrentava desafios, com muitos produtores optando por não colher as suas uvas na campanha de 2024, receando que não conseguiriam preços de venda que cobrissem os custos. A ANCEVE já havia classificado a vindima do ano passado como “uma viragem negra” na história vinícola portuguesa, e as barreiras impostas por Trump podem agravar esse paradigma.

Ainda assim, as exportações mantiveram-se estáveis no primeiro trimestre. Dados do INE mostram que, até março deste ano, as exportações do setor totalizaram 217,4 milhões de euros, em linha com os 214,5 milhões registados no mesmo período do ano anterior. As exportações para os EUA também se mantiveram praticamente iguais, com 23,9 milhões de euros importados de Portugal no primeiro trimestre de 2024, em comparação com 23,7 milhões em 2023.

No entanto, as vendas ao exterior já perderam fôlego, e o impacto é principalmente dos EUA. Os dados mais recentes indicam que as exportações totalizaram 377,5 milhões de euros nos primeiros cinco meses do ano, quase quatro milhões a menos do que os 381,2 milhões registados no mesmo período de 2024. Focando apenas no mercado norte-americano, a diferença é evidente entre os 42,7 milhões exportados até maio de 2024 e os 38,7 milhões verificados nos primeiros cinco meses deste ano.

Esses números refletem as preocupações de Paulo Amorim, que observa que “perante a incerteza, paramos e bloqueamos”. Segundo ele, os importadores e distribuidores americanos começaram a travar as importações logo no primeiro trimestre deste ano, à espera de maior definição, causando prejuízos significativos tanto para os países europeus quanto para os importadores e distribuidores americanos.

O ano passado fechou com quase mil milhões de euros em vinho exportado — mais precisamente, 965,5 milhões —, mas esse valor agora parece uma miragem. Embora fatores como a desvalorização do dólar em relação ao euro possam oferecer algum alívio, o objetivo de continuar a expandir a componente externa do setor está claramente em risco, reconhece o presidente da ANCEVE.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.