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Lagarde reconhece que tarifas dos EUA podem agravar ou aliviar inflação

Apesar das notícias de um acordo comercial com os EUA próximo, a presidente do BCE reforçou que o banco trabalha apenas com cenários oficiais e confirmados, mas admitiu que a imposição de tarifas pode ter efeitos opostos que terão de ser avaliados no detalhe.
24 Julho 2025, 14h54

O Banco Central Europeu (BCE) está “numa boa posição” no atual nível de 2% de juros diretores, mas, perante a incerteza – sobretudo tarifária –, todos os cenários estarão na mesa daqui para a frente, incluindo o de novas subidas caso surjam novas pressões inflacionistas, admitiu a presidente Christine Lagarde. A economia surpreendeu pela positiva no primeiro trimestre, embora boa parte desta dinâmica tenha sido motivada por uma antecipação de encomendas, pelo que os riscos até final do ano são em sentido negativo.

A taxa de referência para a zona euro manteve-se em 2%, o nível mais baixo desde novembro de 2022 e o resultado de oito descidas dos juros desde o pico de 4,5% no final de 2023 até maio do ano passado. Agora, com a inflação alinhada com este valor, que corresponde também ao objetivo de médio prazo do BCE, a opção foi por uma pausa.

“Estamos numa boa posição, porque a inflação está a 2% – mas não estamos focados em leituras pontuais”, afirmou Lagarde, que reconheceu que se pode “dizer que estamos numa pausa, numa situação de ‘esperar para ver’”.

Esta evolução do indicador de preços deveu-se, em parte, a uma normalização da situação no mercado laboral, com um abrandamento do crescimento salarial, e pela mitigação da subida dos preços para os consumidores via menores lucros, apontou a presidente do BCE. Quanto ao risco de a inflação regressar a valores abaixo de 2%, Lagarde não atribuiu demasiada importância, lembrando que as previsões do próprio banco central admitem esse cenário.

“Não vamos ser condicionados por um qualquer pequeno desvio”, reforçou.

Por outro lado, as tarifas criam não só uma incerteza que “fazem as empresas mais relutantes em investir”, mas também terão efeitos na economia real e, sobretudo, nos preços caso avancem. Ainda assim, o BCE não consegue ainda determinar se estes efeitos agravarão ou diminuir a inflação.

Por um lado, não há ainda notícias concretas e oficiais quanto a qualquer acordo comercial com os EUA, pelo que o BCE “trabalha com o seu cenário base”. Por outro, há efeitos indiretos que terão de ser avaliados: haverá países terceiros a redirecionar fluxos comerciais para a Europa com desconto, o que terá um efeito desinflacionário, ao passo que fricções e entupimentos nas cadeias de abastecimento globais agravariam preços.

“Quanto mais cedo esta incerteza comercial for resolvida, menos incerteza teremos de incorporar. Isso seria bem-recebido pela maioria dos agentes económicos, incluindo nós”, afirmou. Contudo, e dada a incerteza, as mexidas seguintes nos juros estão em aberto.

“Não excluiria nada, certamente”, rematou Lagarde quando questionada sobre possíveis subidas no próximo ano.

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