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Presidente da Antral entende que transição energética da frota é impossível

Florêncio de Almeida, presidente da Antral, critica as medidas do atual Governo para efetuar a transição energética das frotas de veículos. No seu entender, as metas lançadas pelo Executivo para os carros híbridos e elétricos nos táxis são impossíveis de alcançar e os benefícios fiscais para a aquisição deste tipod e viaturas estão desadequados.
Cristina Bernardo
2 Maio 2019, 07h40

Florêncio de Almeida, presidente da Antral, critica as medidas do atual Governo para efetuar a transição energética das frotas de veículos. No seu entender, as metas lançadas pelo Executivo para os carros híbridos e elétricos  nos táxis são impossíveis de alcançar e os benefícios fiscais para a aquisição deste tipo de viaturas estão desadequados.

 

Como está ser feita a transição energética no setor do táxi?

Já vão aparecendo alguns híbridos. Mas como é que é possível ter um carro híbrido ou a gasolina e não ter absolutamente nenhum benefício? Isto é contribuir para a modernização da frota? Dizem agora que dão cinco mil euros de desconto para quem quiser mudar de viatura para carros eléctricos, mas se eu tiver 50 táxis só tenho a direito a comprar um. Então mas eu que tenho mil táxis, tenho tantos direitos como o senhor que só tem um?

E a electricidade, eu posso deduzir? Não, tem de se pedir ao Ministério das Finanças para que isso seja alterado. Porque, se eu deduzo IVA no gasóleo, por que motivo não posso deduzir a gasolina, a electricidade? É assim que o governo quer promover a transição para energias alternativas? Não é assim. Tem de haver benefícios fiscais. Se tiver apenas o benefício de cinco mil euros na compra de um eléctrico, em dois ou três anos já gastei muito mais na dedução do IVA que perdi. Desta forma, não vale a pena.

Mas a ineficácia da legislação nesta transição é um obstáculo colocado pelo Ministério das Finanças ou do Ambiente?

Ministério das Finanças.

Qual é a solução?

As Finanças não mandam no país. Há um Governo e há um primeiro-ministro que manda. Por exemplo, nós só podíamos substituir os carros de cinco em cinco anos. A partir de dia 1 de janeiro deste ano, passou para quatro anos. Andamos há uma quantidade de anos a lutar contra isto. Mas encontrámos agora um secretário de Estado dos Assuntos Fiscais sensível a isto. Antigamente, eu comprava um Mercedes que durava sete, dez ou doze anos, mas hoje já não se compram. Hoje, compram-se carros descartáveis, que ao fim de quatro anos já estão todos partidos e é para deitar fora.

Mais: a maioria dos industriais de táxi não tem garagem. E o táxi não tem local prioritário de estacionamento. O que há é um local de paragem para apanhar e deixar o passageiro, mas não pode deixar aí o carro, senão a polícia chega lá e autua. Por outro lado, onde poderia carregar o táxi? Há postos de abastecimento nas ruas, mas não há nenhum livre para táxis.

Então vai ser possível o Governo cumprir as metas de transição energética no setor do táxi?

Não é possível.

E o que é que a Antral está a fazer para mudar as coisas?

Ainda há bem pouco tempo pedimos à Câmara Municipal de Lisboa que nos cedessem espaços para montar ilhas de carregamento para táxis e deram-nos umas onze lojas grandes lá para a zona do Alto do Lumiar para se montar os postos. Mas sentimos que não há vontade política. E a renda é insuportável.

Para quem queira explorar esta indústria e queira ganhar alguma coisa não é possível com um eléctrico. Para o ano vai aparecer, parece-me, um Skoda com mil quilómetros de autonomia –  isso aí, sim. Assim vale a pena.

Toda esta questão também está também dependente da evolução da tecnologia da própria indústria automóvel…

Naturalmente. Aliás, na Alemanha, já há experiências com carros a gasóleo que poluem zero. Não é como o senhor ministro disse [referência à recente entrevista do ministro do Ambiente, João Pedro Matos Fernandes, ao jornal ‘Público’.

Já que estamos a falar do Governo, o que é que acha que este devia fazer para dar mais apoio ao setor do táxi?

Como português entendo que qualquer negócio e indústria não pode viver de subsídios. Os subsídios custam dinheiro a todos os portugueses. Para rentabilizar a minha indústria não posso estar à espera, que os portugueses estejam a pagar impostos para eu me subsidiar. Sou contra os subsídios. Têm é de criar condições para que as indústrias de outros comércios possam desenvolver-se e naturalmente ter a sua rentabilidade. No nosso caso em específico retiraram-nos as expetativas do setor. Quem investiu no setor do táxi, investiu com uma certa perspetiva, porque havia uma legislação e igualmente uma garantia, de que eu ao investir neste setor iria ter proteção. O Governo quebrou essa garantia.

Mas está a falar de que Governo?

Quem quebrou foi este, mas isto já vem desde o anterior. Foi este Governo que legalizou (plataformas digitais, como a Uber], os outros permitiram naturalmente. Cabe agora ao Governo ajudar a promover e a melhorar o serviço do táxi, para que consigamos readquirir aquilo que perdemos.

 

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