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Instabilidade política é o maior risco para o investimento

Estudo da EY sobre atratividade da economia portuguesa também aponta a fiscalidade como uma desvantagem. Investidores estrangeiros querem redução e simplificação da tributação.
Luis Viegas
27 Setembro 2025, 10h30

O maior travão identificado à atratividade de Portugal para o investimento direto estrangeiro (IDE) é a instabilidade política. É apontada por 30% dos investidores inquiridos no estudo deste ano da consultora EY, nove pontos acima do registado na média europeia.

A discrepância é clara: enquanto fora de portas se apontam sobretudo “as tensões geopolíticas e conflitos” como o maior risco (35%), em Portugal a preocupação centra-se no plano interno, refletindo transições governativas, investigações judiciais e incerteza regulatória. A recomendação para se ultrapassar esta preocupação é a insistência na previsibilidade política e estabilidade regulatória.

Em 2024, o número de projetos de IDE até cresceu, mas o investimento médio por projeto caiu 15%.

“Os investidores valorizam previsibilidade e eficiência, apontando como essenciais a simplificação de processos, a transparência regulatória e a consistência das políticas públicas”, diz ao JE Hermano Rodrigues, diretor da EY Parthenon. “A digitalização da administração e a redução da burocracia são vistas como passos centrais para reforçar a confiança e atrair projetos de maior valor”, acrescenta.

Ainda assim, Portugal mantém fatores distintivos face à média europeia, com 44% dos investidores apontarem a qualidade das infraestruturas — telecomunicações, transportes e sobretudo energia renovável — como a maior vantagem relativa, contra 29% na média da União Europeia (UE). A força laboral surge logo a seguir: 33% em Portugal contra 22% na UE, destacando-se as competências digitais, linguísticas e capacidade de adaptação. Em terceiro lugar, a qualidade de vida, segurança e diversidade cultural, com 31%, 10 pontos percentuais acima da média europeia.
“Portugal tem sido e continua a ser um destino atrativo de investimento estrangeiro devido à localização estratégica, talento qualificado, apoio à inovação e compromisso com a sustentabilidade”, diz Jacinto Antunes, da Air Liquide.

A atratividade também se reforça pela origem dos fluxos, com 34% dos projetos de 2024 a chegarem de fora da Europa, sobretudo Estados Unidos da América e do Brasil, contra 27% em 2022. Lisboa mantém peso dominante, com 90 projetos em 2024, mas regiões como o Centro (34 projetos) e o Alentejo (12% das preferências em 2025) mostram sinais de diversificação.

Nas desvantagens, a nota mais crítica vai para a fiscalidade. Mais de um terço (36%) dos investidores defendem que Portugal deve concentrar esforços na redução e simplificação da tributação, contra apenas 20% na UE. Nos últimos três anos, 36% consideraram que a fiscalidade nacional reduziu a atratividade, contra 29% que viram melhorias.

“A redução e simplificação da fiscalidade em Portugal é fundamental para potenciar a atratividade do país”, aponta Hermano Rodrigues, mas acrescenta que há outros fatores considerados importantes.

Também o acesso a capital é apontado como uma fragilidade: 34% dos investidores exigem melhor financiamento empresarial, face a 31% no espaço europeu. “Portugal precisa de mobilizar investimento em setores estratégicos e de garantir condições financeiras estáveis, sob pena de perder terreno na corrida europeia”, diz Gonçalo Regalado, do Banco Português de Fomento.

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