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Altri reporta queda de 86% no lucro para os 12,4 milhões de euros

A quebra é justificada pela Altri “pelas variações cambiais e pelas tarifas bem como do incidente da turbina da Celbi (arranque no final de março), e pelo ramp-up da fibra solúvel na Biotek”.
20 Novembro 2025, 17h33

A Altri apresentou um lucro líquido de 12,4 milhões de euros, nos primeiros nove meses do ano (até setembro), uma quebra face aos 89,6 milhões de euros do período homólogo, o equivalente a um decréscimo de 86,2%. Esta quebra é justificada pela empresa “pelas variações cambiais e pelas tarifas bem como do incidente da turbina da Celbi (arranque no final de março), e pelo ramp-up da fibra solúvel na Biotek”.

As receitas do grupo fixaram-se em 537,7 milhões de euros nos primeiros nove meses deste ano, menos 19,7% face ano anterior.

“Este decréscimo é atribuível a uma evolução menos favorável dos preços das fibras hardwood assim como volumes vendidos inferiores, como consequência de um ambiente global menos favorável para o setor”, justifica o grupo.

“Os custos totais reduziram-se 4,5% para 467,7 milhões de euros neste período comparando com o homólogo de 2024. O Lucro Antes de Juros, Impostos, Depreciação e Amortização (EBITDA) situou-se em 69,3 milhões de euros, valor que representa uma quebra de 61,5% face aos primeiros nove meses de 2024, correspondendo a uma margem EBITDA de 12,9%”, salienta a organização.

“Este decréscimo [no EBITDA] é decorrente de condições de mercado menos favoráveis com impacto em preços, ampliada pela evolução bastante desfavorável do dólar”, explica a empresa.

Até setembro o volume de produção de fibras celulósicas atingiu as 810,7 mil toneladas, ficando em linha com o ano anterior. “O volume total de vendas de fibras até ao final de setembro foi de 805,5 mil toneladas, ou seja 2,7% inferior ao período homólogo e em linha com o nível de fibras produzidas no período”, referiu o grupo.

“As paragens programadas da Biotek e da Caima ocorreram durante o segundo trimestre de 2025 como planeado, com impacto mais notório de reduções de volumes produzidos no segmento de fibra solúvel. O Grupo mantém a política de otimização dos stocks de produtos acabados, ajustando os níveis de produção às estimativas de vendas, tendo também em conta as paragens programadas”, confirmou a organização.

A Altri confirmou também que “continua a desenvolver” vários projetos de diversificação e crescimento alinhados com o seu plano estratégico, onde se inclui a “recuperação e valorização do ácido acético e furfural de base renovável na Caima, a migração da produção da Biotek para fibra solúvel e o projeto Gama, na Galiza”.

É ainda destacada a aquisição da Greenalia Forest, empresas do setor florestal galego, e da Greenalia Logistics, o que permite “consolidar a presença” do Grupo na Galiza, enquanto que a compra da AeoniQ, que foi concretizada no último trimestre, “vem reforçar a estratégia de desenvolver projetos na área de têxteis sustentáveis de alto valor acrescentado e baixo” impacto ambiental.

A Altri diz ainda que em termos de uso final, o Tissue “continua a ser o principal destino” para as fibras celulósicas produzidas pelo Grupo, com um peso no total de volume de vendas de fibras de 47% até setembro. “Com o aumento da produção de Fibra Solúvel (DP) na Biotek, deveremos continuar a ver uma tendência de crescimento deste segmento no peso total dos volumes vendidos, sendo que o enfoque atual da Biotek está na qualificação de DP em múltiplos clientes. Em termos regionais, a Europa (incluindo Portugal) é responsável por 57% das vendas, seguida pelo Médio Oriente e Norte de África com 29%, sendo a Turquia o principal destino neste segmento geográfico”, salienta a empresa.

“O ano de 2025 tem vindo a demonstrar a capacidade e resiliência da Altri num contexto muito adverso, com disrupções provocadas pela política americana de imposição de tarifas e que concorrem ativamente para a pressão em baixa no preço das fibras celulósicas, bem como uma depreciação significativa do dólar. No terceiro trimestre, o preço médio por tonelada de fibras BHKP atingiu 884 euros, o valor mais baixo dos últimos sete trimestres”, salientou o CEO da Altri, José Soares de Pina.

O CEO da empresa acrescentou que neste contexto o grupo “continuou a entregar” resultados operacionais positivos, tendo vindo a “implementar uma rigorosa política” de controlo de custos, sendo este o segundo ano consecutivo em que o cash-cost (custo do dinheiro na tradução portuguesa) apresenta uma tendência de descida.

“A estabilização da política de tarifas americanas, sobretudo relativamente à China, antecipa melhores perspetivas para os próximos trimestres. A Altri continua focada em entregar elevados níveis de eficiência. A nossa produção de fibras no acumulado do ano manteve-se em 810 mil toneladas, em linha com o período homólogo do ano passado. O Grupo mantém uma gestão ativa dos seus stocks, considerando a realidade do mercado”, refere José Soares de Pina.

“Ao mesmo tempo que mantemos o foco na gestão eficiente do nosso parque florestal e industrial, continuamos a implementar os projetos anunciados. O projeto de recuperação e valorização de ácido acético e furfural de base renovável na Caima deverá estar concluído no primeiro semestre do próximo ano. Também a conversão de fibras papeleiras (BHKP) para Fibras Solúveis na nossa unidade de Vila Velha de Ródão, a Biotek, continua em implementação ativa, de acordo com o plano previamente anunciado”, sublinha o CEO da organização.

“Ainda enquadrada na nossa estratégia expansão de portfolio, concretizamos, neste trimestre, a aquisição da maioria do capital da AeoniQ, empresa detentora de tecnologia e propriedade intelectual únicas no filamento têxtil de base celulósica”, salienta o CEO.

José Soares de Pina adiantou também que o investimento da Altri “irá incluir” o desenvolvimento de uma unidade industrial nas instalações da Caima. “O projeto Gama, na Galiza, continua na sua tramitação ambiental e obtenção de licenciamento, tendo obtido em outubro o selo STEP pela Agência Europeia de Clima, Infraestruturas e Meio Ambiente (CINEA). Este selo STEP – Plataforma de Tecnologias Estratégicas para a Europa valida o propósito do projeto na descarbonização da economia e reconhece o Gama como estratégico para melhorar a competitividade industrial da Europa, em linha com o Pacto Industrial Limpo”, referiu José Soares de Pina.

“Num contexto desafiante, a Altri e todos os seus colaboradores continuam firmes no seu propósito de construir um mundo mais renovável. Já em outubro, a Altri foi distinguida como uma Top-Rated Company na categoria ESG Industry – Paper & Forestry, na classificação de risco ESG a nível global neste setor. Com a sua melhor pontuação de sempre, 11,1 no ESG Risk Rating da Morningstar Sustainalytics, a Altri reforça o estatuto de Empresa de Baixo Risco ESG, consolidando a sua posição como investimento seguro”, acrescentou o CEO da empresa.

O grupo acrescentou que apesar de ser um dos produtores de fibras mais eficientes na Europa apresentou uma “rentabilidade operacional abaixo dos níveis históricos”, sublinhando que neste “contexto pouco favorável tem levado a ajustamentos do lado da oferta no setor, restabelecendo algum equilíbrio de procura e oferta”.

A Altri adianta que com um aumento global da procura de fibras, já durante o quarto trimestre, “tem assistido a uma recuperação ligeira dos preços de fibras, depois de atingir mínimos durante o terceiro trimestre deste ano”, o que permite “antecipar uma melhoria de rentabilidade” para o grupo no último trimestre do ano.

“O segmento da fibras solúveis (DP) foi afetado, especialmente na primeira metade do ano de 2025, pela expectativa do impacto das novas políticas norte-americanas, designadamente na importação de bens têxteis da Ásia para os Estados Unidos. Essa expectativa levou a um decréscimo dos níveis de procura global de DP e de níveis de preços durante o primeiro semestre de 2025. A situação estabilizou no terceiro trimestre, tendo-se assistido a uma recuperação da procura e a uma estabilização dos preços de DP que se espera que se mantenha para o quarto trimestre de 2025”, salienta o grupo empresarial.

Investimento subiu até setembro

O investimento líquido total realizado pelo grupo até setembro ficou em 39,2 milhões de euros, uma subida face aos 24,5 milhões de euros do ano anterior.

A dívida líquida do Grupo ficou em 346,5 milhões de euros até setembro.

“Esta evolução é devida, essencialmente, a um aumento já expectável no nível de investimento relacionado com os vários projetos de diversificação (migração para DP na Biotek, bio produção de ácido acético e furfural e a aquisição da AeoniQ). Este nível de dívida equivale a um rácio de Dívida Líquida/EBITDA LTM de 3,2x”, explica o grupo.

Relativamente ao mercado de fibras celulósicas o grupo sublinha que a procura global de pasta até setembro teve um aumento de 5,8% face ao período homólogo, “sendo que a evolução da procura por pasta Hardwood cresceu cerca de 8,8%, tendo por base o PPPC (World Chemical Market Pulp Global 100 Report – September 2025).

“Em termos regionais, e focando-nos no mercado de pasta Hardwood, o mais relevante para o Grupo Altri, destacamos positivamente a China (+13,4%), Resto da Ásia/África (+18,1%) e Europa de Leste (+8,0%). A Europa Ocidental, depois de um crescimento de dois dígitos em 2024, apresentou uma redução de cerca de 2,6% nos primeiros nove meses de 2025, face ao mesmo período em 2024″, salienta o grupo empresarial.

“Um dos fatores relevantes para avaliar o equilíbrio da procura e oferta de pasta no mercado europeu é o nível de stock nos portos europeus. Após uma normalização das cadeias de valor na indústria de pasta e papel durante o ano de 2024, temos assistido a uma estabilização dos níveis de inventários em linha com as médias históricas, entre 1,4 e 1,5 milhões de toneladas, desde o verão de 2024″, acrescenta a Altri.

Quanto à procura global de fibra solúvel (DP) registou-se uma descida de 1,2% até setembro, face ao ano anterior, de acordo com a Numera Analytics (Global DP Demand Report – August 2025), salientou o grupo.

“Esta evolução representa uma recuperação face ao primeiro semestre de 2025, período com maior impacto negativo de toda a situação económica relacionada com a implementação de tarifas dos Estados Unidos. Relembramos que a DP é direcionada essencialmente para o têxtil e usada principalmente na Ásia, região que absorve cerca de 85% da procura”, explica o grupo.

“O nível de preços da DP durante o ano de 2024 apresentou uma volatilidade reduzida, tendo atingido no final do ano o nível de preços da DP mais elevado desde o quarto trimestre de 20224. Esta evolução foi uma consequência das elevadas taxas de utilização operacional dos produtores de viscose e lyocell, levando a um acréscimo de procura por DP, a sua principal matéria-prima”, diz o grupo.

A Altri sublinha que desde o início de 2025, assistiu a um “arrefecimento” desta procura, “em antecipação do impacto das políticas comerciais norte-americanas” no setor têxtil asiático.

“O anúncio de tarifas em 2025 por parte dos Estados Unidos, relativamente a vários países asiáticos com relevância no mercado global têxtil tem afetado os níveis de atividade têxtil da região. Depois de uma descida de 15% em relação ao período homólogo e 5% em relação ao trimestre anterior a tendência que assistimos no terceiro trimestre foi de estabilização do nível de preços da pasta DP um pouco acima dos 800 dólares/tonelada. (preço líquido – sem descontos- praticado na China)”, explica o grupo.

Altri divulga perspetivas

O grupo sublinha que a reativação dos níveis de procura no mercado global de fibras sentidos no início de ano de 2025 “foi interrompida” pelos anúncios dos Estados Unidos de, a partir de abril, estabelecer tarifas a grande parte das importações, com um “impacto relevante” na região asiática/China. “Este fator foi central no aumento da incerteza económica a partir do segundo trimestre de 2025, levando a um abrandamento da procura global de fibras. Com as medidas e tarifas a aplicar pelos Estados Unidos a estabilizarem, começámos a ver algum dinamismo na procura do mercado global de fibras, protagonizado pela Ásia e em particular pela China”, refere a Altri.

“A consequência desta incerteza levou os preços das fibras BHKP (Hardwood) na China e na Europa a descerem para mínimos recentes no segundo trimestre deste ano, depois de alguma recuperação no início de 2025. Com alguma reativação da procura na Ásia e sendo que os preços de fibras na China estão perto do custo marginal, começámos a sentir alguma recuperação nos preços, apesar de i) uma evolução lenta dos preços globais de papel; ii) acréscimos de capacidade de fibra local na China; e iii) um aumento de disponibilidade de madeira local na China, que tem levado a descidas pontuais dos custos marginais”, diz o grupo.

O grupo diz acreditar que este último fator “possa ser mais pontual” como consequência do abrandamento do setor imobiliário na China. “Mantemos um otimismo moderado de recuperação dos níveis de preços para os próximos trimestres uma vez que a pressão sentida no setor poderá levar a ajustamentos do lado da oferta”, revela a Altri.

“Mantemos o foco na otimização dos principais custos em 2025. Dado os níveis elevados de excelência operacional e melhoria contínua, conseguimos novamente uma evolução favorável dos custos variáveis durante o terceiro trimestre deste ano”, refere a organização.

Abordando a diversificação do grupo a Altri adianta que o projeto de migração total de produção de fibra papeleira (BHKP) para fibra solúvel (DP) “continua a decorrer” na Biotek, com conclusão prevista para o final de 2026.

“Adicionalmente, o projeto de recuperação e valorização de ácido acético e furfural de base renovável, na Caima, deverá ser concluído na primeira metade de 2026, possibilitando a venda de um novo produto de alto valor acrescentado”, diz o grupo.

“Ainda na frente de diversificação, começámos a avançar com o projeto da AeoniQ na área de têxteis sustentáveis de alto valor acrescentado e baixo impacto ambiental. A construção de uma unidade industrial na Caima, será crucial para acelerar os protótipos, parcerias com marcas e coleções cápsula destas fibras têxteis inovadoras”, conclui o grupo empresarial.


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