O deputado da Iniciativa Liberal Rodrigo Saraiva acusou esta terça-feira o executivo português de hipocrisia por ter celebrado acordos com um governo “autoritário e eleito através de um sufrágio comprovadamente fraudulento” na cimeira Portugal-Moçambique.
“Hoje e amanhã o Estado português veste o manto da hipocrisia. Alguns dirão que é mera ‘real politik’, mas a realização da cimeira Portugal – Moçambique, com a celebração de vários acordos e memorandos de entendimento com um “governo” autoritário e eleito através de um sufrágio comprovadamente fraudulento, ultrapassa a Política (com P maiúsculo) e atropela os valores constitucionais e a dignidade humana”, escreveu o deputado liberal nas redes sociais.
Em declarações à agência Lusa, Rodrigo Saraiva, que é o primeiro subscritor do projeto de resolução que pediu ao Governo para não reconhecer os resultados eleitorais em Moçambique, realçou que a IL não nega que os Estados tenham relações independentemente dos regimes poderem ser mais ou menos democráticos.
“Outra coisa são cimeiras com uma densidade como esta, com a aprovação de inúmeros acordos e memorandos de entendimento, e também toda uma vertente de honras de Estado, umas que aconteceram e outras que estavam a ser preparadas”, explicou.
Rodrigo Saraiva salientou que esteve para ser organizado um jantar em honra do Presidente moçambicano, Daniel Chapo, oferecido pelo Presidente da República.
“Quando se fala em Daniel Chapo, obviamente nós considerarmos que [ele] não tem legitimidade democrática, porque os resultados das eleições apresentados foram claramente fraudulentos, como representa um regime que não só condenou um povo à pobreza e à indignidade, como é um regime que tem persistido através da opressão e da repressão sobre um povo que se manifesta pacificamente”, apontou o deputado.
Rodrigo Saraiva sublinhou ainda que o Governo está em desacordo com a Assembleia da República, que aprovou um projeto de resolução que não só não reconhece o resultado eleitoral em Moçambique, como ainda exige, na sua votação final, uma investigação independente daquelas eleições.
“Estarmos a receber como se nada fosse um Daniel Chapo, isto parece-nos tudo negativo, além de que quando Daniel Chapo diz que espera que toda esta cooperação se materialize, aquilo que ele está a pedir é dinheiro”, ressalvou, considerando que Moçambique é um país “bem mais rico do que Portugal” em termos de recursos naturais, mas “essa riqueza desaparece e nunca chega à população”.
A sexta cimeira Portugal-Moçambique realizou-se hoje no Palácio da Bolsa, no Porto, com cerca de duas dezenas de governantes dos dois países.
O primeiro-ministro, Luís Montenegro, anunciou que Portugal vai disponibilizar uma linha de crédito de 500 milhões de euros para incentivar as empresas portuguesas a investirem em Moçambique.
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