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Davos: Emmanuel Macron critica o capitalismo desenfreado

O presidente francês disse que o regresso ao multilateralismo e o foco na biodiversidade, no clima e na inovação, são as respostas que o planeta espera. E as necessárias para salvar a democracia enquanto regime.
  • Cristina Bernardo
26 Janeiro 2021, 17h30

O presidente francês, Emmanuel Macron, disse na conferência de Davos – que tem lugar desde esta segunda-feira – que o capitalismo tal como se desenvolveu nas décadas mais recentes já não responde nem aos que ficaram para trás por causa do próprio modelo de desenvolvimento, nem aos desafios mais atuais, nomeadamente os climáticos.

Tendo demonstrado ser muito crítico da mais recente etapa do capitalismo – “e do seu casamento com o mercado livre”, Macron disse que o planeta precisa de uma resposta mais adequada, que terá obrigatoriamente que passar pela inovação e pela resposta ao enorme desafio das alterações climáticas.

“Temos que nos lembrar do que vivemos neste último ano”, disse – referindo-se à pandemia de covid-19: “Não podemos mais pensar na economia sem pensar no ser humano. Este período lembra-nos da volatilidade da vida – eu próprio apanhei o vírus. Temos de aprender com as lições do que aconteceu” em 2020 e que continuará este ano.

“A economia de amanhã tem de pensar em inovação e na humanidade e a competitividade tem que nos ligar a todos. A agenda da biodiversidade também tem de estar presente”, insistiu Macron. O presidente francês disse ainda que “a economia tem de ser mais resiliente e incluir elementos de resistência das cadeias de fornecimento”, por exemplo.

“O capitalismo ficou louco” nos anos mais recentes, disse ainda. Sem escamotear que o capitalismo – que os críticos apelidam como ‘selvagem’ ou ‘de casino’, teve o seu tempo e as suas qualidades, mas acabou por “criar choque entre milhões de pessoas, as que perderam os empregos e os seus sonhos”, “permitiu o enriquecimento sem criação de valor” e “desestruturou a classe média”.

Estas externalidades negativas acabaram por induzir uma clara crise da democracia, o que levou o presidente francês a afirmar que “o mundo capitalista casado com a economia de mercado já não funciona. (…) Creio profundamente que devemos remeter o modelo para novas respostas”, desistindo deste sistema em que “é o contribuinte que paga todas as crises”.

De forma coordenada, aconselhou Macron, o mundo tem de insistir no multilateralismo, como única forma de ultrapassar a crise. E deu o exemplo do regresso dos Estados Unidos ao Acordo de Paris sobre transformação climática. Macron aproveitou para criticar diretamente “a anterior administração norte-americana” pelo torpedear do multilateralismo, tendo-se mostrado esperançado que tudo “pode ainda ser recuperado”.

E se essa recuperação se der, então o imenso mundo novo – “a inteligência artificial, as teorias quânticas”, poderão então fornecer ao planeta as suas virtualidades. “As nossas economias vão cada vez mais investir nestas áreas, e vão permitir uma resposta mais rápida às alterações climáticas”. Mas, disse ainda, é preciso olhar para “a democracia” – único sistema que permite as liberdades individuais e coletivas”.

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