Era importante ter um grupo português forte no conselho de administração da empresa catalã La Seda. Foi por isso que Jorge Tomé, a pedido de Maldonado Gonelha ou Carlos Santos Ferreira, teve de estudar a operação da CGD na participação de 5% no capital da empresa espanhola, em conjunto com o Grupo Imatos Gil.
Questionado sobre esta operação pela deputada do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, o ex-administrador da Caixa BI revelou que “pese embora a valia económica do projeto, não fazia nenhum sentido que a Caixa fosse fazer um investimento em Espanha, para tornar possível que uma empresa espanhola decidisse o projeto em Portugal”.
No entanto, como “era um projeto importante para Portugal, um projeto estruturante”, a Caixa BI “devia estudá-lo”, reconheceu. “Não me lembro se foi [a pedido de] Maldonado Gonelha ou Santos Ferreira”, frisou Jorge Tomé.
Mariana Mortágua quis ainda saber se “era um projeto politicamente importante”, ao que Jorge Tomé referiu que o “assunto foi estudado” e que “no conselho de risco da Caixa, o assunto foi debatido”. Mas, ainda assim, “o nosso primeiro parecer [da Caixa BI] foi de recomendação de não investir”, afirmou.
Do ponto de vista financeiro, a La Seda “tinha todos os indicadores (…) bons”, além de uma posição relevante no mercado europeu do PET e de PTA. “Não tinha nada a apontar”, reconheceu Jorge Tomé.
O ex-administrador do Caixa BI abordou ainda o projeto de Sines, que era considerado como um projeto de interesse nacional. “Para quê investir num projeto em Espanha para o trazer para o Portugal?”, questionou Jorge Tomé. “A nossa reserva era uma reserva de política de investimentos que não competia nem à Caixa Bi nem à Caixa Capital – não têm de se pronunciar sobre a política de investimento que a Caixa pretende fazer”, explicou. Na altura, a “decisão de trazer o projeto para Sines mas não era o mais provável”.
Mais tarde na comissão de inquérito, Duarte Pacheco, deputado do PSD quis se a Caixa BI alterou a sua posição quanto à operação de participação da Caixa no capital da La Seda.
“A Caixa BI não alterou a sua posição”, respondeu Jorge Tomé. “A reserva da Caixa BI era sobre a natureza da operação. Caixa BI tinha que de ter a opinião técnica e essa opinião a Caixa BI não mudou. Fomos sempre acompanhados por especialistas internacionais no setor petro-químico. Naquele momento a La Seda era uma empresa boa”, disse.
Depois, o ex-administrador da Caixa BI disse que, no primeiro trimestre de 2008, se não se poderia ter reequacionar o projeto de Sines. “A informação que tínhamos não era muito diferente da informação que tínhamos em 2007. Mas admito hoje que se o processo não contivesse o estatuto de grande projeto para Portugal, admito que o pudesse ser admitido”, disse Jorge Tomé.
No entanto, no terceiro trimestre de 2008, Jorge Tomé revelou que “as coisas seriam muito diferentes”, porque nessa altura “tínhamos mais informações sobre a La Seda e depois o mercado PET/PTA caiu abruptamente”.
O Grupo Imatosgil, através da Selenis, pediu mais de 100 milhões de euros à CGD para participar no aumento de capital da La Seda em 2007. A operação acabou por custar à Caixa mais de 400 milhões de euros.
OPA da Sonae sobre a PT abaixo dos 11 euros era um mau negócio
Jorge Tomé, que esteve na Portugal Telecom (PT) em representação da Caixa BI, falou também sobre a OPA que a Sonae lançou à operadora de telecomunicações. “Eu agia como administrador da PT”, explicou. “Quando esse processo começou, eu tinha contactos normais com os representantes do Estado na PT. Não me apercebi de qualquer pressão do Governo relativamente a essa operação”.
O ex-administrador da Caixa BI disse que a sua intervenção no processo consistiu em “apresentar um relatório de avaliação ao conselho de administração da Caixa”, sendo que nesse relatório, a avaliação às ações da PT situou-se no intervalo “entre 10,5 euros a 11,5 euros por ação”.
“A avaliação que eu próprio tinha feito, com base no relatório de avaliação do Caixa BI, o valor oscilava entre os 10,5 euros e os 11,5 euros. Tive conversas bilaterais com o presidente da PT e o que lhe transmiti foi que, se o valor da oferta atingisse os 11 euros, a minha posição (…) era a favor da OPA”, revelou. No entanto, como a proposta da Sonae ficou nos 10,5 euros por ação, quer era o ponto mínimo do intervalo, “para mim [a OPA] não era um bom negócio”, reconheceu Jorge Tomé.
(atualizada às 17h27 com mais informação)
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